A Energia da Terceira Idade



A energia da terceira idade
Atividades em grupo podem minimizar os efeitos da exclusão social e aumentar a auto-estima de pessoas idosas

DIONEIA MORATO/ Cientista social e radialista




A terceira idade é compreendida como fruto do processo crescente de socialização da gestão da velhice e passou da esfera privada e familiar para uma questão pública (Debert, 1997). Atualmente, verifica-se por meio de dados epidemiológicos, que está ocorrendo um crescimento da população idosa como conseqüência da diminuição da taxa de mortalidade e declínio da fecundidade. Essas transições afetam diretamente, e de forma significativa, a estrutura etária da população e, consequentemente, intensificam os problemas de uma determinada sociedade. Como receber com dignidade e condições esse grupo que cresce cada vez mais?
A população de idosos no mundo, segundo a Organização Mundial de Saúde, em 2000, pode alcançar uma expectativa de vida de 73 anos até 2025. No Brasil, aos poucos, a importância sobre o conhecimento da população idosa vem despertando o interesse dos estudiosos. O brasileiro está envelhecendo, e o perfil do idoso, mudando. Ultrapassar a barreira dos 60 anos não significa mais o fim produtivo, mas a oportunidade de recomeçar. No início do século 20, o tempo de vida médio do brasileiro era de 33 anos. Essa média subiu para 71,3 anos em 2003, contra 70,5 em 2000. Segundo o IBGE, o país deve alcançar o patamar de 80 anos de expectativa de vida por volta de 2040, sendo a Região Sul a terceira em número de idosos.
Na microrregião de Santa Maria, em 2000, a população idosa teve um crescimento bastante acentuado, representando cerca de 10% da população total que era de 349.454 pessoas. O rápido crescimento da camada com mais de 60 anos se deve ao avanço da área da saúde, com destaque para a genética e a geriatria. Porém, ainda há muito a se fazer por estas pessoas.
No Brasil, esse fenômeno ocorreu em apenas 30 anos. As instituições, o casamento, o Estado, as empresas, os sistemas de saúde e previdenciário vêm de uma época em que apenas 3% das pessoas ultrapassavam a barreira dos 65 anos.
Segundo Mazo Lopes Benedetti (2001), o termo terceira idade surgiu nos anos 60, com o objetivo de dar uma identidade positiva aos idosos com 60 anos ou mais. A terceira idade surge procurando retirar os aspectos carregados de preconceitos relativos à velhice, buscando criar representações sociais, mostrando dinamismo, preocupação com o lazer, estabelecendo relações sociais em participar de atividades que ofereçam qualidade de vida. Muitos foram os avanços, mas ainda há o vício de rotularmos nossos idosos, principalmente na área urbana, onde, muitas vezes, são vistos como um fardo para ser sustentado. Esquecemos, porém, que eles, não são improdutivos e que podem realizar atividades - não com o mesmo vigor, mas com a mesma vontade de antes.

O Estatuto do Idoso é um avanço para os mais velhos

Fator importante para essa camada da população o Estatuto do Idoso, que entrou em vigor em 2004, também é considerado um avanço, pois se pressupõe que todos envelhecerão um dia. O estatuto pune agressores e também aqueles que são negligentes para com os idosos, garante acesso gratuito ou pela metade do preço a programas culturais, ao lazer bem como ao atendimento de saúde e direitos jurídicos. Apesar de tudo isso, o estatuto não é conhecido por todos nem tem seus benefícios e leis aplicados.

