IRB se reestrutura e pode abrir o capital



Valor Econômico
20/12/2007
Altamiro Silva Júnior, de São Paulo

O IRB-Brasil Re, até agora o único ressegurador autorizado a operar no país, pode abrir o capital em 2008. A Bradesco Seguros e a Unibanco AIG, maiores acionistas privados da empresa, que é controlada pelo governo federal, propuseram anteontem medidas para acelerar a transformação do IRB, monopolista por mais de 70 anos, em uma companhia competitiva e com padrão elevado de governança corporativa.

Todas as mudanças são para preparar o IRB ao novo cenário que começa a se desenhar em 2008: a abertura do mercado brasileiro de resseguros ao setor externo. "É um baita desafio, pois o IRB viveu 70 anos com monopólio, sendo ao mesmo tempo ressegurador, fiscalizador e regulador", disse ao Valor Otávio Ribeiro Damaso, presidente do conselho de administração do IRB. As duas últimas funções foram transferidas a Superintendência de Seguros Privados (Susep). Ontem, foram publicadas no "Diário Oficiar” da União as resoluções para o mercado aberto.

"O mais importante neste processo todo é que os próprios acionistas (Unibanco e Bradesco) resolveram propor as mudanças", afirma Damaso. As duas seguradoras chegaram a manifestar interesse em sair do capital do IRB, mas alteraram os planos após a sinalização do governo de dar as condições necessárias para mudar a estatal. "Nossa intenção é melhorar os pontos fortes do IRB e suprimir as falhas e deixá-lo competitivo", afirma o diretor executivo da Unibanco AIG, Ney Dias. Para ele, novos aportes de capital não devem ser necessários.

A abertura de capital é encarada como uma possibilidade de garantir maior transparência para a estatal, que conhece como ninguém o mercado de resseguros e de seguros do Brasil. Um lançamento de ações, porém, ainda não está definido e precisa de aprovação da União, dona de 50% do capital. Mas todas as mudanças que vêm sendo feitas, como incrementar a governança e contratar um auditor independente para analisar o balanço, são alterações necessárias para empresas que querem lançar ações, como reconhece o próprio presidente do conselho, "Estamos preparando a empresa para a abertura. Se os acionistas chegarem a conclusão que IPO é possível, pode ser uma alternativa", disse.

Dentro das mudanças será criada uma série de comitês e cada conselheiro fará avaliação de uma área. Uma das que terá maior reformulação é a área comercial. Com o monopólio, não havia escolha. O IRB atendia a todo o mercado nacional e pronto. Agora, segundo Damaso, vai ser elaborada uma política mais clara de como será o relacionamento com o cliente.

Mudanças que já vinham sendo feitas, como a modernização dos mecanismos de gestão operacional, financeira e administrativa da empresa, vão ser intensificadas.

Ainda dentro destas mudanças, o IRB contratou a RPR Financial Services, consultoria detentora da marca Risk Office, para implementar um modelo de gerenciamento integrado de ativos e passivos (conhecido como "ALM"). O IRB já fazia um trabalho assim - que procura equalizar as aplicações da empresa com suas obrigações -, mas agora resolveu sistematizá-lo.

A Risk Office terá cinco meses para implementar o programa. "Com o cenário de melhora da economia, queda de juros e alongamento de prazos, é fundamental fazer esse gerenciamento", afirma Marcelo Rabbat*, sócio da RPR. "Com os juros em baixa, o pior dos mundos em empresas como o IRB é ter obrigações de longo prazo com ativos de curto prazo", disse ele.

O IRB também está em fase final de seleção de uma outra consultoria, que vai traçar um plano estratégico, definindo prioridades e metas para a estatal. Por fim, após todas as mudanças, quer contratar uma agência de classificação de risco para, pela primeira vez, ter uma rating.

Com a aceleração do crescimento econômico e o início de investimentos públicos e privados, a expectativa é que o resseguro (o seguro do seguro) seja muito demandado. Soma-se a isso o boom no setor imobiliário. Os especialistas falam que mercado de resseguros pode dobrar de tamanho em três ou quatro anos por causa do aumento dos grandes riscos.

Sem catástrofes naturais e em crescimento, o país deve atrair várias resseguradoras estrangeiras. A maioria delas deve vir como empresas “admitidas” (com escritório de representação) ou "eventuais" (como procurador no país). Mas os especialistas acreditam que o IRB terá dois ou três concorrentes diretos, com empresas constituídas no Brasil. "Independente de ter ou não ter outros resseguradores locais, queremos estar preparados", afirma Damaso.

No mercado, circularam rumores que o Bradesco e o Unibanco tinham interesse de criar ressegurador local. "È melhor reforçar o que temos do que começar do zero", disse Samuel Monteiro, diretor-geral administrativo e financeiro da Bradesco Seguros e Previdência, que tem 21% do capital do IRB A Unibanco AIG têm 11%.


Marcelo Rabbat atualmente é também diretor da PR&A, empresa especializada em Risco de Crédito, Risco de Mercado e Consultoria de Investimento.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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