Felicidades para o Novo Ano? Não tenha esperanças!



Na cultura Sufi há diversas histórias deliciosas sobre um personagem conhecido por Nasrudin, um sábio do povo, aparentemente tolo que provocava as pessoas à sabedoria com um espirituoso bom humor. Diz-se que numa delas, Nasrudin caminhava pelo mercado central da cidade, quando subiu numa pedra e começou a falar com as pessoas:
- “Ó povo deste lugar, querem prosperidade sem esforço, saúde sem disciplina e felicidade sem consciência?”.
E logo, as pessoas juntaram-se em volta do sábio e gritavam em coro:
- “Queremos, queremos, queremos!”.
E então Nasrudin respondeu:
- “Ah! Obrigado, era só para saber. Mas podem ficar tranqüilas, pois contarei tudo a vocês caso algum dia descubra algo assim”.

Essa parábola, juntamente com as celebrações de final de ano, me faz refletir sobre as escolhas e caminhos que trilhamos rumo à felicidade. É uma época de balanço e avaliação do que passou, enquanto iniciamos o novo ano, com novos e mais planos e com a esperança de que este ano seja ainda melhor. A expectativa de boa parte das pessoas é ganhar mais dinheiro, ter mais saúde e tudo aquilo que contribua para sua felicidade e realização pessoal.
Para alguns pensadores gregos, felicidade seria algo que acontece conosco e não teríamos controle sobre isso. Nesse caso, dependeríamos dos favores dos deuses para chegarmos à felicidade. Assim, tudo o que supostamente contribua para nossa sorte de cair nas graças dos deuses, pode ser um iniciativa válida (desde vestir-se de branco, pular sete ondas no mar até comer lentilha na ceia de Reveillon). Por outro lado, outros pensadores afirmaram que a verdadeira felicidade viria somente por meio da razão e da vida virtuosa.
Para Epicteto, grande filosofo do estoicismo, felicidade e realização pessoal são conseqüências naturais de atitudes corretas, onde o compromisso com o progresso é mais importante que a busca da perfeição. Sua noção de uma boa vida não é seguir uma lista de preceitos, mas levar nossas ações e desejos a se harmonizarem. A questão não é agir bem para conquistar os favores dos deuses ou a admiração dos outros, mas adquirir serenidade interior e consequentemente, uma liberdade pessoal duradoura. Querer mais do que é possível conseguir, assim como ser negligente com seu plano de vida, pode ser fonte de intranqüilidade, frustração e infelicidade. A receita para uma boa vida, segundo Epicteto, concentra-se em três temas principais: dominar os desejos, desempenhar as obrigações e aprender a pensar com clareza sobre si mesmo e seu relacionamento com os outros.
Em seu livro “Felicidade Desesperadamente”, o filosofo francês André Comte-Sponville sugere dois caminhos para a felicidade. O primeiro, e mais comum, é a pessoa desejar aquilo que não depende dela conseguir, contando sempre com algo ou alguém que realize o que se deseja. Este é o caminho da esperança. O autor sugere “livre-se da esperança”, do ato de esperar, do ranço cultural que nos impregna de apatia e que traz mais frustrações e decepções do que realização. O segundo caminho, para Sponville, está em a pessoa desejar aquilo que depende dela, começando em “querer e amar o que se tem”. Satisfação pelo que se tem é essencial para a felicidade, pois não devemos perder de vista que o que vivemos no presente, em grande parte, deve-se a nossas escolhas e decisões do passado. Com isso, podemos mudar nosso futuro agindo bem agora. Este é o caminho da força de vontade e do contentamento.
É fácil perceber que cada um de nós tem duas vidas: uma externa e outra interna. Nossa vida externa está associada aos diversos papéis que exercemos no cotidiano (profissional, pai / mãe, amigo (a), entre outros) e naturalmente temos bastante pressão, tanto interna quanto externa, para sermos excelentes e obtermos êxito em cada um desses papéis. Essa é a nossa vida material. E quanto mais nos submetemos as pressões da vida material, quanto mais expectativas alimentarmos com coisas e pessoas, quanto mais meu bem estar e realização depender da aprovação dos outros ou da promoção tão sonhada, menor será minha felicidade. Por outro lado, temos a vida interna, que envolve a relação que temos com nosso intimo, com o como nos relacionamos com nossas emoções, crenças, valores e em como vemos e nos posicionamos diante das experiências da vida. Essa é nossa vida espiritual. A qualidade da vida interna viabiliza a qualidade da vida externa. Entendo que a felicidade verdadeira é viável por meio de uma vida integra e coerente. O equilíbrio na vida envolve priorizar o que realmente é importante, perseguir nossos objetivos com foco e serenidade, lutar pela promoção com respeito ao outro, exercitar a tolerância com as pessoas, fazer o que tem que ser feito sem expectativas exageradas. A intranqüilidade vinda dos exageros nos afasta da felicidade.
A maioria de nós vive como se fossemos eternos, como se todas as coisas que supostamente nos trazem felicidade não acabassem. Antes do Natal, visitei um amigo muito querido, jovem e forte, mas que inesperadamente passou sérias dificuldades de saúde em 2007. Falamos sobre o valor do presente, a importância do agora e do quanto estávamos satisfeitos por nossa amizade, pela família, os filhos e pela vida que tínhamos, com todos os percalços, erros e acertos. Compartilhamos o contentamento, sem esperar nada da vida, apenas desfrutando do que somos e tínhamos conseguido até o momento, comprometidos em fazer o nosso melhor a cada novo dia, deste novo ano, até quando nos for permitido.
Autor: Carlos Legal


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