O envelhecimento está associado a uma variedade de limitações físicas e psicológicas. Isso, freqüentemente impede os indivíduos de desenvolverem certas ações (Shepard, 2003). Dependendo de sua motivação, circunstâncias ambientais e reações à incapacidade, os que são afetados podem ficar inválidos (tanto física como mentalmente) e incapazes de desenvolver atividades desejadas. A conseqüência desse fato é uma deterioração na qualidade de vida do idoso e incentiva sua baixa auto-estima e exclusão. Os idosos, nas diferentes camadas, segmentos ou classes sociais, vivem a velhice de forma diversificada, como se o fim da vida reproduzisse e ampliasse as desigualdades sociais. Considera-se ainda que o aumento da população idosa em nossa sociedade constitui-se, no momento, num problema de saúde que poderá ser ainda maior, com o decorrer do tempo. Diante disso, é preciso, além da perspectiva adotada, que ações dos profissionais da saúde e das Ciências Humanas sejam dirigidas à transformação dessa realidade, não apenas enfocando a velhice, mas todas as fases da vida, nas suas diferentes abrangências: habitação, educação, saneamento, previdência e outros.

Hoje, um para cada 20 brasileiros têm 65 anos

Em estudos sobre o envelhecimento da população brasileira, identificou-se que, na virada do século, deveria haver no país 8,7 milhões de pessoas com 65 anos, o que quer dizer que um em cada 20 residentes no país seria idoso e que, 20 anos mais tarde, essa relação seria de um para 13. Portanto, deve merecer, cada vez mais, o interesse dos órgãos públicos, dos formadores de políticas sociais e da sociedade em geral, o crescimento da população idosa no Brasil, devendo-se levar em consideração, principalmente, as características demográficas, econômicas e sociais. Diante dessa realidade, novas demandas por serviços, benefícios e atenções constituem-se em desafios para os governantes e para a sociedade do presente e do futuro. É uma oportunidade para os idosos reformularem sua história com novos conceitos (Berquó, 1999). As representações do papel do idoso têm se mostrado diferentes na sociedade atual, visto que a representação velhice, como processo de perdas, tem sofrido uma inversão, sendo essa etapa valorizada e privilegiada, tendo em vista as novas conquistas, em busca de prazer, da satisfação e da realização pessoal.
O aumento de oferta de programas voltados para a população mais velha e o investimento da mídia no assunto têm impulsionado esse novo mercado de consumo. Entretanto, a situação dos idosos no país mostra uma grande diversidade, propiciando a exclusão daqueles que não compartilham das mudanças atuais.
Conforme Pereira (2003), é importante que o idoso experimente a resistência e o limite de suas forças, o prazer de transformar o seu corpo num instrumento para extravasar suas emoções e seus sentimentos. Chaimowicz (1998) diz que é imprescindível investir em programas aos idosos. O indivíduo é um ser gregário e, durante seu desenvolvimento, passa por diferentes grupos: família, amigos, escola e trabalho. O idoso, no decorrer de sua vida já transitou por todos esses grupos, devendo ter todas as condições internas e a necessidade de se filiar a um grupo de pessoas iguais a ele. No processo de grupo, por meio das múltiplas relações que se dão entre seus componentes, o objetivo é a integração do indivíduo no grupo, possibilitando sua extensão como membro operante deste, de sua família e de sua comunidade.
Pela formação de um vínculo com os elementos do grupo, os quais dão segurança, apoio, compreensão e liberdade entre si, é que se alcança o objetivo almejado: dar condições de desenvolvimento aos componentes. Um grupo só se torna grupo quando tem determinado tipo de relacionamento, um vínculo, uma força que dá a ele um sentido de pertinência; uma força que regula a conduta dos membros e os faz comportar-se de maneira peculiar, distinta de interação individual e de outro grupo qualquer. É por meio das experiências, das interações e das oportunidades de vivências que surgirão mudanças no comportamento, tanto do indivíduo quanto dos elementos dos sistemas. É no grupo que o indivíduo reconhece valores e normas, tanto seus como dos outros. Tudo isso foi percebido durante minha pesquisa de monografia, coordenada pela professora Maria do Carmo Silva, com o Coral Vertente de Prata, de São Sepé.

