Sem passes de mágica



Revista Investidor Individual
Agosto de 2008

As fundações que estão à espera de um milagre para alcançar suas metas atuariais em 2008 já podem perder as esperanças. "Quem não fez a lição de casa há dois anos terá dificuldade em bater a meta este ano e em 2009", afirma Marcelo Rabbat, diretor comercial da RiskOffice. Um erro, segundo ele, é que muitas carteiras deixaram de fora os títulos indexados a inflação. "A obrigação do plano é pagar e garantir a qualidade dos benefícios. E é papel do gestor olhar os ativos de inflação", comenta.

Fernando Lovisotto, diretor da RiskOffice, indica que a consultoria faz estudos anuais de ALM para 100 dos 150 fundos de pensão que tem como clientes. "No último trimestre do ano fazemos a nossa recomendação e apenas um terço dos clientes a executa integralmente. Outro um terço segue parcialmente, ou seja, não executa os vencimentos sugeridos para os títulos nem o percentual a ser alocado; e o um terço restante é grave, quase não tem nada de inflação. Em alguns casos, as fundações chegam a ter 90% de CDI em carteira", conta Lovisotto. Segundo ele, mesmo com as taxas de juros subindo em 2008, este será o primeiro ano em que o CDI, sozinho, não será suficiente para que as fundações batam suas metas. Lovisotto afirma, no entanto, que isso tem um lado bom: a necessidade de se estudar novas alternativas de investimento. "As entidades não vão escapar de olhar outras opções de investimento, mesmo com os juros subindo. E existem boas alternativas, mas não dá para as escolhas serem feitas em um mês", comenta ele.
É justamente aí que mora o perigo. Na corrida atrás da meta atuarial, muitas fundações perdem a mão e acabam escolhendo o maior retorno a qualquer preço, sem pensar no longo prazo. "A procura por investimento em crédito, por exemplo, está bem maior e o apetite é de curto prazo.

Isso faz com que sejam feitas emissões mal estruturadas, de qualquer jeito. A estratégia, ao contrário, deve ser focada em um prazo maior. É preciso tempo para se montar um fundo de crédito. E quando falamos em longo prazo, falamos de um ano para frente", aponta Lovisotto. Ele alerta ainda para o risco de alocação em novas classes de ativos rapidamente. "Não se pode passar de 0% para 10% a exposição em uma nova classe de ativos em um ano", diz ele. Cerca de 23% da carteira de investimentos das fundações estão alocados em crédito privado atualmente, de acordo com o diretor da RiskOffice.

Rabbat acrescenta que há mandatos de crédito "muito bons" no mercado, que pagam de 105% a 107% do CDI, mas que "ninguém quer". "Tem gente procurando mandatos que paguem de 140% a 150% do CDI", afirma ele. "Para tirar o atraso, os fundos de pensão estão olhando para a caixa do crédito como um investimento para retorno no curto prazo, e isso é um erro", completa Ricardo Pires, sócio da PR&A. Rabbat destaca ainda a necessidade de as fundações passarem a investir em títulos de dívida privados, por conta da diminuição da disponibilidade de papéis públicos, mas ressalta, mais uma vez, que isso não pode ser feito esperando resultados da noite para o dia. "Com a escassez de títulos públicos, as fundações terão de ir em busca dos privados, mas quem está usando isso para pagar a conta do ano terá problemas", sinaliza.

Lovisotto mostra que, hoje, 67% dos recursos das fundações estão em títulos públicos. Para se ter uma idéia, esta fatia corresponde atualmente a 43% da poupança total (que inclui ainda as reservas das seguradoras, os fundos de investimentos e as entidades abertas de previdência, por exemplo) e a expectativa é de que chegue a 37% em 2011. Isso indica que cada vez haverá menos títulos públicos disponíveis, o que desperta a necessidade de migração dos recursos das fundações para outros tipos de ativos.

Renda variável- Rabbat comenta ainda que existe uma tendência de aumento dos preços dos ativos no mercado. Segundo ele, é possível ver hoje três movimentos realizados por fundos de private equity: a compra de participações em empresas via Bolsa, a aquisição de negócios de outros fundos de private equity e a participação em leilões. "Isto indica uma disputa por ativos que terá impacto nos preços. A tendência é de que este tipo de investimento comece a ficar muito caro", indica ele.

