Relevância Da Capoeira Como Conteúdo Pedagógico Nas Aulas De Educação Física



INTRODUÇÃO

Entendendo a Educação como principal agente na formação do ser humano. Entendendo o grande problema humano como problema de formação educacional. E tal formação educacional levado a patamares de bilhões de pessoas, que educam e são educadas continuamente, formando uma consciência humana, um conhecimento sobre si e sobre o mundo, e que está precisando de outros valores morais e outras crenças para a sobrevivência de nossa espécie.

Entendendo que é através da educação, seja ela forma ou informal, que ser o humano e toda sua criação é o que é, está onde está, devido a sua educação, ou melhor, devido a sua forma de educação. Na educação o ser humano adquire sua moral e sua crença. Sua razão e sua fé. Determinado sim pelo meio, numa considerada parcela, mas que acima de tudo é contínua durante a vida de consciência.

Dentro da Educação formal, na figura milenar da instituição Escola, discorro sobre a prática educativa do professor de Educação Física, uma componente curricular de igual importância para os objetivos educacionais focados dentro da promoção da autonomia, da consciência que, vez mais humana e menos cruel, e da integralidade dos conhecimentos. Prática esta subsidiada por vários elementos da cultura popular, em especial da cultura corporal. Tratando-se da cultura brasileira, a Capoeira, que analisada sobre sua função de elemento pedagógico intrisicamente ligada a história do Brasil, se faz, por suas características existenciais, um importante conteúdo a ser trabalhado na Escola, preenchendo os requisitos necessários para a formação integral e contextualizado com a história dos novos tempos.

O presente trabalho tem como meta principal expor as relevâncias que a Capoeira, uma manifestação da cultura corporal brasileira, tem para os objetivos da Educação Física Escolar, focado dentro da proposta de ensino conceituado como Crítica-superadora.

A Capoeira, entendida como uma manifestação surgida no seio do desenvolvimento da sociedade brasileira, em todas suas fases de rejeição e aceitação, desta mesma sociedade, sendo hoje admirado e estimulado, torna-se um instrumento riquíssimo para Educação Física Escolar para se usar em objetivos centrados na perspectiva da transformação social. Torna-se, pela sua rica história de luta e de gestos, uma excelente forma de promover a leitura histórica da realidade brasileira, assim como, transparecer os valores éticos e morais vividos através de uma prática que tem como sinônimo, resistência e vitória.

Para os devidos fins, analisamos algumas obras científico-literárias que abordam esta manifestação como um elemento pedagógico para Educação Física. A obra de Hélio Campos (2004), Capoeira na universidade: uma trajetória de resistência, retrata com muita propriedade a trajetória da Capoeira, seus valores culturais, sociais e educacionais, afirmando a importância desta cultura corporal na grade curricular dos curso de graduação em Educação Física. Pois, a Capoeira foi e está relacionada com a história de uma grande parcela da população brasileira, assim como conquistou vários espaços sociais no Brasil e no mundo.

O título do trabalho – Relevâncias da Capoeira como conteúdo pedagógico nas aulas de Educação Física – sugere a análise do fenômeno Capoeira no intuito de demonstrar sua importância para a prática pedagógica dos professores no ensino brasileiro, ressaltando o fenômeno Escola e a trajetória histórica da Educação Física Escolar no Brasil.

É feito preliminarmente uma análise da importância da Escola, uma instituição que foi vinculada com à história da Educação Física, sendo considerada muitas vezes, campo único da Educação Física. Com abertura de outras áreas na identidade da Educação Física, como a área da saúde, do esporte de alto nível, passando por espaços conquistados como empresas e clubes, a análise sobre o fenômeno Escola é para justificar a singularidade que está tem para Educação Física, visto o momento de crise de identidade desta área relativamente nova.

Aranha (1996), Guareschi (1986) e Pereira (1988) dão fundamentos contextuais para a compreensão do fenômeno complexo e histórico que é a Escola dentro das sociedades. Uma análise crítica de uma instituição superestrutural que historicamente foi imposta e controlada pelas políticas e interesses de grupos minoritários quedetinham o poder econômico.

A Educação Física Escolar, mostrando-se tal como a Escola, é um segmento bastante singular e ricamente complexo. Seu universo é tão humano e recheado de contextos histórico, relação de interesse e política pública, que sua afirmação dentro da identidade da Educação Física é referenciada pelo poder pedagógico que este componente curricular pode oferecer na colaboração da perspectiva de transformação e justiça social, dentro das políticas públicas na educação nacional.

Os objetivos da Educação Física Escolar, são, então, analisados diante de várias tendências pedagógicas que ela assumiu historicamente, incorporada como um elemento escolar, conquistando seu lugar como componente curricular obrigatório visto sua importância na concretização dos objetivos educacionais de uma nação.

Diante dos autores Guiraldélio Júnior (1989), Lino Castellani (1991) e Paulo Medina (1991) é feito um levantamento das principais tendências pedagógicas com seus objetivos educacionais na história do ensino da Educação Física deste 1930 até meados dos anos 90. Tendências que objetivam a disciplina e o vigor físico, que exaltam a saúde como sinônimo de produtividade pela ausência de doenças, que colocam o esporte de rendimento como base para praxes educativa. Compressões reducionistas do ser humano, do corpo e do movimento que tentam explicá-los pela simples análise biológica ou psicológica, em fim, váriss foram as formas de se abordar a Educação Física na Escola, e diante de tantos possíveis objetivos é identificado uma abordagem que condiza com o potencial pedagógico que a Capoeira tem como conteúdo ou tema nas aulas de Educação Física.

A proposta apontada por um coletivo de autores na publicação Metodologia do Ensino da Educação Física (1992) definida como Crítica-superadora, em que se objetiva vivências múltiplas da cultura corporal para que se possa simbolizar a realidade que cerca a escola e os alunos. O universo simbólico da Capoeira é analisada na perspectiva de levar para as aulas a descoberta e a representação das realidades vividas. Para tanto, o universo da Capoeira é fragmentada numa análise simbólico dos elementos históricos e constituintes que fazem a Capoeira ser hoje considerada uma arte, antes de ser luta ou jogo. Uma arte genuinamente brasileira.

Autores como José Milton da Silva (2003) e Hélio Campos (2004) dão fundamento histórico e simbólico da Capoeira. Campos (2004) mostra todo universo de resistência que esta manifestação passou ao longo de sua origem e evolução até ganhar o devido respeito nos espaços sociais, chegando a Universidade como algo precioso e que precisa ser formalizado como grade curricular. Silva (2003) discorre quase poeticamente sobre a linguagem que o corpo produz na arte da Capoeira, faz alusões sobre o elemento simbólico que o jogo, através de um conjunto de esquema corporal e utensílios musicais, se utiliza para manifestar sentimentos próprios do povo brasileiro.

