Teoria das Restrições e Lean Manufacturing



Fala-se muito hoje em redução de custos e aumento de capacidade produtiva com a aplicação de novos sistemas de produção. Em uma análise mais ampla, existem alguns tipos de sistemas de produção que propiciam essa melhoria. E dois deles são a Teoria da Restrições e o Lean Manufacturing. Porém, sempre existe dúvida entre estas duas abordagens. Afinal, qual é o melhor para aplicar em uma indústria? Os conceitos filosóficos do Lean Manufacturing ou a análise mais concreta e objetiva da Teoria das Restrições? Bom antes de responder a esta pergunta é melhor fazer algumas considerações.

A Teoria das Restrições (TOC - Theory of Constraints) está baseada no livro “A Meta” do Israelense Eliyahu Goldratt que trabalhou com o problema da administração da produção. O conceito que ele desenvolveu é simples: a indústria deve ser tratada como um sistema de componentes interligados, onde há uma relação de dependência. Esses são os processos produtivos. O desempenho do sistema é totalmente dependente do esforço em conjunto de cada componente. Assim, o desempenho do sistema será de acordo com o desempenho do componente mais fraco, isto é, quem dita o ritmo é o processo de menor velocidade. Dessa forma, a restrição (ou gargalo) é o componente em que deve-se melhorar, visando a eliminação dessa restrição. Aumentando a velocidade do componente restritivo, irá consequentemente aumentar a velocidade do sistema global. Porém, neste momento irá criar-se uma nova restrição. Trabalhando-se nesta segunda restrição, aumenta-se a velocidade do sistema e cria-se uma nova restrição. E assim sucessivamente. A principal ferramenta da TOC é a Cronoanálise, que dá suporte à definição de gargalos e parâmetros para aumentos de desempenho. E, sem dúvida, a aplicação da TOC gera saltos de produtividade enormes e resultados muito rápidos em curtos espaços de tempo. A aplicação dessa metodologia melhora tão significativamente a produção que Goldratt investiu na aplicação do mesmo conceito na logística, projetos e outras áreas de apoio, tornando-se referência para a otimização contínua de processos produtivos. Ainda hoje é fonte de estudos e de aplicações bem sucedidas.

Numa ótica diferente, o Lean Manufacturing, ou Manufatura Enxuta está baseado na evolução do Sistema Toyota de Produção. Tem como principal bibliografia ocidental o livro “A Máquina que Mudou o Mundo” de James Womack e Daniel Jones que, entre outros assuntos, definiu o termo Lean Manufacturing. O conceito torna-se mais filosófico, porém apoiado por várias ferramentas. A base do Lean está na eliminação de desperdícios baseada na visão do cliente final. Assim, dentro de um processo produtivo, é necessário definir o que é valor, isto é, o que o cliente está disposto a pagar no produto final. Assim, a análise visa descobrir os processos que realmente agregam valor para o produto final na ótica do cliente. E esses processos é que devem ser robustos e estáveis, merecendo mais investimentos. E, inversamente, os processos que não agregam valor, devem ser avaliados para serem reduzidos ou completamente eliminados. É um conceito filosófico porque possui uma base muito forte na aceitação da idéia por todos os integrantes da fábrica, já que as pessoas tornam-se a chave do sucesso. E para isso, também existe uma gama de ferramentas que auxiliarão nessa eliminação de desperdícios. O sucesso na implantação do Lean hoje em indústrias está muito baseado na resposta da aplicação das ferramentas, já que a conscientização do elemento humano ainda é uma grande dificuldade.

Pois bem, e voltando à pergunta inicial. Qual é o melhor sistema de administração da produção: TOC ou Lean? Bom, posso dizer o seguinte: os dois são eficazes, porém deve-se levar em conta os objetivos do trabalho. De um modo geral, a aplicação da TOC exige uma série de pré-requisitos da indústria em que será aplicada. E em uma avaliação prática, pode-se dizer que é mais eficaz em sistemas contínuos ou de grande volume, isto é, com alta produção e baixa variedade. No caso contrário (alta variedade), a TOC atinge uma complexidade muito grande, exigindo muito mais investimento para o controle do sistema de restrições e cronoanálises do que na própria linha de produção. Deve-se considerar também a questão dos gargalos, que devem estar dentro da fábrica, já que a TOC trabalha de dentro para fora, isto é, visando inicialmente um aumento produtivo para depois avaliar se há mercado para absorver a nova demanda. É um bom sistema de produção, desde que muito bem avaliada a sua implantação, porém exige muitos cuidados e pré-requisitos. Já o Lean Manufacturing é mais genérico. Apesar de ter nascido na indústria automobilística, seus conceitos já atingem a maioria dos segmentos onde haja processos, já que sempre haverá desperdícios e clientes. Isso faz com que sua aplicação invada outras áreas como comércio e serviços. Por esse motivo, aliada à sua característica filosófica, sua aplicação tornou-se moda no mundo. Mas isso não a redime de cuidados. Como os pré-requisitos são poucos, a atenção foca nas pessoas. Todos sabemos que mudanças de cultura de indústrias e métodos de trabalho exigem um esforço maior de todos os integrantes do sistema. E pessoas... nem sempre são fáceis de convencer. E isso torna-se o principal empecilho para que o Lean funcione corretamente. O Pensamento Lean não é fácil de ser adquirido.

Então, pode-se dizer que os dois sistemas de produção podem ser aplicados, mas de acordo com uma boa análise e planejamento, onde deve-se considerar os objetivos da implantação. É necessário levar em conta as características produtivas, a cultura da empresa e o mercado onde atua, entre outros detalhes que aparecem num bom plano de implantação de um sistema produtivo. E nem sempre esse plano existe ou é considerado pela alta administração industrial, fazendo com que ocorram muitos erros de implantação. Não que o sistema eleito seja ruim, mas se não for bem planejado, pode trazer más conseqüências. Por esse motivo, antes de aderir à nova moda, seja da Teoria das Restrições ou do Lean Manufacturing, estude a sua fábrica e faça um bom planejamento de implantação. Assim, a chance de acertar será bem maior.

Edson S. Maciel Teixeira
twitter: @esmteixeira
Autor: Edson S. Maciel Teixeira


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