Alienação na sala de espera



Quem frequenta lugares que demandam uma espera, como salões de beleza e consultórios médicos particulares, sabe as opções de distração que existem para a pessoa aguardar atendimento. Seja em salas confortáveis, seja dentro do único cômodo do recinto, é mais que esperado que encontremos a nosso dispor um televisor, sintonizado quase sempre nas emissoras mais populares ou num DVD tolo, e um punhado de revistas, geralmente de fofocas, novelas e carros e menos comumente de notícias voltadas para as classes média e alta.

Considerando a inutilidade (in)formativa das revistas não-jornalísticas geralmente disponíveis nesses lugares e a manipulação a que o jornalismo da TV aberta e das revistas mais comuns lá nos submetem, é de se refletir: salas de espera são recantos onde se reforçam a alienação e a estagnação intelectual. Não é por culpa das pessoas que não têm alternativas melhores, mas sim justamente dessa falta de opções quanto ao que ler e ver, da falta de costume cultural de se dispor ali de meios realmente construtivos de informação e provisão de conhecimento.

As pessoas abençoadas pelo hábito de ler livros e levá-los consigo para qualquer cantinho de aguardo são as únicas protegidas do adormecimento cerebral que essas revistas e canais televisivos de última categoria promovem – ou nem isso, quando a sala é pequena e o volume da TV está alto, interferindo na leitura do bom livro. Já as demais, coitadas, estão condenadas a viver por talvez horas numa prisão abstrata, uma cela minúscula e tortuosa onde só existem revistas como Caras, Contigo, Minha Novela, Tititi, Quatro Rodas e Veja e uma TV transmitindo Globo, Record, SBT ou um DVD musical meia-boca.

É nessa hora que deveríamos perguntar a nós mesmos e aos/às administradores(as) dos salões, clínicas, hospitais e outros locais que demandam espera prolongada: por que sempre só vemos essas espécies de mídia?

Por que nesses recintos nunca vimos periódicos como História Viva, National Geographic, Guia do Estudante e Revista Educação, os quais provêm inestimável riqueza educativa e intelectual, nos trazem uma iluminação de conhecimento útil e construtivo, dão continuidade em nossa vida adulta à luz que a escola nos fornecia na juventude, engrandecem nosso cérebro?

Por que não temos nesses lugares acesso a emissoras educativas, como TV Cultura, TV Escola e Discovery Channel, nem àquelas que nos dão acesso ao saber sobre o que os(as) políticos(as) em quem votamos estão fazendo no momento, como a TV Câmara e a TV Senado?

Gerentes de hospitais, cabeleireiros(as) e demais responsáveis por acomodar as pessoas num cantinho de espera, lhes aconselho enfaticamente que encarem o momento de ócio a que elas estão submetidas como a chance de vocês contribuírem no aprimoramento do conhecimento delas. Vocês poderão ajudá-las a sair mais inteligentes, intelectualizadas, formadas, cidadãs.

Basta que, em vez de lhes proverem manipulação com um jornalismo conformista ou hipnose com bonitos mundos “alienígenas” que não são o delas através de revistas e televisores transmissores de “conteúdo sem conteúdo”, passem a disponibilizar emissoras educativas ou políticas e periódicos de conhecimento para lhes matar a ociosidade.

Com essas providências, a sala de espera, em vez de compactuar com a alienação e o nada intelectual que esses veículos de comunicação costumam trazer, poderá fazer a diferença para a mentalidade e intelecto dos(as) clientes que tudo o que desejam é não ficar mergulhados(as) no tédio absoluto. Em vez de mais alienados(as), sairão do recinto com o cérebro mais carregado e disposto a pensar.
Autor: Robson Fernando


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