1. A Escola como um espaço singular para sociedade e para Educação Física.

Compreender a importância da Capoeira como um saber sistematizado na prática da Educação Física na Escola, faz-se necessário, primeiramente, a compreensão do espaço singular que é a Escola tanto para a sociedade quanto para a Educação Física.

A Escola foi um espaço historicamente construído para servir aos interesses de uma classe dominante, seja ela qual for, dependendo de sua época; burguesia, senhores feudais, reis etc. Pedrinho Guareshi (1989, p. 67), em Sociologia Crítica, assim localiza a escola dentro da sociedade: "a escola faz parte da superestrutura, que são criadas para reproduzir e garantir as relações de produções". Superestruturas criadas pelo o Estado e controladas pela classe dominante. Entre outras superestruturas estão a igreja, a família, os meios de comunicações, instituições burocráticas etc.

As relações de produção as quais se refere o autor é o processo pelo qual toda sociedade realiza sua construção e permanência diária de bens materiais e de consumo. Tais relações podem assumir valores diferentes entre Vida-Trabalho-Capital. Dependendo dos interesses de quem detém o poder para com a sociedade na qual faz parte.

O Brasil é um país em que sua forma de relação de produção é denominada de capitalismo, ou seja, o relacionamento entre as pessoas (ou o Ambiente) o Trabalho e o Capital (dinheiro) que ali processa os bens de consumo é verticalizada, hierarquizada, com valores que segregam a sociedade fazendo surgir classes distintas, de interesses distintos. Também suprime determinada classe social e sobrepuja outra."O sistema (de produção) capitalista é um sistema que separa capital de trabalho e cujas relações são de dominação e exploração". (GUARESCHI, 1989, p. 40)

Valores humanos como individualidade, passividade e valores sociais como competição excessiva e riqueza materiais são objetos ideológicos de reprodução para garantir os privilégios políticos e econômicos da classe que domina as instituições reguladoras da vida social.

A Escola foi muito cautelosa em suas práticas, por ser um espaço em que a consciência (como sinônimo de humanização e percepção do mundo), e a reflexão crítica são um dos produtos que podem vir a surgir com a educação. Segundo Aranha (1996), Adam Smith, um dos pais do capitalismo, recomendava aos trabalhadores, e aos filhos dos trabalhadores, que tivessem acesso à educação, com ressalva que fossem em 'doses homeopáticas' oferecendo-se apenas o necessário para se tornarem produtivos e fazer crescer o capital.Nota-se claramente a idéia de cautela com a educação e com a escola, e uma função designada à educação de intuitos capitalistas em detrimento de uma educação de intuitos humanos. Em outras palavras, Educação e Escola contribuem tanto para a manutenção e fortalecimento da ideologia política-econômica-social, que preconiza o lucro e livre iniciativa privada como base das relações sociais, quanto contribuem para uma alternativa nas relações sociais que preconizem o ser humano e o cidadão como referencia para as regras políticas-econômicas-sociais.

Em qualquer história de qualquer civilização a Escola aparece num contexto em que estruturas sociais como a família e a religião não dão mais conta de transmitir saberes necessários para a vida produtiva e a reprodução da ideologia vigente; não dão mais conta de educar suas novas gerações.

É importante não confundir Educação com Escola. Educação tem um sentido humano, ela acontece com o próprio fluxo da vida. Está associada ao ser uno que se relaciona com outros seres humanos e com a natureza. Para Flávio Pereira na Dialética da Cultura Física:

a educação sempre está presente e é impossível escapar dos processos educativos, está ligada à existência do homem concreto, tem a função social de humanizá-lo, de proporcionar ao processo histórico de sua vida, meios para que ele possa ter uma visão de mundo, meios que ajudem a viver melhor, a se realizar como pessoa; condições, enfim, que contribuam para que possa mudar o mundo mudando a si mesmo (PEREIRA, 1993, p. 19 )

Portanto, a educação deve possibilitar ao ser humano desenvolver habilidades cognitivo-motora, assim a ciência de si e do mundo - uma consciência - para que possa intervir de forma transformadora na sociedade a qual faz parte. Para Medina (1993) o homem só alcança a plenitude de sua expansão gradual e contínua quando se percebe em relação a si mesmo, em relação ao outro e ao mundo, o qual denominou consciência.

Já a Escola tem um sentido social, ela acontece dentro do fluxo histórico contextualizado de uma determinada sociedade. Ela nasce e se processa com as transformações sócio-político-econômico para atender a interesses comuns de uma nação, assim como aos interesses de uma classe social que se sobrepuja em detrimento de outras.

Para clarificar a noção de que a Escola atende a interesses de uma determinada classe social,classe capitalista, a Escola para todos os cidadãos, como dever do Estado em ofertá-la, somente foi interessante concretizá-la a partir do momento em que o fenômeno de urbanização, decorrente do capitalismo industrial, cria forte expectativa com respeito à educação, pois a complexidade do trabalho exigiu qualificação da mão-de-obra (Aranha, 1996).

A educação sempre esteve presente nas relações humanas e sociais, diferente da Escola, em que sua presença na sociedade é fruto do interesse do Estado pela educação de seu povo, e como tal, quase nunca representou o interesse por cidadãos conscientes, autônomos e participativos na vida social. Pelo contrário, a Escola muitas vezes foi e é sinônimo de alienação, conservadorismo e reprodução das relações nefastas da ideologia dominante que até então a sociedade brasileira presencia.

Para melhor localiza a Escola dentro das várias estruturas que compõem a sociedade brasileira conceituemos o termo cultura, na tentativa de expor os diversos espaços 'culturais' que se processa a educação.

Cultura é um significado bastante amplo e representa a própria sociedade. Os espaços sociais em que ocorrem as manifestações humanas são prescindidos pela cultura. Pereira (1988) assim defini cultura:

A cultura é um fenômeno social que representa o nível alcançado pela sociedade em determinada etapa histórica; progresso, técnica, experiência de produção e de trabalho, instrução, educação, ciências, literatura, arte e instituições correspondentes. Em sentido mais restrito, compreende-se sobre o termo cultural o conjunto de formas da vida espiritual da sociedade que nascem e se desenvolvem sobre a base do modo de produção dos bens materiais historicamente determinados (1988, p. 78 apudM. Rosental, & P. Iudim, ANO, p. 54 )

A sociedade brasileira é fortemente caracterizada pela expressão diversificada de sua cultura; religião; arte; esporte; culinária; literatura. Dentro da cultura que processa a sociedade brasileira existem expressões fora do contexto "esportivo-carnavalesco" que infelizmente o Brasil não é notório, e entre estas expressões está à educação.

A intenção deste capítulo é demonstrar que dentro das várias formas do convívio social, a Escola é a mais promissora para a transformação de uma sociedade brasileira focadadentro dos princípios de responsabilidade Estatal pela educação integral, saúde, habitação e trabalho para o cidadão contribuinte,principalmente a escola pública.

