RELIGIOSIDADE, EDUCAÇÃO E A PEDAGOGIA MEDIEVAL COMO ALAVANCAS PROPULSORAS PARA UMA NOVA ERA, O RENASCIMENTO



Religiosidade, Educação e a Pedagogia como Alavancas Propulsoras do Renascimento e um breve estudo que objetiva dispor e contribuir para com todos aqueles que o tema possa interessar a entender como se dava o processo de educar durante este período da história: - A Idade Média, numa tentativa de sanar qualitativamente as lacunas que esporadicamente surgem. Pretende-se também, aguçar a curiosidade daqueles que, embora intelectivos, pouco se interessam pelas questões educacionais e religiosas. Este contexto é resultado de pesquisas, leituras e análises críticas que vieram contribuir e favorecer a conclusão de que um estudo mais aprofundado da Sociedade Medieval permite compreender como a Igreja tornou-se tão poderosa e como ela conseguiu se manter no poder por mais de mil anos consecutivo e porque ela alavancou uma nova fase para a História: - A Renascença ou Renascimento.

1 INTRODUÇÃO

Segundo Oliveira (1993, p.93), “todas as sociedades conhecem alguma forma de religião. A religião é um fato social universal, sendo encontrada em toda parte e desde os tempos mais remotos.”

Durante a Idade Média, prevalecia um cenário de religiosidade. A Igreja, considerada a detentora do poder espiritual, mantinha influência psicológica no modo de pensar e agir do seu povo. A Igreja também era a detentora de um grande poderio econômico. Possuía grandes quantidades de terras e muitos servos nela trabalhando.

Responsáveis pela proteção espiritual, os monges, viviam em mosteiros onde na maior parte do tempo, rezavam e copiavam livros e a Bíblia Sagrada. Tal função destes monges, fizeram eternizar as obras literárias da Antigüidade.

Para Kant (apud DURKHEIM, 1952), “o fim da educação é desenvolver em cada indivíduo, toda a perfeição de que seja capaz”, todavia, durante toda a Idade Média, a educação era privilégio somente para alguns, visto que somente aos filhos da nobreza era garantido o direito ao estudo.

A educação era marcada pela influência da Igreja, que ensinava suas doutrinas religiosas, o latim e as táticas de guerra, que eram uma das principais formas de obtenção de poder, e um meio pelo qual a Igreja aumentava seu poderio de terras. A grande parte da população medieval não tinham acesso aos livros. Não sabiam ler nem escrever. Eram analfabetos.


2 A IDADE MÉDIA X EDUCAÇÃO RELIGIOSA

Segundo Perry (apud SILVA, 1994) “para a mente medieval, a sociedade sem a Igreja era tão inconcebível quanto a existência sem a visão Cristã de Deus...”

Da contestação às instituições sociais e políticas do Império Romano, surge o Cristianismo. Pregava-se a igualdade, o amor ao próximo e a felicidade pós morte. Sanava-se assim, os anseios dos escravos miseráveis e acabavam por conquistar inclusive a nobreza. Houve uma evolução estrondosa quanto ao poder e a importância da Igreja, todavia, da mesma forma crescia a crise do escravismo e entrava em decadência o Império Romano. A Igreja crescera materialmente acumulando bens que vinham de doações da nobreza. Na obra de Van Eyck no século XV em Silva (1994), percebe-se “o alto luxo da Igreja contrastava com a miséria das populações camponesas.”

Foram mil anos (de 476 a 1455) de um movimento consciente e ideológico que caminhava para as trevas, pois, o clero juntamente com a nobreza, praticavam atos sinistros e malévolos em todo o ocidente medieval. O clero desprezava e marginalizava toda e qualquer criança do meio rural. Eram pequenos servos que deveriam trabalhar lado a lado com adultos miseráveis. A educação religiosa era oferecida somente para os filhos da nobreza em troca de terras que seriam acrescidas ao patrimônio da Igreja.


2.1 A PEDAGOGIA MEDIEVAL

Le Goff (1984, p.44) revela em sua obra a dúvida: “Teria havido crianças no Ocidente Medieval?” E, Ariès (1960) realizou incansáveis estudos a fim de encontrar vestígios de crianças na arte medieval e não as encontrou. Logo, com os estudos de Le Goff (1984, p.45) conclui-se que elas existiram somente para a nobreza, para a burguesia. Nos estudos de Luzuriaga, (1978, p.57) na Antigüidade Ocidental a Europa era entendida como uma época de transição de técnicas adquiridas. O ato pedagógico, tinha por finalidade, pela iniciativa dos indivíduos, aperfeiçoar estas mesmas técnicas. Contudo, o mundo infantil ficou reduzido a um espaço simplório, deixando muitas perguntas sem resposta, como: - Que visão de mundo era concebido por aquelas crianças? - Como reagiam à escola? - E, como se dava a aquisição do conhecimento imposto?

Segundo Monacorda (1989, p. 85) a pedagogia não era uma ciência autônoma, mas sim, era considerada parte integrante da ética e da política, assim, eram elaboradas com base na finalidade que estas propunham ao homem. Os meios pedagógicos só eram estudados em relação ao ler, ao escrever e ao contar.

