O FOGO CONSUMIDOR



O FOGO CONSUMIDOR

Dirigia um culto de vigília de fim de ano. Momentos antes um ancião de vivos olhos azuis me procurara e pedira permissão para contar um testemunho, perguntando-me umas três ou quatro vezes se era realmente lícito contar. Depois que me falou o que era, não somente lhe disse que era lícito contá-lo, como o animei bastante a faze-lo. Isto porque o nosso Deus permanece o mesmo "e os seus anos não têm fim".

No momento dos testemunhos o velhinho aproximou-se meio trôpego e contou uma história que foi constatada por muita gente na cidade de Pedro Leopoldo, em Minas Gerais, onde ele morava. A história trágica de um jovem que odiava os crentes.

Foi num Domingo pela manhã. Os irmãos estavam chegando para a Escola Dominical que começaria às nove horas. Quando descia a pequena ladeira que separava sua casa da igreja, aquele antigo servo do Senhor ouviu atrás de si uma frase tremendamente insultante.

- Passa, bode velho!

Sem se perturbar, continuou seu caminho, embora sentisse que algo de pior poderia acontecer. Aquela voz era bastante conhecida. Era a voz de um moço que estava que estava acostumado a insultar muitos crentes e ao ver que não reagiam, chegava até ao ponto de bater neles, o que tinha sido motivo para muitos testarem sua fé e confiança em Jesus. Nenhum, porém, tivera a atitude daquele velhinho, naquela manhã ensolarada de Domingo, a caminho da Escola Dominical.

Ao ver que o irmão não se perturbava em sua caminhada, o malandro correu e passando à sua frente, parou e abriu os braços. O irmão pediu licença para passar, licença que, è claro, foi negada. Aquele filho de Belial estava disposto a maltratar o pobre homem que somente desejava continuar seu caminho, a fim de aprender das verdades eternas contidas no Livro Sagrado.

O inimigo insiste. Dá um leve empurrão no velho, para provocá-lo à ira. O ancião naquele momento, sentindo que a virtude santa do Espirito de Deus estava sendo derramada sobre ele, passou rapidamente pelo perturbador e falou para ele uma frase que viria a tornar- se motivo de eternas lembrança para muitas pessoas naquela cidade:

- O Senhor te repreenda!

Aquela expressão partida de uma vida cheia de sabedoria de Deus. Partia de alguém acostumado com as Escrituras. Alguém que deixava para o Senhor todas as coisas, principalmente os atos de justiças. Lembrou-se, com toda a certeza do texto contido no versículo 9 da epístola de Judas: "Contudo, o arcanjo Miguel, quando contendia com o diabo, e disputava a respeito do corpo de Moisés, não se atreveu a proferir juízo infamatório contra ele; pelo contrário, disse: o Senhor te repreenda".

Depois dessa palavra, continuou seu caminho, sem olhar para trás. Notou, todavia, que ninguém mais o acompanhava. Foi assim até a Escola Dominical e ficou bastante alegre com a lição, sem nem mais lembrar-se daquele que tão asperamente lhe tratara. Funcionava dentro de si aquele "espirito de perdão", aquela longanimidade proveniente do fruto do Espírito.

Mas "o Deus que não pode mentir prometeu". Ele falou em Zacarias 2:8 que aquele que tocasse em um dos seus servos estava tocando na menina do seu olho sacrossanto. Horas mais tarde o ancião soube, não sem desgosto, o que havia acontecido com o malfadado rapaz. Quando ouvira aquele dito estranho, parou sem saber por quê. Na mesma hora uma dor intensa começou a vará-lo por dentro. Daquele momento em diante não teve mais alívio. Alguns conhecidos seus o encontraram contorcendo-se de dor e o levaram para um hospital. Horas mais tarde, não sem ter sofrido muito, o moço morreu.

O ancião terminou seu relato e eu pude entrever duas furtivas lágrimas que despontavam em seus olhos azuis. Tirando aqueles óculos antigos, de aro de ouro, enxugou rapidamente as gotas que caiam e apressadamente se assentou. Somente um servo de Deus era capaz de tamanha misericórdia. Cremos que se soubesse a tempo da situação do moço, aquele mesmo ancião se aproximaria do hospital e oraria por ele para que o Senhor o restituísse à vida.
Autor: Paulo de Aragão Lins


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