As superestruturas que formalizam o convívio social Guareshi (1986) denominou de aparelhos de reprodução da sociedade. Entre os mais notórios estão: a família, a igreja, os meios de comunicação (rádio, TV, jornais, revistas, teatro), as entidades assistenciais (INPS, Inamps, LBA, Febem, etc.), as cooperativas dependentes do Estado, os partidos políticos e, como não poderia deixar de ser, a Escola.

Dentro desses vários órgão e instituições responsáveis em atender as necessidades da sociedade, a Escola é, em potencial, o caminho mais curto e mais eficiente para o processo de conscientização e reflexão dos novos anseios e paradigmas pelo qual a sociedade brasileira almeja: justiça social.

A intenção é demonstrar as estruturas e instituições que estão por trás da rotina e cultura da grande maioria do povo brasileiro, e mostrar que a Escola é o mais singular espaço para o processo de elucidação das grandes questões sociais que afligem os interesses da maioria dos prejudicados com a política social aplicada pelo poderes públicos.

A Escola, de todos os espaços de manifestações do pensamento e das atitudes dos brasileiros, é que melhor tem condição de tornar público os saberes e conhecimentos necessários para a compreensão, reflexão e mudança de atitudes da grande maioria do povo que educa e é educado, através da cultura da rotina; convívio diário e rotineiro dentro dos espaços institucionais "obrigatórios".

Rotina escolar é tornar os saberes historicamente construídos em uma prática de compreensão, reflexão, discussão e mudança de comportamento nos brasileiros que diariamente se encontram dentro desde espaço, assim como se encontram na "rua", em casa, na igreja e no trabalho, que não são singulares para a sociedade, e sim, comuns.

Com relação à própria Educação Física Escolar, esta também se diferencia entre os vários segmentos que esta disciplina pode seguir, (segmento esportivo, da saúde, do fitnees, lazer etc.) pelo mesmo fato de tornar sua prática um espaço para compressão e reflexão dos saberes e conhecimentos que elatrata.

Saberes e conhecimentos científicos como anatomia, cinesiologia, bioquímica, fisiologia são unidades que a Educação Física se apropria para fundamentar e dar suporte a sua prática, assim como saberes e conhecimentos da área científica humanas como a filosofia, a sociologia, a psicologia e a pedagogia.

Tais saberes e conhecimento estão por trás de todas as práticas e de todos os segmentos da Educação Física, sendo o segmento educacional o mais promissor na perspectiva de contribuir para as almejadas mudanças nas relações humanas e sociais que tanto o povo brasileiro precisa para sair da constante situação de injustiça e corrupção da riqueza comum.

Para um coletivo de autores na publicação Metodologia do Ensino da Educação Física (1992) os saberes e conhecimentos que a Educação Física trata pedagogicamente, estão dentro de uma área denominada, então, de Cultura Corporal. Saberes como o jogo, a ginástica, a dança, a capoeira entre outros, são ancoras para a tematização de aulas focadas dentro das grandes discussões sociais que precisam ser apresentadas em parceria com os conteúdos clássicos da Educação Física.

A Educação Física Escolar é um espaço distinto na ótica da perspectiva social, pois seus saberes e prática são diversos e contemplados pela sociedade brasileira em toda magnitude, haja vista a numerosa população de praticantes de esporte e do fitnnes.

2. Dos objetivos da Educação Física Escolar

A Educação Física, como disciplina do currículo escolar, não tem tarefas diferentes do que a escola em geral (GEBARA... [et. Al.] MOREIRA (org.) 1992) Os objetivos para se alcançar com os alunos através da Educação Física devem representar o interesse político-educacional da escola e do professor. É uma ação muitas vezes individualizada determinada pela formação humana e profissional dos gestores e professores, mas que deve ser transparente e consciente.

Na história da Educação Física Escolar, a praxes e os objetivos do ensino e dos professores variaram bastante de acordo com o contexto social de uma determinada época, assim como variaram de acordo com a área do conhecimento abordado majoritariamente.

Área médica-higiênica, forte influência dos métodos militares de preparação física e moral, esportivização dos grandes jogos e esporte de rendimento, foram pressuposto pedagógicos para a coerência entre o pensar e o agir na Educação Física Escolar.

A prática de todo professor, mesmo que de forma inconsciente, apóia-se em determinada concepção de aluno, ensino e aprendizagem que é responsável pelo tipo de representação que o professor constrói sobre o seu papel, o papel do aluno, metodologia, função social da escola e os conteúdos a serem trabalhados ( Coletivo de Autores, 1992).

Tais concepções de aluno, professor, ensino, metodologia etc., são apoiados em pressupostos filosóficos e pedagógicos e, logicamente, representam a coerência para a concepção de vida e de sociedade.

Guiraldélio Júnior (1989) classifica 5 (cinco) tendências encontrada através de análises em artigos, publicações, periódicos e livros da época de 1910 até meados dos anos 80. A partir desses dados apresenta: (1) a Educação Física Higienista (até 1930); (2) a Educação Física Militarista (1930-1945); (3) a Educação Física Pedagogicista (1945-1964); a Educação Física Competitivista (pós 64); e a Educação Física Popular.

Tais tendências são cronologicamente classificadas, mas na prática todas elas se apresentam dentro de contextos históricos que justificam sua existência podendo ser observadas características em momentos históricos diferentes, pois na realidade, as tendências surgem como uma identificação de pressupostos político-filosóficos que a Escola ou o professor adapta para sua prática docente.

A área médica influenciou a primeira fase da classifcação de Guiraldélio com a Educação Física Higienista. Uma concepção que dava à Educação Física um papel de meros agentes de saneamento público na busca de uma sociedade livre de doenças infecciosas e de vícios que deterioravam o caráter moral do homem cidadão.

A influência das instituições militares é a que mais se atrelou à identidade histórica da educação física:

Determinou sua prática principalmente durante o Estado Novo e pós-guerra e objetivava categoricamente a obtenção de uma juventudecapaz de suportar o combate, a luta e a guerra através de práticas suficientemente rígida para "elevar a nação " à condição de servidora e defensora da pátria (GUIRALDÉLIO, 1989, p.34).

Tal tendência se apoiava em uma ideologia autoritária e hierarquizada para as aulas de educação física, com a figura do professor transparecendo e se confundindo muitas vezes com a figura de um militar.

As tendências até então referida pela classificação de Guiraldélio não davam à Educação Física Escolar um caráter educativo, e sim, como uma prática de exercícios que deveria ser oferecida pela escola. É a concepção Pedagogicista que vai reclamar e encarar a Educação Física na Escola como uma prática eminentemente educativa. Não faz uma crítica aos métodos aplicados pelas tendências anteriores nem assume uma postura nem uma lado para as questões sociais, nas lutaspolíticas e interesses de grupos ou de classes. Se mantém "neutra" e julga a Educação Física como apenas algo útil e bom para a sociedade.