Quando percorremos nossas bibliotecas, convencidos destes princípios, que destruição temos de fazer! Se tomarmos em nossas mãos qualquer volume, seja de teologia, seja de metafísica escolástica, por exemplo, perguntemo-nos: será que ele contém qualquer raciocínio abstrato relativo à quantidade e ao número? Não. Será que ele contém raciocínios experimentais que digam respeito a matérias de fato e à existência? Não. Então, lançai-o às chamas, pois ele não pode conter ciosa alguma a não ser sofistas e ilusões. (DAVID HUME apud ALVES, 1981, p.27)



3 IGREJA INFLUENCIANDO O PENSAMENTO NO OCIEDENTE

“Para um pensador da Idade Média, o Estado está para a Igreja como a filosofia está para a teologia e a natureza para a graça” (ETIENNE GILSON apud ARANHA,1993, p.199). Embora que atualmente a Igreja não exerça tanto poder e domínio de condicionar as mentes humanas como teve durante a Idade Média, ainda possui grande influência em certas sociedades ocidentais. A sociedade brasileira é um exemplo desse fato.

A Igreja, durante toda a Idade Média, teve muita influência no pensamento Ocidental, onde o teocentrismo acabou definindo as formas de sentir, ver, pensar e agir durante o período medieval. Segundo Santo Agostinho , o conhecimento e as idéias eram de origem divina. As verdades sobre o mundo e sobre todas as coisa deveriam ser buscadas nas palavras sagradas de Deus.

No entanto, do século V ao século XIII, surge a escolástica que fora uma nova linha de pensamento de grande importância para a Europa. A escolástica era um conjunto de idéias que visava unir a fé ao pensamento racional. Propunha-se a harmonia entre a fé e a razão. E, Santo Tomas de Aquino foi o principal representante dessa nova linha de pensamento.

Dois amores construíram duas cidades: o amor de si levado até ao desprezo de Deus edificou a cidade terrestre, civista, terrena; o amor de Deus levado até o desprezo de si próprio ergueu a cidade celeste; a outra ao senhor; uma busca glória vinda dos homens; para a outra, Deus, testemunha da consciência é a maior glória. (SANTO AGOSTINHO apud ARANHA, 1993, p. 199)



4 EIS QUE SURGE UMA NOVA FASE PARA A HISTÓRIA: O RENASCIMENTO


Estudos revelam que foi no final do século XI que a Europa inicia um período social mais tranqüilo e de maior crescimento em termos populacionais. Ocorre a expansão da economia em muitos setores. Rompem-se os limites impostos até então, pelo sistema feudalista.

Com as Cruzadas, o Mediterrâneo é reaberto aos europeus e ocorre um tremendo impulso do comércio, fato que fez com que ocorresse o desenvolvimento urbano. Com isso, as crises evidenciadas no fim do período medieval não conseguiam deter as transformações que ocorriam. E assim, surge um novo tempo: A Renascença ou Renascimento.

Foi o pedagogo alemão Christoph Keller, em latim Cellarius (1638-1707), que consagrou a divisão da história ocidental em Antiga, Medieval e Moderna e divulgou a idéia de que o período medieval nada produziu de importante.(...) A História Média, segundo Keller, estendeu-se da época do Imperador Constantino (324) até a tomada de Constantinopla pelos turcos (1453). Se, em vez da primeira data, adotarmos a da tomada de Roma pelo chefe germânico Odoacro, em 476, teremos a periodização adotada nas escolas.
Keller fixou a idéia de que o período intermediário entre a Antigüidade e a Época Moderna foi um período não só estéril, mas de retrocesso: a Idade das Trevas. (NASCIMENTO, 1992, p. 8-10)



5 CONCLUSÃO

Logicamente as atitudes da Igreja no período medieval impunha um regime que brutalmente incapacitava a mente humana de desenvolver intelectualmente. A religião foi monopólio da Igreja para elevar o clero à condição divina forçando para um celibato desumano, advogando idéias e opiniões sem base lógica e senso comum. A interferência da Igreja era presente em todos os assuntos. Contudo, torna-se lógica a compreensão do tamanho poder da Igreja mantido por mais de mil anos consecutivos. Porém, inaceitável e condenáveis as atitudes da Igreja em tais atos, já que esta pregava ser harmonizadora da fé e da razão.

O renascimento ocorrido no Ocidente, foi ao longo dos séculos XV e XVI, um marco para a história, pois a partir daí, ocorre um processo de renovação cultural que causou muita inquietação intelectual, agitação e questionamentos. A História está agora, a um passo da Reforma Religiosa e de uma nova era: A Idade Moderna.


5 REFERÊNCIAS

ALVES, Rubens –O que é religião, São Paulo: Brasiliense AS, 1981. (coleção Primeiros Passos)

ARANHA, M. L.de A.; MARTINS, M. H. P. . Filosofando: introdução à filosofia. 2.ed. rev. atual. São Paulo: Moderna, 1993.

ARIÈS, Philippe. L’enfant et la vie familiale sous L’ Ancien Régime, Paris, 1960.

DURKHEIM, Émile. Definição de educação. In: Educação e sociologia, 3.ed. tradução de Lourenço Filho. São Paulo: Melhoramentos, 1952.

LE GOFF, Jacques. A civilização do Ocidente Medieval. Lisboa: Editrorial Estampa, 1984, vol. II.

LUZURIAGA, Lorenzo. História da educação da pedagogia. São Paulo: Companhia Editora Nacional. 1978.

MANACORDA, Márcio Alighiero. História da Educação: da Antigüidade aos nossos dias. São Paulo: Cortez: Autores Associados, 1989.

NASCIMENTO, C.A. O que é filosofia medieval. São Paulo, Brasiliense, 1992.

OLIVEIRA, Pérsio Santos de. Introdução à Sociologia. São Paulo: Ática. 1993.

SILVA, Francisco de Assis, 1937- História Geral: 1º Grau/ Francisco de Assis Silva. – 3.ed. ver. E atual. – São Paulo: Moderna, 1994.
Autor: Gladenice T. da Silva


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