Pólo gesseiro reduz impacto ambiental



Em menos de um ano, mais de 5 mil hectares de caatinga foram poupados no semi-árido pernambucano. Essa preservação só foi possível graças ao uso de lenha sustentável pelo pólo gesseiro do Araripe, localizado a 700 km da capital Recife. Essa nova matéria-prima é proveniente de áreas de vegetação nativa com planos de manejo florestal aprovados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama-PE) e pela Companhia Pernambucana de Meio Ambiente e Recursos Hídricos (CPRH).

O programa Mata Nativa foi responsável pela solução encontrada para o antigo problema ambiental do pólo que colocava empresários e órgãos ambientais em conflito. O Ibama propôs a implementação do manejo florestal para a retirada da madeira de forma ambientalmente correta. "Não é questão de não usar a lenha, mas de ter um plano de manejo para que seja possível contar com a caatinga para o resto da vida", afirma João Arnaldo Novaes, superintendente do Ibama-PE.

Como resultado, foi feito um cronograma de adequação do pólo gesseiro à legislação, o que gerou a interdição de 41 empresas desde o ano passado. "A questão energética é um problema da região, mas há alternativas. Inclusive o uso da poda de caju do Rio Grande do Norte, Ceará e Piauí. Após a atuação do Ibama, quase todo o setor está com licença ambiental. Há indícios de que 80% a 90% da madeira já vêm de origem legal", destaca.

A lenha sustentável reduz o impacto ambiental sobre a caatinga e também o número de autuações e multas ambientais na região. "O plano de manejo florestal se transformou em importante ferramenta de gestão ambiental", observa Novaes.

Segundo levantamento do Ibama-PE, o pólo gesseiro do Araripe consome 1,5 milhão de metros cúbicos de lenha por ano. Depois da adoção do plano de manejo florestal, 15% das empresas já estão utilizando lenha aprovada pelo Ibama-PE e CPRH do próprio pólo. Há nove meses, eram apenas 3% delas.

A lenha autorizada, oriunda da poda dos plantios de caju e algaroba de outras regiões da caatinga, é utilizada por 65% das empresas. O restante usa lenha proveniente de matas nativas derrubadas para uso alternativo do solo (agricultura e pecuária).

"Falta pouco para esse pólo atingir 100% de uso de lenha sustentável. A idéia é estimular a adoção do plano de manejo florestal, inclusive nas áreas onde se tira lenha das sobras da poda do caju e algaroba", acredita o superintendente.

O estado de Pernambuco possui 30% das reservas de gipsita do país e produz 95% do gesso consumido. São 2,8 milhões de toneladas/ano numa atividade que conta com mais de 600 empresas. A região abrange os municípios de Araripina, Bodocó, Ipubi, Ouricuri e Trindade, além de municípios nos estados do Ceará e do Piauí. O pólo emprega 12 mil pessoas diretamente e cerca de 64 mil de forma indireta, segundo dados do Sindicato das Indústrias de Gesso (Sindugesso). O faturamento das empresas alcança aproximadamente R$ 640 milhões por ano.

A gipsita serve de matéria-prima para diversas indústrias. O minério pode ser usado na agricultura, como corretivo para o solo, e depois de calcinado serve para a fabricação de cimento e gesso para a construção civil, moldes cerâmicos, nas indústrias de jóias e automotiva, na medicina, na odontologia, entre outras.

Apesar de todas essas possibilidades, no Brasil o produto ainda é pouco utilizado, se comparado à Europa e Estados Unidos. Enquanto aqui o consumo é de 15 quilos por habitante/ano, na Europa esta proporção é de 80 quilos por habitante/ano e nos Estados Unidos, o maior consumidor de gesso do mundo, chega a 118 quilos pro habitante/ano.

"Nossa cultura de construção é portuguesa, de pedra, de casas que têm que durar cem anos. Nos Estados Unidos e na Europa há uma mobilidade maior. Mas a perspectiva é que com as novas tecnologias a gente consiga conquistar mais espaço na construção civil, que hoje em dia ainda faz paredes muito pesadas", destaca o presidente do Sindugesso, Josia Inojosa Filho.

De acordo com Inojosa, a expectativa é que o consumo cresça em torno de 15% a 20% este ano. "O Sudeste consome 45% do gesso produzido no Brasil. O consumo per capita deve passar para 17 kg por habitante por ano. Em Pernambuco, deve ir de 4% para 7% do total, devido ao aumento do uso na construção civil e em outras atividades", aposta.

Segundo o presidente do Sindugesso, um dos grandes entraves para o crescimento do pólo gesseiro é a dificuldade de escoamento da produção. "O grande futuro vai ser a Transnordestina. Com a ferrovia, as empresas vão poder escoar a produção de forma mais fácil. O custo com transporte é muito alto e impede o setor de ser competitivo", avalia.

Com a Transnordestina fazendo a ligação entre as regiões com o transporte multimodal, utilizando trem e navio, a tendência é triplicar a produção. "O que hoje fica entre 400 mil e 600 mil toneladas/ano, tem potencial de se transformar em até 1,8 milhão de toneladas/ano, só para a indústria de cimento. Levamos entre sete e dez dias entre o pedido e a entrega do produto no Sudeste. Com a ferrovia poderíamos ter um centro de distribuição", diz Inojosa.

Quando estiver pronta, a Transnordestina terá 1.860 quilômetros, ligando os portos de Pecém (CE) e Suape (PE) a Eliseu Martins, no Piauí. Há previsão de entrega de 1,1 mil quilômetros até 2010.

Fonte: www.sertao.tur.br
Autor: Paulo Ricardo


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