Por que a crise está fazendo tanto barulho?



O tema da vez é a crise. É crise pra lá, crise pra cá e o fato é que todo mundo está preocupado. A crise global tem nos trazido inúmeros desafios e nos exigirá reflexões e reposicionamentos. Independente das especulações e prognósticos, eu também tenho inúmeros questionamentos, inseguranças e dúvidas e, diante dos fatos faço quatro perguntas ao leitor e compartilho minhas reflexões sobre elas. Por que a crise está fazendo tanto barulho? Como devo me posicionar diante dela? Que mudanças ela trará? Como posso aprender com ela?

Por que a crise está fazendo tanto barulho? Essa crise não é a primeira, nem a última e nem a única que estamos vivendo. Temos outras crises simultâneas, como a crise ambiental e os incansáveis alertas (em vão) de cientistas e especialistas; a crise social (violência, corrupção, desvalorização da educação, da saúde, etc.) e os diversos incômodos que ela traz para a vida de todos nós; a crise intima (percebida pelo aumento dos casos de depressão, estresse, consumo de drogas, etc.). E a crise econômica só está fazendo mais barulho porque é o valor dominante na cultura capitalista, onde o dinheiro tem sido uma prioridade e suplantado outros valores menos prioritários. A educação, a saúde pública, os cuidados pessoais com a saúde, a consciência ambiental e a boa convivência social são valores que parecem ser secundários. Essa não é a pior crise que estamos passando, ela é apenas a mais valorizada, obviamente porque o que está em jogo é o maior valor vigente – o dinheiro e o consumo.

Como devo me posicionar diante dela? Toda crise traz uma mudança e uma oportunidade para evoluir. Se o valor vigente está ameaçado, temos a oportunidade de revisão e aprimoramento dos valores e da visão de mundo. Nosso erro mais evidente foi dar ao dinheiro um valor soberano, quase supremo. É apenas um valor social / pessoal que deve estar equilibrado com outros importantes valores. Um posicionamento viável é encarar a crise como um fenômeno natural, que faz parte da vida e que podemos evoluir e nos aprimorarmos. Encarar a crise com naturalidade, envolve perceber e aceitar que todo fenômeno que ocorre no mundo possui uma natureza cíclica, alternando-se momentos de crescimento / recolhimento, assim como observamos na própria natureza (verão / inverno, dia / noite, sono / vigília, vida / morte). Os valores e visão de mundo que nos levaram à crise desconsideravam a possibilidade da perda, do recolhimento, da escassez. Ficamos mal acostumados com a abundância (haja vista o enorme desperdício existente no mundo). Posicione-se diante da crise (e da vida) considerando a possibilidade da perda, pois quando ela acontecer (e vai sempre acontecer), o que faço? Muitas pessoas não têm uma resposta para isso e ficam completamente perdidas. A angustia que muitos sentem atualmente vem do ressentimento e do fato de ignorarem que aquele momento de bonança pudesse acabar.

Que mudanças ela trará? É difícil prever que mudanças essa crise trará, mas tenho algumas inferências. A primeira mudança possível é no campo dos próprios valores. Num momento de crise, de angustia e incertezas, as pessoas voltam sua atenção para aspectos que lhe tragam mais conforto e apoio, que em momentos de bonança podem ficar de lado. Priorizam a família, os relacionamentos, a espiritualidade (nessas horas até quem nunca rezou começou a rezar) e a generosidade (pessoas são mais cooperativas em situações criticas). Outra mudança possível é no campo da criatividade. As pessoas tendem a buscar outras e novas formas de subsistência, de trabalho e empreendimentos. Quantas pessoas não têm colocado em prática um talento pessoal para engordar o orçamento ou mesmo superar o desemprego. Há ainda mais uma mudança. A felicidade tenderá a se basear menos no consumo, reconhecimento e status e mais no amor, satisfação com o que se tem e convivência.

Como posso aprender com ela? Quando perdemos algo no começo, só conseguimos ver o que perdemos. Mas, e o que ganhamos? Numa crise (seja intima, pessoal, profissional, mundial) tendemos a ver somente as nossas perdas, e sofremos pelo apego que temos com o que estamos arriscados a perder. De fato, não somos donos de nada, nem de nosso próprio corpo. Mas, numa situação de crise, e o que ganhamos, onde fica? Com certeza há uma oportunidade de reflexão sobre nossas próprias negligências e prioridades equivocadas. Também somos provocados a melhorar, a estudar, a sermos mais criativos e inovadores. Podemos transformar a ganância em generosidade, a aspereza em tolerância, o egoísmo em compaixão, a indiferença em união. Revisamos e reforçamos valores, aprendemos a pedir ou oferecer ajuda e assim damos mais um salto evolutivo em nossa temporária aventura no planeta azul.

Boa crise para você.
Autor: Carlos Legal


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