A nova onda imobiliária



Valor Econômico
Eu&Investimentos
7/2/2006

A queda dos juros e a ex­pectativa de expansão da economia do país estão aumentando o interesse por papéis ligados ao mercado imobiliário. Só nesta semana, duas empresas do setor iniciam ofertas de ações que po­dem chegar a R$ 1.646 bilhão, e que se somam à da Cyrela, que em ja­neiro captou R$ 902 milhões, e à da Company, que deve ir a mer­cado em breve.

As ofertas de ações são um dos sinais do inicio da valorização dos ativos imobiliários de uma forma mais ampla, diz Marcelo Rabatt, sócio da consultoria RiskOffice. "Não entendo isso como uma bolha, é um processo claro de melhora do país”, explica. Depois dos títulos públicos, das ações e dos papéis de crédito de empresas, os imóveis se­riam a quarta onda de valorização.

O investidor estrangeiro terá um papel importante nesse pro­cesso, diz Rabatt, dando, como exemplo a oferta da Cyrela, onde os recursos externos responderam por mais da metade (R$ 565 mi­lhões) do total vendido. “'Eles estão entrando em imóveis via ações, pois é um mercado que conhecem e que já conta com um bom grau de governança corporativa." O pas­so seguinte devem ser fundos e Certificados de Recebiveis Imobi­liários (CRIs). A isenção para as pessoas físicas também vem au­mentando o interesse desses aplicadores, especialmente dos clien­tes de
alta renda ou private.

No ano passado, até setembro, o escritório Navarro, Bicalho Ad­vogados recebeu apenas uma consulta para a criação de fundos imobiliários. Em dezembro, a procura disparou e chegou a seis consultas, sendo que duas estão em andamento, diz Alexandre Ta­deu Navarro, sócio do escritório, acrescentando que a maioria das operações é voltada para o inves­tidor de varejo. A pessoa física conta com isenção nos rendi­mentos de carteiras imobiliárias. Olhando para outros tipos de projetos, como CRIs, a procura por informações triplicou, afirma. "Percebemos um interesse grande no ultimo trimestre do ano passa­do por parte de construtoras e incorporadoras que nunca haviam procurado a securitização para fi­nanciar seus projetos”, diz ele.

Uma das causas do maior inte­resse está nas vantagens dadas pe­la chamada MP do Bem, aprovada no fim do ano passado. A isenção para as pessoas físicas que vendem seu imóvel para comprar um novo estimulou a troca de residências e levou a um aumento da ordem de 20% nas vendas de apartamentos novos na cidade de São Paulo, esti­ma Navarro. Além disso, os bancos estão competindo para financiar os compradores, o que reduziu as taxas de financiamento, de 14,5% no final de 2005 para 11% este ano. No caso dos fundos imobiliários, Navarro acredita que as primeiras carteiras dessa nova leva, que che­gam a até R$ 300 rnilhões, devem ir a mercado por volta de maio.

Uma das empresas que devem estar com um fundo imobiliário na praça ainda neste semestre é a Brazilian Mortgages, diz seu dire­tor Fábio Nogueira. Segundo ele, pelo menos mais dois fundos devem ir a mercado este ano, todos voltados para o varejo. “Antes atendíamos um private por ano, agora é um por semana", afirma Noguei­ra, destacando que os clientes de maior renda estão pressionando os bancos para obter informações sobre as aplicações, especialmente por conta da isenção fiscal.

No ano passado, os CRIs registrados na CVM atingiram R$ 2 bi­lhões, um valor que, mesmo des­contando uma operação do Pão de Açúcar, de R$ 1 bilhão, representa uma quantia expressiva. Os fundos de recebíveis voltados para o setor imobiliário (FDICs) acumulam sal­do de R$ 732 milhões em um ano e meio. E há uma expectativa de crescimento maior desses ativos com a redefinição das regras do se­tor pela Comissão de Valores Mo­biliários (CVM), o que pode acon­tecer ainda neste semestre.

Segundo Carlos Alberto Rebello Sobrinho, superintendente de Re­gistro de Valores Mobiliários da CVM, uma nova proposta deve en­trar em audiência pública neste trimestre, com mudanças que po­dem facilitar as ofertas de CRI para o varejo Hoje, a maioria dos CRIs tem valor mínimo de R$ 300 mil. A idéia é dar alguma flexibilidade à exigência de que nenhum devedor tenha mais de 0,5% do projeto to­tal. A idéia é permitir maior con­centração, mas em contrapartida dar mais informações sobre os de­vedores. Rebello lembra que os investidores devem tomar cuidado, porém, com a falta de liquidez dessas aplicações, tanto CRIs quanto de fundos imobiliários, e que elas devem ser vistas como uma forma de aplicação de longo prazo.

As rentabilidades dos CRIs também estão atrativas, diz Rabatt, da RiskOffice. Os CRIs corporativos pagam um pouco mais que os resi­denciais e, entre estes, os performados, ou seja, de prédios já construídos, são mais valorizados pelo menor risco. Os retornos oscilam de 10,5% a 11% mais o IGP-M para um CRI não performado a 8,5% a 9,5% para os performados. "Com os juros caindo para 14,5% a 15,5% ao ano, teremos CRIs e fundos imo­biliários com ganhos acima do CD1. diz Thiago Augusto Cordeiro, analista de investimentos imobi­liários da Hedging-Griffo.

*Marcelo Rabbat é diretor da PR&A, empresa especializada em Risco de Crédito, Risco de Mercado e Consultoria de Investimento

Fonte: Blog da PR&A
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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