NAS MÃOS DO DEUS VIVO



NAS MÃOS DO DEUS VIVO

Vou relatar a triste história de um seminarista em Belém do Pará. Tenho permissão de citar seu nome: José Faustino.

Era um rapaz tímido, porém muito estudioso. Eu gostava muito dele, principalmente de suas respostas em minhas aulas. Apesar da timidez eu conseguia arrancar alguma coisa do seu já desenvolvido conhecimento.

Tínhamos um internato na cidade dormitório de Belém, Benevides. As aulas eram de manhã e à tarde eles desenvolviam algumas tarefas. À noite tínhamos vários pontos de pregação nos quais os seminaristas atuavam. Não eram muitos. Entre internos e externos tínhamos uns vinte e poucos alunos.

José Faustino, coitado, tinha um terrível calcanhar de Aquiles.

Certo dia, desci do ônibus de Belém e ia me dirigindo à minha casa, quando um jovem deficiente me chamou.

- Ei, patô Paulo, ei!

Parei meio estarrecido. Nem sabia que ele me conhecia pelo nome. Dirigi-me a ele e perguntei:

- Diga, meu filho, o que você deseja?

- Patô Paulo, eu vi Zé Faustino na zona.

- Ta certo, respondi-lhe. Vou tomar uma providência. Obrigado.

- De nada, patô, de nada.

Naquela noite dirigi-me ao seminário, ao setor de internato e chamei José Faustino a meu gabinete. O seminário pertencia a uma missão americana e eu era o deão, encarregado dos internos.

Ele chegou meio desconfiado, de cabeça baixa e eu falei para ele sentar-se. Em seguida, perguntei:

- Irmão, porque você foi àquele ambiente? Não sabe que aquilo não é lugar para crente e ainda mais para um seminarista?

Ele não respondeu palavra. Ficou o tempo todo de cabeça baixa. Voltei a falar-lhe.

- Olhe, eu vou lhe dar uma segunda oportunidade. Peça perdão a Deus, não faça mais isto e termine seu ano de estudos. Está bem?

Ele balançou a cabeça e eu lhe disse que podia voltar ao alojamento.

Passaram-se vários dias sem qualquer novo incidente. Uma tarde estava no mercado quando vi que o maluquinho se aproximava de mim. Eu já estava esperando algo semelhante e foi exatamente o que ele me falou:

- Patô Paulo, eu vi Zé Faustino na zona de novo.

Novamente chamei José Faustino. Qualquer deão, de qualquer seminário, teria mandado ele para casa naquela hora, mas eu fiz mais uma tentativa. Dei-lhe uma terceira oportunidade. Daquela vez ele me prometeu que fôra a última vez que ele se dirigia ao baixo meretrício.

Passaram-se novamente vários dias. Certa tarde, por volta de três horas, vinha de uma visita pastoral e como Benevides era muito quente, estava exausto. Parei em uma barraquinha para tomar um refrigerante. José Faustino estava lá, tomando uma coca.

Quando olhei para o rosto dele vi que estava arranhado com evidentes marcas de unhas. Por aquele sinal deduzi que o rapaz já estava amasiado com uma das prostitutas do bordel local. Ele tentou negar, mas o que eu vi já não era dedução, passara para a esfera da revelação.

Amado leitor, sei que você pode até ter mais experiência do que eu nesta área, mesmo assim deixe-me dizer-lhe: não é brincadeira ser um profeta de Deus.

O profeta, em seu normal, é uma pessoa comum. Suas palavras podem até ser sábias, mas são as palavras de qualquer pessoa, no seu dia a dia. Quando, porém o Espírito Santo toma a pessoa e a reveste com a unção profética, algo de extraordinário acontece.

Paguei o refrigerante, estendi a mão para José Faustino e disse-lhe:

- Meu irmão, adeus.

Ele estremeceu. Perguntou-me:

- Adeus, por quê, Pastor?

Com os olhos marejados de lágrimas, eu lhe falei:

- Sua carreira terrestre está terminada.

O rapaz ficou espantado. Queria falar mais alguma coisa, mas gaguejava e não saía nada inteligível.

Fui embora para o seminário e duas horas e meia depois, trouxeram-me a noticia.

Ele foi se encontrar com alguns conhecidos. Sentou-se para conversar na beira da pista da BR que passava por Benevides. Em seguida fez o que muitos faziam naquela região: deitou-se na beira da pista.

Inesperadamente um ônibus da Ipu Brasília apareceu. Ele não teve tempo de se levantar. O ônibus passou por cima do rosto de José Faustino, transformando-o em uma massa grotesca.
Autor: Paulo de Aragão Lins


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