Agora, é a tendência competitivista que vai marcar profunda e extensamente a identidade da Educação Física. O culto ao atléta-herói, o podium como o lugar mais elevado, sendo conquistado somente pelo melhor, o campeão. Signos e valores, fruto da esportivização dos grandes jogos e principal conteúdo abordado por tal tendência sendo o esporte com regras oficiais. A Educação Física é reduzida ao desporto de alto nível, ficando os desprovidos de habilidades técnicas sem o acesso a vivência integral das modalidades clássicas dos desportos (futebol, voleibol, basquete e handebol), e quando participam são alvos de gozação, perdendo o estímulo para freqüentar as aulas. Além destas características excludentes, o desporto-espetáculo é oferecido em doses exageradas, tanto pelo meios de comunicação quanto pela políticas governamentais como forma de inculcar uma ideologia competitivista, signo do sistema econômico-social capitalista.

Uma outra tendência levantada por Guiraldélio é a Educação Física Popular. É uma concepção que, paralela e subalternamente, veio historicamente se desenvolvendo com e contra as concepções ligadas a ideologia dominante. Ideologia competitivista e autoritária. Sua praxes está associada à ludicidade e a cooperaçãousando o desporto, a dança, a ginástica entre outros conteúdos clássicos, como promotores da organização e mobilizaçãodos trabalhadores. Ela não se pretende educativa. Sua maior intenção " é que a educação dos trabalhadores esteja ligada ao movimento de organização das classes populares para o confronto cotidiano imposto pela luta de classe"(Guiraldélio, 1989; p. 21).

Lino Castellani Filho, em seu trabalho A Educação Física no Brasil: a história que não se conta (1991), busca resgatar, através de relatos e entrevistas com os principais protagonistas históricos da Educação Física, as fases mais significativas desta área, desde então nova e sem identidade concisa, para apresentar, ao final, sua classificação das históricas tendências pela qual a disciplina Educação Física se apresentou, e ainda se apresenta.

Castellani (1991) faz distinção de três tendências existente no Brasil até 1991. Uma tendência biológica que tente explicar o ser humano através do cientificismo anatômico-fisiológico. Reduz a compreensão e explicação do movimento e do corpo apenas nos aspectos biológico, não fazendo alusão nem associação aos aspectos antropológicos e sociais. Como o autor se refere a esta tendência:

configura-se na ênfase exacerbada às questões afetas à performance esportiva, a ordem da produtividade,eficiência e eficácia inerente ao modelo de sociedade Brasileira (Castellani, 1991, p. 218)

Outra tendência apontada por Castellani (1991)é a psico-pedagogização que, em uma análise superficial, poderia ser uma contraposição ao reducionismo da biologização , quando na verdade também é reducionista ao compreender o ser humano e o movimento apenas pelos aspectos psicológico e pedagógico, quando ambas, tanto a biologização quanto a psico-pedagogização, são acríticas no quadro da Filosofia da Educação e com influência da filosofia neopositivista assumindo uma postura de "neutralidade científica". Busca a capacitação técnico-profissionalizante originando mão-de-obra qualificada.

Nota-se pela classificação das duas primeiras concepções, a idéia do reducionismo específico na tentativa de explicar e apresentar o ser humano e seus movimentos. Quando o autor vai chamar a atenção para uma concepção que entenda o ser humano e o movimento pelas suas dimensões antropológicas e sociais.

É quando o autor se refere a uma tendência Histórica-críticadentro das concepções de filosofia e educação. Não recebem um nome específico para designar sua prática. É caracterizado essencialmente pela postura política para os objetivosda educação, não sendo, pois, neutra as questões sociais conflituosa. Pelo contrário, busca possibilitar às classes populares a aquisição de saberes produzido e sistematizado historicamente das coisas pertinentes à motricidade humana e à cultura corporal. Interessa para esta tendência:

veicular o entendimento de que o movimento[...] extrapola os limites orgânico e biológico, pois o Homem é um ser eminentemente cultural e movimento representa fator de cultura (Castellani, 1991,p. 220)

3. Propostas de ensino para Educação Física

Para subsidiar nossas pretensões quanto à apresentação da capoeira como um conteúdo pedagógico nas aulas de Educação Física Escolar, a publicação do material do curso de especialização de professores do projeto do governo federal que é realizado em diversas cidades do país, o Programa Segundo Tempo, material este que traz um quadro das históricas tendências de ensino da Educação Física Escolar, numa apresentação de estudos que aqui foram relatados; Guiraldélio (1989), Castellanie Medina (1989). Entre outros autores. Traz também, em uma apresentação sintética, as principais propostas de ensino dentro das tendências analisadas.

Propostas de ensino fundamentada na Psicomotricidade, na pegagogia Desenvolvimentista, na Construtivista, na Crítica-superadora, na Crítica-emancipatória, na Saúde renovada e nos PCN´s.

A relevância que a capoeira pode apresentar para os objetivos da Educação Física vão depender de que proposta, de que tendência ou abordagem se tem escola e professor, para a educação e para o ensino da educação física.

2.1 Abordagem Crítica-superadora

Esta proposta de abordagem da educação física é também uma oposição ao modelo tradicional mecanicista surgida dos novos movimentos na E.F. escolar a partir do final da década de 1970, influenciado pelo novo momento histórico surgido no país e na educação.

"A proposta Crítica-superadora utiliza o discurso da justiça social como ponto de apoio e é baseado no marxismo e no neo-marxismo, tendo recebido na educação Física grande influência dos educadores José Libâneo e Dermeval Saviani" (Freire et al, 2005 , p.18).

Em 1992 foi publicado um dos trabalhos mais importantes dentro desta abordagem. O coletivo de autores, Metodologia do Ensino da educação Física, em que caracteriza estaproposta na pedagogia como diagnostica, que é a leitura dos dados da realidade, a interpretação desta realidade e a emissão de um juízo de valor. É, também, judicativa no sentido de julgar os elementos da sociedade a partir de uma idéia de uma determinada classe social.

A prática pedagógica é considerada um ato político e, como tal, visa um projeto de sociedade. A criticidade tão amplamente exposta não é apenas ao ensino tradicional e acrítico, é muito mais aos padrões da vida contemporânea que tornam a sociedade injusta para os cidadãos e nefasta para o meio ambiente. Devido a esta compreensão de cidadania e vida, um dos objetivos e finalidades primárias desta proposta é a justiça social.

A seleção dos conteúdos a serem trabalhados temque promover nos alunos a leitura da realidade, favorecendo a compreensão de sua realidade local, seu bairro, sua cidade. As temáticas dos conteúdos têm que levar em consideração a relevância social, a contemporaneidade e a adequação às características sociocognitivas dos alunos e da escola. Para tanto se deve analisar a origem e conhecer o que determinou a necessidade do ensino.

