Correio!



Largava-se tudo e corríamos desembestados em direção à porta. Não havia caixa de correio. O carteiro, cúmplice do nosso êxtase, sentia dificuldades em disfarçar sua vontade de intromissão nos segredos envelopados.

Segundo ato, este mais consciente e estratégico, correr para o quarto, banheiro ou para outra dependência da casa que não estivesse minada e, salvo e sôfrego, posicionar o envelope em direção à luz para a indispensável tomografia.

Após o resultado do exame, podíamos abrir com certa segurança o envelope pelas beiradinhas ainda com receio de rasgar o conteúdo.  A atmosfera proibitiva era peça fundamental nesse ritual. E hoje, como é que é? O ritual continua. E a mesma atmosfera. Apenas com matiz  cibernética, virtual... Tem mensagem nova em sua caixa de correio. Ôba!

Autor: Airton Soares


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