Inteligência Integral: Uma reflexão utópica



Individualmente, somos seres extremamente inteligentes, podemos realizar coisas incríveis utilizando a maior dádiva confiada exclusivamente aos seres humanos e que nos diferencia dos nossos conterrâneos terráqueos: somos os únicos seres capazes de pensar, discernir, refletir, decidir, fazer contas, controlar emoções, criar coisas, etc. Inteligência cognitiva, inteligência emocional, inteligências múltiplas, inteligência espiritual e até inteligência sexual são apenas algumas das teorias cientificas ou empíricas que visam ajudar as pessoas a entender e desenvolverem as suas ilimitadas capacidades.

Mas o fato é que, com toda essa capacidade, ainda continuamos a ter problemas, sejam eles pessoais, íntimos, familiares e, principalmente, sociais. Globalmente, somos “burros”, pois como grupo ainda somos incapazes de resolver problemas que afetam a todos nós. Todos os dias, quando leio ou assisto um jornal, faço uma inconformada reflexão: “como ainda o ser humano sofre ou gera sofrimento, com tanta inteligência?”. O caos e o vazio da sociedade moderna é apenas o reflexo do vazio individual. Intimamente estamos perdidos. Mas só vivemos isso porque estamos ainda desintegrados de nós e da natureza, vivemos ainda uma vida egoísta, com pouca consciência dos efeitos das nossas ações cotidianas, uma vida fragmentada, onde o corpo está dissociado da mente, a mente das emoções, as emoções do sexo e o sexo da alma.

Até aqui já deu para você perceber que não tenho a pretensão de lançar mais uma teoria sobre inteligência, mas apenas provocar a sua reflexão, sobre a(s) sua(s) própria(s) inteligência(s) e, talvez o mais importante, a aplicação consciente das suas capacidades no cotidiano, no trabalho, nos relacionamentos (profissionais, pessoais, íntimos).

O termo integral significa inteiro, completo. E, aplicado ao comportamento humano, nos faz lembrar de uma das mais importantes e necessárias virtudes humanas: a integridade. As tradições orientais, em sua grande maioria, fundamentam-se na busca do ser integral, perfeito e inteiro nas suas ações, consciente de seu próprio Ser e de suas capacidades, conectado com o ambiente, a natureza e o Cosmo. A yoga, por exemplo, fundamenta-se na orientação de valores morais, sociais, íntimos, físicos, intelectuais e espirituais, preparando o Ser para alcançar tal integridade. Os valores morais e espirituais, naturalmente de ordem superior, orientam os outros valores. Há uma interdependência entre todos eles, pois fazem parte de um sistema único. O que as tradições dizem é que a moral e o espírito devem pautar e coordenar o uso adequado da inteligência, pois, do contrário, viveríamos o caos (e o que vivemos hoje, hein?). Segundo essas mesmas tradições a fonte para todo sofrimento é o desejo desenfreado e o apego, por tudo aquilo que o mundo moderno pode oferecer. Nossa mente busca o prazer e evita a dor, e a não realização do prazer gera frustração e desconforto. Tudo aquilo que a mente não quer. No entanto, a busca por isso gera o impulso para agir de forma muitas vezes pouco inteligente, o que faz gerar mais frustração, ansiedade, depressão, discórdia, etc.

A integridade torna a pessoa apta a se relacionar bem consigo mesmo, com o outro e com a natureza, descobrindo e utilizando seu potencial de forma gradativa, e conduzir sua vida com qualidade, responsabilidade, harmonia, transformando-se na peça fundamental de uma sociedade harmonizada e sadia.

Para ilustrar isso, vou citar uma interessante metáfora: se compararmos um organismo vivo – por exemplo, nosso corpo – com uma organização – empresa, família, sociedade, planeta – perceberemos que, as semelhanças transcendem o prefixo da palavra. Vejamos o organismo: somos formados por células – o indivíduo do corpo – que, reunidas, formam os tecidos e órgãos especializados. Quando uma célula deixa de interagir com o todo e faz seu trabalho isoladamente, a ordem é perdida e existe uma “contaminação”, iniciando assim a doença (câncer, por exemplo). E o objetivo “instintivo” de cada célula no organismo é manter o corpo sadio, para garantir a sua própria sobrevivência. Agora transfira esse raciocínio para a organização, seja ela qual for, e tire suas conclusões. É fato que, individualmente, consciente ou não, ajudamos a construir a empresa, a sociedade e o mundo em que vivemos e ainda compartilhamos isso com outros trilhões de indivíduos.

O Ser integralmente inteligente possui essa visão ampla de sua condição e de seu papel como integrante do mundo. Possui uma capacidade elevada de realização, com menor esforço e desgaste físico e emocional. Sabe que pertence a algo maior que ele próprio. Vive com integridade, cada instante de sua vida e tem consciência de que é falível. Quando se tem esse sentimento (que é uma certeza na vida), somos mais cuidadosos, em todos os sentidos.

Inteligência Integral é característica das pessoas altamente espiritualizadas. Não uma espiritualidade vinculada aos dogmas ou religiões, mas uma espiritualidade pautada em valores éticos e morais norteadores da conduta individual como ensinou Mahatma Gandhi. O Ser integralmente inteligente possui uma consciência não-dual, consciente de sua capacidade de realização (com humildade) e um comportamento participativo, solidário e equilibrado.

Inteligência Integral é certamente uma utopia. E, como dizem os filósofos, utopia não é o irrealizável, mas o ainda não realizado – aquilo que não tem espaço no momento. Mas é a busca individual e coletiva de cada um de nós. Para fazer frente às crescentes exigências e crises da vida moderna, necessitamos cada vez mais de uma resposta integral da inteligência humana. Plenitude, integridade, verdade, saúde e consciência fazem parte da Inteligência Integral que é uma das maiores utopias atuais.

E como precisamos dela.
Autor: Carlos Legal


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