.1 A Capoeira

Como sinônimo histórico de resistência, a Capoeira é hoje uma manifestação valorosa nos espaços sociais, tendo sua prática conquistado o Brasil e o mundo.

Já houve tempos em que a Capoeira foi duramente reprimida e violentada pela sociedade brasileira. Em 1890, através do decreto lei 487 de 11 de Outubro, Capítulo XIII, art. 402, que trata "Dos Vadios e Capoeiras" era considerado infração ao código Penal Brasileiro a prática da capoeira, como sinônimo de vadiagem e desordem.

Atualmente a capoeira, entendida na sua magnífica diversidade prática sendo compreendida como luta, arte, dança, jogo, esporte, lazer, filosofia de vida etc. "é valorizada como um forte instrumento de educação reconhecidamente por representar a resistência e a liberdade de um povo outrora escravizado" (Campos, 2004, p.120)

Na diversidade de sua prática – a luta capoeira, a ginga da dança, a arte das apresentações – a capoeira tornou-se um instrumento de ensino e aprendizagem, uma ferramenta para análise, compreensão e reflexão de momentos históricos em que a corporeidade brasileira se construía com a miscigenação de três grupos étnicos bastantes distintos. A capoeira tornou-se uma ferramenta preciosa na prática pedagógica da educação física.

Hélio Campos (2004) em seu trabalho científico que desenvolveu para defesa de sua tese de doutorado pela American Word University percebe este instrumento pedagógico como "completo para a educação integral dos jovens estudantes do ensino fundamental, mostrando toda sua riqueza na histórica manifestação afro-brasileira" (Campos, 2004, p. 120)

José Milton Ferreira da Silva, na publicação A linguagem do corpo na Capoeira (2003) afirma a importância da linguagem corporal para se obter a representação da realidade, uma característica da proposta para o ensino da Educação Física, pois a Capoeira é uma linguagem corporal ela:

não surgi do nada, mas é um processo histórico construído, em que influências e assimilações acontecem entre corpo e a capoeira, entre a capoeira e a sociedade etc(Silva, 2003,p.23).

Para tanto – servi ao processo de representação da realidade através da linguagem corporal – a Capoeira tem sua rica histórica de origem e evolução que se confunde muitas vezes com a própria história do Brasil. É na sua rica história que a Capoeira se diferencia de outras práticas corporais usada pela Educação Física para atingir objetivos educacionais.

Nenhum outro elemento da cultura corporal é tão singularmente própria do processo histórico de sua nação. A leitura que se pode fazer do corpo e do movimento juntamente com o contexto histórico de uma época é o que enaltece a importância pedagógica da Capoeira.

3.2 História da Capoeira

Não tem como discorrer sobre a história da Capoeira sem mencionar a grande instituição que gerou motivos para a Capoeira existir: a escravidão, que no século XVI gerou um negócio mundialmente organizado, permanente e vultuoso, e que representou enormes riquezas (Campos, 2004). Milhões de africanos foram transformados em lucrativas moedas de troca e em mão-de-obra escrava.

O sofrimento começava em terras africanas onde européias tecnologicamente mais avançadas invadiam tribos e sociedades organizadas, e seqüestravam homens, mulheres e crianças. Campos (2004, apud Areus, 1983) salienta as condições subumanas nas viagens da rota marítima escrava:

eram transportados nos porões dos chamadas navios negreiros ou tumbeiras, em condições precaríssimas e subumanas onde muitos sucumbiam por não agüentar os rigorosos de uma viagem longa, acometidos de doenças em virtudes dos maus tratos (Campos,2004, p. 22 apud Areus, 1983, p.10)

No Brasil, quando chegavam os navios negreiros os escravos eram expostos em praças públicas para a venda e troca. Muitas famílias eram longinquamente afastadas como modo de não facilitar a organização de revoltas. Ao serem comprados as pessoas eram cruelmente marcadas com brasas de fogo, como animais, para demarcar seus donos.

É interessante salientar que várias foram as regiões e povos africanos "importados" para o Brasil no período da escravidão.Em seu estudo sobre a genealogia da família brasileira, Gilberto Freire (1992, p. 301) cita um depoimento da tese de Nina Rodrigues,para relatar a diversidade das regiões na qual os escravos foram retirados:

os negros de Guiné são excelentes, de sorte que a maior parte são utilizados para o serviço doméstico, para copeiro etc.; os do Cabo Verde são os melhores e mais robusto de todos e são os que custam mais caros aqui (Freire, 1992 apud Rodrigures, 1900 p. 301).

Faz alusões a outras regiões como os de Angola, os Fulas (chamados de pretos de raça branca) os Haúça, os Bantos, os Mandigo entre outros.

As funções desempenhadas pelos escravos iam desde trabalhos na lavoura, em minas, em ambulantes e rudes atividades comerciais, e trabalhos domésticos. Além de guarda-costas, capangas, pedreiro, ferreiro, capitões-do-mato e até carrasco de outros negros (Campos, 2003).Enfim, o tempo histórico é a escravidão. O espaço geográfico é o Brasil colônia dos Portugueses. A Capoeira surgi da resistência e descontentamento com a real situação de vários povos ultrajados e violentados por um sistema autoritário e desumano.

É impossível precisar o período exato em que chegaram os primeiros escravos no Brasil. As pesquisas em torno da emigração de escravos negros para o Brasil tornaram-se extremamente difíceis pelo gesto do então ministro do Governo Provisório, após a proclamação da república de 1889 (Freire, 1992) em mandar queimar os arquivos da escravidão. Para Freire, preciosos esclarecimentos genealógicos foram perdidos com este infeliz gesto.

Também é difícil afirmar qual a verdadeira origem da Capoeira, tendo duas fortes correntes científicas que divergem para uma Capoeira de origem africana e desenvolvida no Brasil. E outra que considera a Capoeira como uma invenção dos escravos no Brasil (Campos, 1990)

Para nosso intuito ao resgatar a história da Capoeira, não nos importa entrarmos na discussão longa de sua origem. O que de fato nos é interessante é os entramites de sua construção ao longo da também construção da sociedade brasileira o que a torna genuinamente brasileira. A Capoeira nasce do conflito entre escravos e sistema escravocrata, com as figuras da casa-grande e da senzala sendo uma ótima referencia desse conflito.

A casa-grande representando a figura do colonizadoreuropeu que aos poucos foram criando descendentes brasileiros. Assim como a senzala, a figura do negro africano, e até dos ameríndios, representando o lado antagônico dos privilégios que o branco europeu tinha em detrimentos daqueles.