A importância de uma turma na vida do idoso

Os anos vão passando e chegam as perdas de pessoas queridas, a aposentadoria. Por uma série de motivos, os indivíduos acabam não refazendo seus contatos e ficam sem grupos, sejam os familiares, de trabalho, lazer ou outros. Há a necessidade de fazê-los participar de novos grupos e ajudá-los a se enquadrar naqueles que maior satisfação vão lhes proporcionar. Para as pessoas da terceira idade, o sentimento de pertencer a um grupo é valioso, dado às tendências ao afrouxamento dos vínculos sociais e o surgimento da solidão, tão comuns em decorrência da aposentadoria, independência dos filhos, viuvez, perdas afetivas etc. O grupo aparece como um meio favorecedor da socialização com conseqüentes trocas afetivas e motivações para buscar novas atividades e realizar velhos projetos (Assis, 2002).
O idoso sente necessidade e valoriza as atividades em grupo, pois, segundo Cavallari & Zacharias (2003), ele precisa se sentir integrado socialmente. O grupo deve priorizar a sua participação e estimular o bom-humor e o prazer dos indivíduos. Todos nós participamos de experiências grupais e estamos constantemente nos relacionando com outras pessoas; com os mais diversos objetivos. Existem grupos ligados às igrejas, partidos políticos, sindicatos, escolas, fábricas, entre outros. São formas de organização da sociedade que refletem e participam dos embates que acontecem no seu meio. Com os idosos, os grupos não são diferentes. Para Géis (2003), atividades na terceira idade fazem com que o idoso se comunique melhor com os outros e enriqueça a relação com o ambiente que o cerca. Essas atividades devem ser integradoras, favorecendo o contato social e gerando autoconfiança e satisfação.

A constituição do grupo pode requerer a presença de um profissional. O trabalho do mesmo será ajudar que as pessoas envolvidas na experiência pensem o processo que estão vivenciando. Pensar cada um participando de um mesmo barco que busca estabelecer uma rota. Se o porto não é seguro, o grupo acaba. Enquanto o grupo persiste é um eterno navegar. Alguns sociólogos definem grupo como um sistema ou unidade de interações humanas, composto por pluralidade de pessoas. Muitos idosos não conseguem continuar desempenhando suas tarefas, mesmo com uma saúde boa. Este é o primeiro impacto do envelhecimento: a perda dos papéis sociais e o vazio, experimentado por não encontrar funções. Eles sentem angústia, decepção e sofrimento.

Numa época em que, para muitos idosos, pensar no futuro ainda remete a cair nesses sentimentos e na falta de expectativa, o grupo surge como um sentido para a vida, estabelecendo uma rotina com a participação em atividades diversificadas e com o encontro de amigos. O envolvimento no grupo devolve expectativas, perspectivas, planos e objetivos para o futuro.



Referências bibliográficas
Algumas Considerações sobre o Envelhecimento da População no Brasil, de E. Berquó. In: Néri. AL, Debert. GE, Berquó. E, Oliveira.MC, Simões. JÁ, Cachioni M, e tal. Velhice e sociedade. São Paulo (SP): Papirus, 1999.
Os Idosos Brasileiros no Século 21: Demografia, Saúde e Sociedade, de F. Chaimowicz. Belo Horizonte: Postgraduate, 1998. 92p.
As Representações Sociais (estereótipos) do Papel do Idoso na Sociedade Atual, de G. G. Debert (1996). Em Ministério da Previdência e Assistência Social (Org.), Anais do I Seminário Internacional. Envelhecimento populacional: uma agenda para final de século. Brasília, DF.
O Processo Grupal. Psicologia Social: O Homem em Movimento, de S. T. M. Lane. São Paulo: Brasiliense, 1986.
Atividade Física e o Idoso - Concepção Gerontológica, de Giovana Zarpellon Mazo, Mariaze Amorim Lopes e Tânia Bertoldo Benedetti. Porto Alegre: Sulina, 2001.
Autor: Dioneia Morato


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