RiskOffice aumenta consultoria para os cliente de alta renda



Valor Econômico
Investimentos
27/9/2006

A atividade de consultoria financeira independente, ou advisory, comum nos países desenvolvidos, é relativamente nova no Brasil, onde os bancos exercem o domínio quase total da gestão de recursos. Mas, aos poucos, está ganhando espaço, especialmente entre grandes investidores, como fundos de pensão, empresas e famílias de alta renda, que encontram nesse trabalho formas de fiscalizar os serviços dos bancos e assim evitar situações de conflito de interesses.

“Temos reuniões duras com os bancos para discutir desempenho e custos", afirma Marcelo Rabbat, sócio da RiskOffice. Fundada há sete anos, a RiskOffice tornou-se uma das maiores empresas de consultoria de investimento e risco do mercado. São cerca de 130 fundos de pensão, 10 seguradoras, 40 empresas não financeiras e 25 holdings familiares que usam os serviços da empresa para acompanhar o desempenho de fundos de investimento — são 3 mil carteiras acompanhadas —, avaliar o risco e o retomo dos gestores na hora de aplicar, acompanhar o trabalho dos private banks na gestão dos recursos dos clientes e até comparar custos e condições de operações de hedge ou empréstimos "Aos poucos, vamos ocupando um espaço que os bancos ocupavam na prestação de serviços”, diz Rabatt.

O trabalho, que começou com os serviços para fundos de pensão, mais recentemente se expandiu para famílias que procuram a assessoria para investir os recursos vindos muitas vezes da renda de empresas. As famílias não querem deixar a gestão dos recursos apenas nas mãos dos private banks. Nesse caso, a RiskOffice faz o papel de fiscalizar como o dinheiro do cliente está sendo tratado, se há opções mais atrativas ou exageros nos custos dos serviços. “É uma situação delicada, pois o banco é, ao mesmo tempo, prestador de serviço e é quem faz o preço cobrado por ele”, afirma Rabatt.

Ele lembra do caso de um private bank que não aplicou os recursos do cliente em um fundo multi-mercado de um badalado gestor independente, apesar da recomendação feita pela RiskOffice. "Perguntamos por que e o banco respondeu que o gestor não dava ‘rebate’, ou seja, não dividia a taxa de administração com o banco", conta. “Descobrimos então que outros gestores muito bons não entravam nas carteiras dos bancos pelo mesmo motivo, o que é uma situação que traz prejuízo para o cliente", diz. Em outra ocasião, um papel emitido por uma empresa recomendado pela RiskOffice, não foi comprado pelo private do banco para os clientes porque a instituição deu prioridade para outros fundos da casa.

Outra atividade comum da RiskOffice é acompanhar as operações de hedge feitas pelas empresas que têm empréstimos no exterior. Anualmente, as empresas precisam fazer uma operação de hedge no mercado para se proteger de uma variação cambial mais forte e procuram os bancos. "Nosso trabalho é checar qual a melhor proposta em termos de custo e de condições comparando vários bancos", diz Rabbat.

A tendência é de que essa atividade cresça cada vez mais, acompanhando o desenvolvimento do mercado de capitais no Brasil, diz o economista Carlos Antônio Rocca, também sócio da RiskOffice. "À medida que o governo reduz sua dívida pública, cresce a participação dos papéis privados e do mercado de capitais, e cada vez mais empresas e pessoas terão de recorrer a consultorias de crédito e risco para decidir seus investimentos".

Estudo feito por Rocca indica que, em 2005, os fundos de pensão, investidores institucionais e fundos de investimentos tinham recursos equivalentes a 54% do PIB. Desse total, 61% estão aplicados em títulos públicos e 39% em privados. Caso o governo reduza sua divida, hoje de 50% do PIB, para 40% em 2010, a situação se inverteria: os fundos passariam a ter 40% em papéis públicos e 60% em papéis privados. "Isso equivaleria a um fluxo de recursos para o mercado de capitais de R$ 90 bilhões por ano, ou R$ 450 bilhões", diz Rocca. E, para aplicar esses recursos em papéis privados, será preciso analisar o crédito de cada empresa e o risco do papel. "Há muitos serviços hoje prestados pelos bancos que ganham importância, caso da análise de credito, por exemplo, e aí surge o questionamento quanto ao conflito de interesse do prestador de serviço e a necessidade de independência".

A atividade da RiskOffice acaba, porém, incomodando alguns bancos que, ao organizarem ofertas de ações, esperavam receber todo o dinheiro dos antigos do¬nos em seus private banks. "Agora, em vez de ter um banqueiro apenas que cuida de tudo, muitas famílias usam nosso serviço para decidir o que fazer", explica Rabbat. Uso não significa, porém, que a RiskOffice presta serviços de gestão "A decisão final do que fazer é sempre do cliente, nós fazemos um contrato onde fica definida uma política de investimentos e que serve de base para nossa orientação", explica ele. "Dentro dessa política, definimos as opções que achamos mais vantajosas e o cliente decide", diz Rabbat. "É diferente de um banco, que tem produtos ou ganha uma comissão pelos valores aplicados, nós recebemos um valor fixo", afirma o sócio Fernando Lovisotto. Depois, a consultoria faz um relatório mostrando o desempenho da estratégia adotada.

A consultoria se prepara agora para ampliar sua atuação para o segmento de previdência de Estados e municípios. "Já temos 30 clientes nesse segmento', afirma Rabbat. Clientes estrangeiros também representam um bom potencial para os próximos anos. diz o executivo. "Lá fora, é obrigatório ter uma empresa independente para calcular os preços dos ativos que os fundos e empresas compram", afirma Rabatt, lembrando do caso do México c da Itália - que colocou essa exigência na lei após o escândalo e as perdas da Parmalat. Outro segmento é o rural, onde a RiskOffice está oferecendo consultoria para usineiros calcularem preços e riscos do negócio "Há uma análise de mercado, do preço do produto, e outra do negócio em si, dos custos, dos riscos, que poucas empresas no Brasil fazem", explica Lovisotto.


*Marcelo Rabbat é diretor da PR&A, empresa especializada em Risco de Crédito, Risco de Mercado e Consultoria de Investimento.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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