Os conflitos entre "senhor" e escravo é um marco para simbologia da resistência de corpos e vidas que se encontravam numa realidade violenta, forçados a rudes e exagerados trabalhos. Silva (2003) comenta asprimeiras guerras dos Palmares no século XIII na tentativa de compreenderestes conflitos entre brancos e negros:

os negros deixaram na memória a eficácia dos corpos ágeis, astutos e flexíveis resistindo e enfrentando corpo a corpo aqueles que queriam lhe importrabalhos duros e os maltratarem como animais de carga (Silva, 2003,p. 36)

Com isso, vários escravos se arriscavam tentando uma possível fugapela capoeira (mata) durante a noite. Muitos conseguiam, outros não, e quando isto acontecia eram sujeitados a castigos pesados. A liberdade, a volta a terra mãe África, era o maior desejo dos escravos descendentes do continente negro. Um desejo um tanto difícil de se realizar pelo grande obstáculo natural: o oceano atlântico.

Para se conseguir a liberdade, mesmo que de forma representativa e não real, era representar sua terra mãe, a África, em terras brasileiras. Era construir cópias deste sonho no meio das matas brasileiras. E foi desta forma que surgiram os Quilombos.

Os Quilombos eram aldeias que acolhiam e mantinham toda riqueza e cultura afro dentro de matas fechadas que somente alguns sabiam o caminho. Era o espaço do sonho de liberdade e talvez a única possibilidade de fuga do sistema escravocrata.

Vários foram os Quilombos espalhados pelo Brasil, sendo o Palmares o mais conhecido e que mais tempo resistiu aos ataques do Governo Colonial. Mais de 24 expedições militares foram enviadas para acabar com o Quilombo dos Palmares, todas elas derrotadas. Supõe-se que Palmares tenha sobrevivido mais de 100 anos.

Se algum refugiado das senzalase dos engenhos ousassem fugir ou mesmo sair sem a devida permissão, o comando dado ao protetores do Quilombo era executa-lo o quanto antes, pelo medo da descoberta do local, por motivos conspiratório ou mesmo por pressão por parte dos Senhores de Engenho. Muito dos que procuravam os Quilomboseram índiose mulatos, fato este que pode responder o porquê do autoritarismo e da severidade das leis.

Algumas figuras se tornaram histórico pelo que representou dentro dos Quilombos. Um exemplo clássico é Zumbi, grande chefe dos Palmares, conhecido pela sua liderança e bravura, construiu um verdadeiro exército para defender Palmares. Seus integrantes combatiam ao seu lado por considera-o um rei, motivo, talvez, do sucesso nos combates das várias expedições militares que o Governo Colonial enviava para destruir Palmares, resistindo mais de 60 anos, com prosperidade e riqueza natural.

Após muitos anos de resistência o Quilombo dos Palmares, sob o "reinado" de Zumbi, foi penetrado pelo ataque das expedições militares, sob o comando de Domingos Jorge Velho. A ordem para os quilombabos, nome dado às pessoas que moravam nos Quilombos, era de fugir para o mato. Zumbi consegue em primeira instancia fugir, mas logo foi capturado. O líder negro pelejou, lutou, matou alguns homens, mas foi morto e degolado, tendo sua morte registrado o dia 20 de novembro de 1695.

Outro personagem importantedos Quilombos que merece ser mencionado foi Gunga Zumba, o antecessor de Zumbi. Era responsável por vários mocambos, espécie de pequenas aldeias de negros, não se configurava um Quilombo, e que tinha apoio de outros negros. Gunga Zumba contrariava alguns lideres quilombos, entre eles Zumbi, por ter pretensões de fazer as pazes com o inimigo. Esta idéia despertava em outros líderes o medo do risco que poderia causar para os Quilombos, fato este que levou os próprios negros a matarem Gunga Zumba levando Zumbi a liderança dos Palmares, um Quilombo de referencia.

Com a pretensão do relato da história da Capoeira, conhecer o fator histórico Quilombo é resguardar os precursores do jogo Capoeira. Pela imprecisão dos fatos históricos é difícil relacionar seguramente o fenômeno Quilombo com o fenômeno Capoeira, mas a simbologia de resistência que se configura com o Quilombo é também uma característica da Capoeira podendo ser relacionada com o uso do corpo para o combate.

A vida do negro nas Senzalas e nos Palmares foi de certa forma antagônica, no sentido do relacionamento pessoal e de trabalho, uma valorização e reconhecimento por parte dos próprios integrantes dos Palmares aos negros refugiados. No quadro do modelo de vida, teremos uma afirmação que o negro escravo era dotado de habilidades técnicas e humanas, eram possuidores de um saber racional que os "qualificam" para exercer qualquer função, mas que infelizmente o sistema escravocrata apenas o via como animais desorientados e que precisavam ser adestrados com chicotadas e castigos cruéis. Um fato que a própria forma de contar a história brasileira, através de livros "tradicionais", tentou inculcar, não pela afirmação, mas pela omissão das capacidades diversas que o negro escravo tinha.

"O tratamento dão ao negro da senzala se distingue claramente do que nos Palmares, negros dispostos a conservarem tradições, plantar para sobreviver, construir meios para a proteção de seus corpos cheios de espiritualidade" (Silva, 2003, p.45)

Por volta da primeira metade do século XIX, diante das tantas maldades e crueldades sofridas pelos negros, que agora, já praticamente libertos e não tendo espaço na sociedade, sendo jogado às margens, os negros causarão rebeliões e desordem nos povoados como forma de chamar atenção para sua situação de liberdade sem assistência do Estado.

O negro de liberdade vivia, então, perambulando e mendigando pelas ruas da cidade. Agitavam e chamavam atenção pelos seus gestos, e diante desta situação a melhor forma para resolver o problema da "vadiagem" e da "capoeira" era criando leis que os proibissem sob a pena de reclusão nas cadeias públicas da cidade, solução esta que não resolveu o verdadeiro problema da mão-de-obra provinda dos cativeiros, mas sim o problema do descontentamento das elites quanto à segurança de suas famílias. " A repressão dos policiais era forte contra a chamada vadiagem dos arruaceiros capoeiras" (Silva, 2003, p. 48)

No auge da descriminação tanto do negro quanto da Capoeira, surgi na Bahia Vicente Ferreira Pastinha, o mestre Pastinha, responsável em organizar a arte, o jogo Capoeira como forma de manter as tradições e cultura afro. Pastinha se empenhava em desvincular a vadiagem da Capoeira. Aprendeu os primeiros passos da ginga com um africano seu professor, Bentinho.

Antes de Pastinha, pelo fato da proibição em código penal, o jogo de corpo da Capoeira não era muito percebido, jogavam-se as escondidas, às margens das cidades. A Capoeira defendida por Pastinha é a Capoeira de Angola, uma distinção à Capoeira Regional criada na Bahia em 1928, por Manoel dos Reis Machado (Mestre Bimba).

