China e a antiética prostração do mundo capitalista perante ela



A China é apontada unanimemente pela comunidade internacional como a superpotência do futuro, candidata a ultrapassar os Estados Unidos em PIB e, muito provavelmente, mais posteriormente em poder geopolítico.

Três pontos são necessários de se apontar: primeiro, a que custo para a humanidade e o meio ambiente contidos no seu território? Segundo, é uma pena, é motivo de tristeza, que isso vá acontecer. Terceiro, já estamos sentindo os poderes dessa potência com tal força que infelizmente já se tornou quase impossível derrubarmos o poder da ditadura chinesa ou mesmo nos livrarmos do jugo dos seus tentáculos econômicos.

Se mesmo uma pretensa democracia já causou, enquanto país mais poderoso do planeta, tantos problemas com plantio de ditaduras, empobrecimento dos povos, endurecimento da nocividade do capitalismo e promoção de guerras, imaginemos o que deverá acontecer quando uma tirania, um poder totalitário que reprime oposições tão violentamente, assumir a hegemonia econômica e geopolítica do mundo.

A China mostrou que, num mundo em que a economia não quer saber de critérios éticos para prosperar, a união entre totalitarismo e capitalismo deu tão certo que os CEOs de todo o planeta correram para montar lá suas filiais e/ou estabelecer contratos com importadores. O mundo manda a ética e a justiça às favas e admira o Capitalitarismo – capitalismo mais totalitarismo – com entusiasmo e brilho nos olhos.

Não importa que:
- os baixíssimos custos dos manufaturados chineses só existam graças ao trabalho exorbitante dos(as) operários(as), à extração predatória e insustentável de recursos naturais como matérias-primas e às imensas poluições geradas;
- grande parte da população urbana trabalhe em regime análogo à semiescravidão, com salários irrisórios, jornada de trabalho exorbitante, descanso muito reduzido e sem liberdade de promover greves;
- trabalhem em excesso e amordaçados e, caso reclamem, sejam espancados por policiais controlados pela ideologia semifascista da tirania dali;
- o mundo não possa saber muito, por causa da censura oficial, dos absurdos impostos contra os(as) trabalhadores(as) nas dependências industriais das tantas empresas alojadas naquele país;
- tantos mineiros morram, sem segurança e sem um mínimo de compadecimento, em trágicos acidentes nas minas que fornecem o extremamente poluente carvão mineral de que a China ainda hoje tanto depende;
- essa mesma indústria vitalmente dependente dos ossos negros (carvão) e do sangue negro (petróleo) esteja promovendo uma implacável poluição e uma devastação sistemática no meio ambiente, com destaque para o status chinês como nação que mais polui a atmosfera com gás carbônico no mundo e a gigantesca Hidrelétrica de Três Gargantas, que inundou uma significativa área natural;
- o governo tirânico chinês leve a cabo uma política de repressão a etnias minoritárias que sonham com soberania, mais evidentemente contra os povos tibetano e uighur;
- a mentira e a manipulação dominem grande parte do noticiário que o governo libera para o exterior;
- haja um complexo sistema de censura, com um verdadeiro “Ministério da Verdade” orwelliano ocupando dezenas de milhares de funcionários censores a bloquear temporária ou definitivamente sites oposicionistas ou populares e violar o conteúdo de blogs pela deleção de posts;
- se hesite tanto em criar uma legislação de proteção animal, sendo a China o país que explora, brutaliza e mata animais de formas mais variadas e escandalosas no mundo.

O mundo capitalista não se importa se a China é um inferno em relação a direitos humanos, não-humanos e ambientais. Ele louva aquela economia, o Capitalitarismo, que cresce por fatores que dinheiro nenhum pode compensar. Admira a ascendente Pax Sinica, muito embora ela se sustente tão abusivamente quanto a Pax Romana.

Por isso tudo, é muito uma pena que aquele país esteja se tornando a menina-dos-olhos da economia e, dentro de não muito tempo, da geopolítica. Nunca foi bom ver o planeta “regido” por superpotências, e muito menos o será vê-lo guiado pelo progresso de um implacável governo ditatorial. Reitero que, se já tivemos sérios problemas com os “democráticos” Estados Unidos durante a Guerra Fria e a Era Bush, só é possível vislumbrar um mundo pior sob o comando geopolítico de um governo totalitário.

O mais triste de tudo é que, se até pouco tempo atrás era possível viver evitando comprar produtos chineses, hoje esse boicote total já não é mais possível. Em muitos ramos industriais, já não há mais a oportunidade de optar pelo produto de acordo com a nacionalidade. Que o digam o mercado de lâmpadas fluorescentes de 15W e o da grande maioria das peças de computadores.

Ainda é possível evitar esse ou aquele objeto que venha escrito “Made in China” ou “Produzido na China”, mas isso já se tornou impossível para tantos outras espécies de produtos. Sendo assim, mesmo o boicote, método tão poderoso – se adotado por uma população significativa – de oposição a abusos corporativos socioambientais e éticos, não representa uma ameaça à pujante indústria chinesa.

É dela, aliás, que todo o mundo capitalista está se alimentando. Tantos produtos só baratearam porque passaram a ser importados da China e deixaram de ser produzidos localmente. Um sem-número de empresas industriais tornou-se extremamente dependente do fornecimento chinês. Se um país cortasse relações comerciais com esse “dragão maligno”, muitas e muitas companhias sofreriam severa crise de inanição pelo corte do fornecimento de peças e produtos inteiros.

O que podemos concluir é que nós próprios que dependemos de tecnologia já nos tornamos dependentes do Capitalitarismo chinês. Ou melhor, cúmplices à força, reféns, das maldades que acontecem lá dentro. Ou alimentamos a glória de uma economia encabeçada por ditadores opressores ou ficamos desprovidos de muitos itens necessários à vida urbana.

No momento não há muito o que nós fazermos individualmente contra a opressão chinesa, fora educar nossos(as) próximos(as) e conhecidos(as) sobre como ela é cruel e deveria ser combatida como possível. Novas estratégias de oposição internacional poderão surgir de sociedades suficientemente cientes do problema, e só então poderemos pensar e discutir sobre como deveremos ajudar a China a se libertar do jugo capitalitário e a começar a valorizar a ética e os direitos atualmente negados.
Autor: Robson Fernando


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