Estabilidade é Tudo



Um dos itens que mais contam nos padrões de stress é o medo de perder o emprego. Esse é o grande fantasma do homem moderno.

Geralmente a perda do emprego sempre ocorre três minutos após você fazer um empréstimo e trocar de carro, ficando com dois carnês mais grossos do que a lista telefônica.

O funcionário público com aquela cara de papel amarelado, com aquele jeito de "sem o meu carimbo, nada feito", tem um fator causador de doenças sociais a menos para se preocupar, nesse rosário de terror que são os motivos para um homem moderno não dormir.

Ele arranca com grande vantagem sobre o trabalhador da iniciativa privada. Ele tem estabilidade. Olha que coisa linda de dizer: ele tem estabilidade. Quer coisa mais maravilhosa do que poder dizer isso: eu tenho estabilidade.

Jesus Cristo não procurava mais do que isso em sua vinda a terra. Seus sermões, seus milagres, seus atos, sua vida, não buscavam mais do que isso para a humanidade: a estabilidade para os homens.

Vocês sabem o que é isso? Significa que ele pode ter todos os problemas que os simples mortais possuem, mas tem um a qual eles são imunes, talvez o mais importante deles: ao fantasma do desemprego. Isso mesmo. Aquele fantasma que ronda os corpos de todos os trabalhadores da iniciativa privada, cujos destinos estão à mercê de circunstâncias muito peculiares, cujos requisitos técnicos necessários para ocorrer essa tragédia são bastante complexos, tais como: um porre mal curado do seu patrão, de um chifre descoberto por ele pelo cunhado, seis anos depois, de uma visita indesejável da sogra dele, no fim de semana, do extrato do cartão de crédito da esposa que ultrapassou o limite, do time dele, que perde para todo mundo, mas dessa vez foi roubado pelo juiz, de aparecer um novo funcionário com a metade da sua idade, cheio de vontade e que não dá bola para salário, de qualquer dessas coisas muito sérias e improváveis de acontecer.

Eu sei que o funcionário público passou por um concurso, cada vez mais difícil, não tem fundo de garantia, convive com a política e não ganha insalubridade, sofre com a rotina de carimbar o mesmo papel azul, não tendo nunca a oportunidade de carimbar o papel rosa (Gente, isso é desumano), enfim, também tem suas razões para essas vantagens.

O funcionário público deve se sentir um privilegiado, pois conseguiu para si, o que Jesus Cristo quis e não pôde oferecer para a humanidade.

Mas eles acabam tendo que enfrentar um dilema, digno da mitologia, que é ter estabilidade, nunca ir para a rua do emprego, e suportar num moto-perpétuo do inferno, as mudanças constantes de suas chefias, sempre com indicações dos políticos.

É uma estabilidade amaldiçoada.

Viva a desestabilidade.

Sérgio Lisboa.


Autor: Sérgio Lisboa


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