Ao comentar o desempenho ruim da Bolsa de Valores em 2008, Rabbat faz uma análise dos IPOs realizados no ano passado e afirma que muitas empresas que foram a mercado deveriam, antes, ter recebido investimentos via private equity, mas "os banqueiros dos IPOs foram mais rápidos". Há ainda um outro caso: das empresas em que nem os fundos de private equity queriam investir e, mesmo assim, acessaram o mercado via oferta inicial de ações. "Houve uma onda de IPOs no ano passado mas, em muitos casos, as empresas deveriam ter passado antes por um private equity. Há outras que nem o private equity tomaria, mas que acabaram fazendo ofertas de ações mesmo assim", analisa. Para Rabbat, tanto a disputa por ativos quanto os efeitos da onda de IPOs realizados no ano passado são "sintomas da renda variável que devem prosseguir por um ou dois anos".

Lovisotto indica que a carteira de investimentos das fundações (com exceção da Previ) tem, em média, 16% alocados em Bolsa, 47% em CDI e Selic em 37% em inflação. "Com a Bolsa não será possível bater a meta atuarial, nem com CDI ou Selic. Só com a inflação vai dar", estima ele.

Segundo Lovisotto, das 150 fundações que a RiskOffice acompanha, apenas de 20% a 22% conseguiram atingir a meta atuarial no acumulado dos seis primeiros meses de 2008. Para Rabbat e Lovisotto, é certo que algumas entidades terão de consumir parte do superávit acumulado para pagar benefícios. "O ano está dado: ou a Bolsa dá uma reviravolta ou muitas entidades não vão conseguir bater a meta atuarial", finaliza Rabatt.

Novo controle estrangeiro na RiskOffice
A canadense Algorithmics será a nova dona da RiskOffice dentro de alguns anos. Em dezembro de 2007, as duas companhias fizeram uma associação, a partir da qual a empresa estrangeira passou a deter uma participação na consultoria nacional. "Eles compraram uma fatia da RiskOffice e, aos poucos, vão adquirindo o restante", afirma Marcelo Rabbat, diretor comercial da consultoria. De um lado, a RiskOffice será a janela para os fundos de pensão estrangeiros olharem ativos líquidos no Brasil e, do outro, a capacidade de distribuição da Algorithmics ao redor do mundo levará os serviços da consultoria brasileira, em especial os estudos de ALM, para clientes internacionais.

"A Algorithmics tem uma penetração forte no mundo. Além do Canadá e do México, eles também são fortes na Ásia, Itália, Espanha e Portugal", conta Rabbat. Segundo Fernando Lovisotto, diretor da RiskOffice, a associação com a empresa de origem canadense já está rendendo frutos. "Já temos clientes lá fora estudando a contratação dos nossos estudos de ALM, principalmente do México, do Canadá e da Ásia. Alguns já estão para contratar", indica o executivo.

A despeito da associação com a Algorithmics, a RiskOffice também vem recebendo a visita de estrangeiros que querem lançar fundos de investimento no Brasil. "Esse ano já recebemos entre sete ou oito", calcula Lovisotto.

Consultoria fecha parceria com entidades de seguro e previdência
A RiskOffice vem fechando contratos que considera "estratégicos", de acordo com Marcelo Rabbat, diretor comercial da consultoria. Um deles foi firmado com a Federação Nacional de Previdência Privada e Vida (Fenaprevi), que contratou a RiskOffice para a colocação de benchmarks nos produtos de previdência aberta - Vida Gerador de Benefício Livre (VGBL) e Plano Gerador de Benefício Livre (PGBL).

"Estes produtos são muito comparados com fundos de investimento e sempre saem perdendo para quem olha apenas a rentabilidade. A idéia é colocar réguas para medir o desempenho do VGBL e do PGBL e levar em conta questões como adequação de prazo e diferimento fiscal", conta Rabbat, que acrescenta que estes produtos estão se firmando cada vez mais como instrumentos de acúmulo de recursos.

Outro contrato fechado recentemente foi com a Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (Fenaseg), para a realização de estudos de ALM do Dpvat, o seguro obrigatório que cobre Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre. "Participamos de uma concorrência e nosso preço era o dobro de outra consultoria. Mas negociamos e fechamos o contrato", conta Rabbat.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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