Mestre Bimba utilizou seus conhecimentos da Capoeira de Angola, com quem aprendeu com Bentinho, capitão da Companhia de Navegação Baiana, e do Butuque, uma espécie de luta braba, violenta, onde o objetivo era jogar o adversário no chão, usando apenas as pernas. Bimba sistematizou o ensino da Capoeira Regional criando uma seqüência de aprendizagem. O aluno era submetido a vários exames para saber se tinha condições físicas e psicológicas para aprender a Capoeira.

"As características principais da Capoeira Regional são: Exame de Admissão, Seqüência de Ensino de Mestre Bimba, Seqüência da Cintura Desprezada, Batizado, Esquenta Banho, Formatura, Iuna, Curso de Especialização e Toque de Berimbaus" (Campos, 2004, p. 37-38)

Até hoje em dia muito destas características são mantidas pelos grupos de Capoeira, tendo outras, como o esquenta banho, perdido um pouco o sentido, por se tratar de uma prática violenta em que os alunos mais velhos desafiavam dois, três ou mais adversária no intuito de treinar golpes difíceis.

Este novo estilo de Capoeira criou tanto adeptos que seu processo para a prática livre não tardou. Mestre Bimba se aproveitando da forma repentina com que seu jogo ganhou espaços nas camadas populares, pediu, num discurso eleitoral do então Presidente Getúlio Vargas na década de 1930, permissão para demonstrar seu jogo-arte. Permissão cedida, Bimba demonstrou o jogo de Capoeira para centenas de pessoas, parecendo ao presidente poder contribuir para seu poder com o apoio daquela massa popular. Foi quando ocorreu o decreto que considerou a Capoeira um esporte genuinamente Brasileiro. (SILVA, 2003)

Diante desta nova realidade, na figura do memorável Mestre Bimba, a Capoeira passará a conquistar muitos espaços na sociedade, sendo o corpo e o gesto instrumentos da construção de ritos e símbolos de uma linguagem própria em que figura o mundo e toda sua complexidade.

3.3. Símbolos e valores da Capoeira

Para abordar a Capoeira como um conteúdo pedagógico da Educação Física é importante reprisarmos que estes conteúdos têm que estar de acordo com os objetivos previamente propostos para se alcançar com os alunos, e que os objetivos propostos estão dentro das tendências pedagógicas que a Educação Física incorporou historicamente dentro da instituição Escola. Uma destas propostas, a abordagem, Crítica-superadorea, que tem como objetivo central a leitura representativa da realidade social que cerca a Escola e os alunos, através de conhecimentos e saberes da cultura corporal. Para isso, elucidaremos alguns valores simbólicos que a Capoeira traz em sua gênese e evolução histórica, como ferramenta para a leitura representativa de diversas realidades do Brasil. Pois o significado e "a identidade da Capoeira passa pelos seus valores afro-brasileira que representou e representa toda uma historicidade daorigem do próprio povo brasileiro" (Campos 2003, p. 77).

Alguns símbolos do universo da Capoeira que serão apresentados como ancoras para o ensino da Educação Física focada dentro da perspectiva da leitura representativa da realidade e da justiça social. Lembrando que a própria história da Capoeira traz elementos significativos para tais perspectivas.A ginga, a "roda", os instrumentos (berimbaus, atabaque e pandeiro) e alguns movimentos básicos trazem relevâncias simbólicas do mundo da Capoeira para os valores reais da vida em sociedade, numa analogia jogo de Capoeira e jogo da Vida.

A descrição desses elementos mostra como a Capoeira é capaz de estimular o interesse pelo conhecimento e prática da arte, do jogo brasileiro, trazendo as relevâncias que estes elementos simbólicos têm para os objetivos da Educação Física Escolar.

3.3.1 A ginga

A musicalidade da Capoeira talvez seja um dos diferenciais que a identifica dentro do universo da cultura corporal. E é através dessa musicalidade que se deu perna para um sincronismo incessante ao ritmo dos tambores e berimbaus como o movimento primeiro e principal da Capoeira: a ginga.

No ensino da Capoeira a ginga é o movimento primeiro a ser aprendido. É o gesto de identidade, através da qual o capoeira inicia muitas vezes seu jogo. A importância desse gesto simbólico é afirmada por Silva (2003) como fundamento natural da Capoeira: gingar na roda é fundamental, pois o balanço feito, realizado sobre as pernas e quadril, é a base principal [...] é como a espinha dorsal do homem, sem a qual não se caminha. (Silva 2003, p. 98)

A ginga está caracterizada simbolicamente pela sua ambigüidade de movimentos que pode assumir dentro de várias realidades de jogo. Gingar é não manter-se parado em nem um momento, aja as incertezas que for. Gingar na Capoeira é um reflexo do jogo e do jogador. Melhor nas palavras de João Batista Freire (2003) quando cita que "gingar é a representação simbólica do luta brasileira do dia-dia. É uma arte não verbal da comunicação humana" (Freire et al, 2005, p. 109).

3.3.2 O berimbau

O berimbau é o instrumento singular dentro da orquestra que compõe uma roda de Capoeira. É quase impossível se imaginar uma roda de Capoeira sem a presença das melodias incessantes produzidas, principalmente, pelos sons dos berimbaus, tendo, também, o atabaque, o pandeiro e, em algumas rodas, o agogô.

Existem três tipos de berimbaus diferenciados pelos tamanhos das cabaças presas a uma das extremidades do berimbau.

O gunga que é considerado o mestre responsável em dar o ritmo ao jogo. Vários são os ritmos destinguidos por um tipo de jogo que se caracteriza pelas movimentações e pela velocidade. Podem ser o jogo e/ou ritmo de Angola, São Bento Pequeno, São Bento Grande, Santa Maria, Jogo de Fora, Jogo de Dentro, Iuna entre tantos outros.

Outros dois berimbaus, o médio e a viola, têm funções subordinativas ao "mestre" gunga, eles dão uma pincelada no ritmo, realça alguma característica do toque do gunga com o intuito de identificar melhor o jogo.

O elemento berimbau em todas suas possibilidades de execução é um elemento pedagógico por natureza. Ele traz o interesse e o estimulo ao canto e à música. Possibilita um conjunto de atividades focadas dentro da perspetiva da autonomia e da criatividade, elementos importantíssimos para o ato de refletir uma realidade estudada. Numa proposta de ensino em Educação Física, o berimbau pode oportunizar a leitura simbólica de muitas relações pessoais e sociais. Podem ser instrumentos (num duplo sentido) para aulas focadas na discussão das 'relações de poder' dentro do jogo como dentro da vida social.

3.3.3 A "roda"

A roda de Capoeira é uma das mais ricas ocasiões de aprendizado e de leitura simbólica que a Capoeira pode oferecer como um conteúdo pedagógico. É na roda que o aluno vai sentir toda a magnitude da energia vibrante dos elementos que compõem a Capoeira. É o momento de interagir com o grupo, mostrando a singularidade do jogo de cada pessoa, pois cada pessoa senti diferente a vibração do canto, da música e das palmas.

