A VISÃO



A VISÃO

Era perto do pôr-do-sol, quando ela apareceu. Veio voando, diáfana, translúcida, sublime.

Quem era, ou o que era?

Uma naiade? Uma valquíria? Uma vestal, ou elfa, ou sereia? Uma sílfide? Uma fada? Uma gnoma? Uma Ondina? Etérea? Aloexistente? Ninfa dos bosques vizinhos, trazendo o húmus, o viço, o frescor das samambaias. E corria e saltava, ou dançava.

E ria.

Riso retirado das cavernas do mundo indimensional de onde viera.

E cantava.

O cântico das idades mortas no silêncio. O cântico do vento, dos chilreios, dos arrulhos, do farfalhar das folhas, do adejar dos colibris, do roçar dos arbustos, das vozes dos animais silvestres...

Em retração e expansão e conquista dos mundos ignotos. Na percepção superior de todas as vibrações. No concreto e no irreal, no sensível e no impalpável. No real e no sonho. Em chamas e borbotões de água cristalina. Visualizando cores indizíveis, no calor das dimensões quânticas de mil arco-íris e auroras boreais.

Deslizava pelo regato cristalino, à sombra de mangueiras e tamarindos. Cercada por mariposas, borboletas, beija-flores, abelhas, libélulas e vagalumes.

Exalava o perfume das camélias, das petúnias, das rosas, dos cravos, das tulipas, das orquídeas, das violetas, dos crisântemos, dos gladíolos e dos lírios.

Ameaçava voar para longe, desaparecer, sumir no tempo e no espaço, como uma ilusão, uma visão transitória, uma sensação momentânea, uma emoção breve, uma vibração atemporal.

Provocava, ao mesmo tempo, píncaros de afeto, torrentes de carinho, desejo de gritar, de chorar, de entrar em desespero metafísico.

Inspirava esperança, anseios, sonhos, emoções, paixões, amor, medo, sensações de perda, de frustrações...

O mais difícil era destrinchar se era real, ou se era sonho, se era ilusão, ou era pura imaginação.

O que seria aquela aparição diáfana e límpida, linda e misteriosa?

E quando ela se aproximou, perguntei-lhe:

- Quem é você?

E ela respondeu:

- Eu sou o amor não sentido, o sonho não realizado, o viver não vivido. Sou o anseio do coração de todo homem, a pureza desejada, a busca inacabada, a promessa de novos horizontes.

Perguntei-lhe mais uma vez:

- Você veio para ficar comigo?

- Sim, respondeu. Ficarei com você para sempre. Você pode me ver, sentir meu perfume, escutar minha voz, até ouvir os meus cânticos, mas não poderá tocar-me. Só você saberá da minha presença. Só você poderá me ver. Só você poderá me ouvir.

- Então fiz uma pergunta infantil:

- Você é do bem ou é do mal?

- Eu sou o bem, respondeu.

- De onde você veio?

- Nasci em seu coração.

- O que você quer?

- Quero fazê-lo sorrir, gostar de si mesmo, valorizar-se, gostar dos outros, gostar de Deus...

- Então, você é um anjo?

- Pode-se dizer que sim. Vim resgatar a sua infância perdida, seus anseios tolhidos, seus idéias partidos, sua visão interior, sua pureza natural, seu amor frustrado...

- Você tem um nome?

- Sim, meu nome é Jiréia, mas nunca o pronuncie, nem fale de mim para ninguém, para não quebrar o encanto.

Depois deste diálogo, levantei a cabeça, inflei o peito, respirei profundamente e viajei entre as galáxias, estrelas, planetas, asteróides, cometas, bólidos, rios, oceanos, nuvens, florestas, relâmpagos...

E quanto olhei para trás, vi que Jiréia me acompanhava.

Foi assim que eu revivi e passei a viver nesse mundo grandioso, transcendental, divino, mais do que maravilhoso.

E a visão sobrenatural nunca mais me abandonou.
Autor: Paulo de Aragão Lins


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