Jogar capoeira ca roda é algo extremamente excitante que proporciona uma motivação todo peculiar, tendo o educando a oportunidade de vivenciar confrontos ricos, interagindo com outros colegas, e expressar toda sua criatividade, expressão corporal e plasticidade (Campos, 2003, p. 91)

Ainda Campos (2003) "a roda tem uma dimensão profunda que mantém o espírito harmônico com o cosmo maior, movimentando grande quantidade de energia devido a soma de toas as energias presentes" (Campos, 2003 apud Costa, 1993, p. 114).

O valor simbólico da 'roda' é unânime dentro dos grupos de Capoeira. É um espaço pequeno onde apenas dois capoeiras podem jogar a cada vez, existindo a 'compra' para àquele que pretende jogar e está ou cantando ou batendo palmas, respondendo o coro, ou tocando os instrumentos.

"A roda é interpretada como um espaço onde se faz, dentro de pequenos metros, por dois jogadores, ao som de uma orquestra de tocadores de percussão, sob a animação de vários(as) capoerista em forma de círculo, uma espécie de disputa dançada, e no qual espaços se parece Ter intenção de conquista e superação" (Silva, 2003, p.90).

No ensino da Capoeira, nas primeiras aulas propostas aos alunos, talvez venha a idéia de fazer logo uma "roda" e gingar. A roda, diferente da ginga não é um elemento a ser apresentado no início da aprendizagem. Trata-se de um momento impar na Capoeira em que seus praticantes já tenham compreendido a importância da ginga e de alguns movimentos básicos, que serão, neste trabalho, apresentado adiante. Fato este que não implica na impossibilidade de se realizar logo nas primeiras aulas uma roda de Capoeira.

Vale a pena relembrar que as estratégias de ensino da Capoeira na Escola não podem ser as mesmas usadas pelos grupos em academias e outros espaços. A Escola é um espaço singular.

3.3.4 Movimentos Básicos

Os movimentos básicos são uma seqüência lógica de movimentos de ataque, defesa e contra-ataque, sendo apresentado aos iniciantes de forma simplificada concomitantemente com a ginga. É o que o mestre Bimba caracterizou como Seqüência de Ensino de Mestre Bimba, mas que sofreu alterações pelos grupos de Capoeira. São os seguintes os movimentos básicos: Esquivas (de frente, de lado, frontal, negativa, cocorinha,), Descida Básica, Rolê, Golpes (meia-lua, armada, martelo, bênção, queixada, meia-lua de compasso, rasteira etc.) e os floreios (aú, safona, queda de rins, carrocel, folha seca entre tantos).

O primeiro passo para se joga a Capoeira, referindo-se os procedimentos didáticos, é, como já vimos, a ginga. Ela poderia ser descrita como movimento básico do jogo. Porém, existe um conjunto de movimentos próprios da Capoeira que se caracteriza por dar ao jogo dinamismo e imprevisibilidade, e que são definidos por Movimentos Básicos.

Uma boa apresentação para os movimentos básicos seria: movimentos de ataque, defesa e contra-ataque, não se esgotando nesta definição, pois estes são, antes de ataque, defesa ou contra-ataque, movimentos de transformação que tornam a Capoeira bonita de se ver e interessante de se jogar. Movimentos muitas vezes acrobáticos, que se parecem ginástica misturada com frevo, algo bem brasileiro.

Para os procedimentos didáticos do ensino da Capoeira na Escola os movimentos básicos são objetos de aprendizagem também rica simbolicamente e que pode representar várias possibilidades para a leitura figurativa da realidade. Usando-se do dualismo ataque-defesa, a representação figurativa dos esquemas corporais proposta pelos moviemntos assemelha-se ao dualismo da vida pessoal e social sendo então de alto valor simbólico para a compreensão e reflexão de uma determinada realidade.

Silva (2003) em seu objetivo de abordar o corpo simbolicamente dentro da Capoeira, faz uma observação sobre o grande valor que se dá ao corpo de pernas por ar. Movimentos que desafiam as leis da gravidade e que tornam a Capoeira mais impressionante visualmente. A idéia de simbolizar a Capoeira como um mundo cheio de vidas e de relações complexas como nossas vidas no mundo, invertendo valores, afirmando que um outro modelo de relação de vida é possível, dentro de esquemas simbólicos próprios como a Capoeira usa para retratar sua história e realidade: "a lógica do avesso que perpassa os movimentos corporais da Capoeira faz da roda de Capoeira um mundo invertido. 'Anda-se' com as mãos no chão e os pés para o alto" (Silva, 2003, p. 104 apud Reis, 1993, p. 116)

Para a proposta a Capoeira dentro dos conteúdos da Educação Física Escolar, não se deve exagerar nos detalhes técnicos dos movimentos, "a capoeira como meio de Educação Física deve privilegiar a experiência, a vivência e a iniciação" (Freire et al, 2005, p.111)

CONCLUSÃO

A componente curricular Educação Física é tão importante quanta outra qualquer componente obrigatória para a efetivação das propostas educacionais da Escola. A prática educativa dos professores de Educação Física é subsidiada por um conjunto de conhecimentos em que o professor tem maior domínio da teoria e da prática, proporcionado pelo seu curso de graduação e por suas vivências pessoais.

Para se alcançar os objetivos propostos através do ensino da Educação Física, - objetivos estes dentro da perspectiva crítico-social, em que o aluno possa compreender e refletir a realidade que o cerca, proporcionado pela prática da cultura corporal, - a Capoeira torna-se uma rica opção de conteúdo a ser apresentado nas aulas, devido suas relevâncias elementais como a história e seu conjunto de movimentos que se afirmaram dentro da cultura corporal brasileira.

Compreendendo a importância da instituição Escola quanto a importância do segmento da educação formal – a Educação Física Escola – as relevâncias apresentadas pelo conteúdo Capoeira aos objetivos da Educação Física Escolar é respaldado pelo conjunto de elementos existenciais e simbólicos que tornaram a Capoeira uma manifestação da cultura corporal brasileira.

A história da Capoeira, que durante sua origem e evolução mesclou-se com a própria história do Brasil, é o elemento primeiro das relevâncias que este conteúdo pode oferecer para os objetivos da Educação Física Escolar. A análise da trajetória de luta e resistência em que o negro escravo percorreu para conquistar a liberdade através de toda sua agilidade e força, é o motivo que faz da história da Capoeira um elemento rico para a elucidação nas aulas de Educação Física de questões sociais históricas que a sociedade brasileira precisa relembrar.

Outros elementos importante são os símbolos singulares que fazem existir o jogo de Capoeira: berimbau, música, ginga, a roda e movimentos básicos. Símbolos que analisados pelos seus valores que assumem dentro do mundo dos capoeiras, trazem as relevâncias para o ensino da Capoeira como um conteúdo pedagógico.

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Autor: Érico Costa Bernardo


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