A ARTE DE FAZER A GEOGRAFIA



Há algum tempo tenho levantado inúmeros questionamentos sobre o motivo pelo qual muitos não conseguem fazer geografia. Também tenho indagado porque vários não entendem essa ciência e mesmo assim continua a elaborar estudos supérfluos denominando-os geográficos.

Primeiro gostaria de ressaltar a verdadeira necessidade de denominar algo como geográfico, pois para se enquadrar no contexto desse estudo deve-se ter como base os conceitos epistemológicos do mesmo. Se não o fizer corre-se o risco de ser mais uma ferramenta dos dominadores para com os dominados.

Antes de começar a esboçar o objeto de estudo da geografia, é de fundamental importância conhecer as correntes do pensamento geográfico. Sabendo que para chegar ao estado em que a geografia se encontra foi necessário um contexto histórico que se estende do final do século XIX e culmina nos dias atuais.

Como primeiro paradigma geográfico tem-se o determinismo ambiental, seus componentes pensadores justificavam que as condições naturais seriam determinantes para o comportamento do homem e que a mesma seria responsável para sua evolução. Em contrapartida, o possibilismo considera também a relação homem e natural diferenciando do outro quanto a determinação natural.

O Método Regional ou regionalismo segundo CORRÊA “... a diferenciação de áreas não é vista a partir das relações entre homem e natureza, mas sim da interação de fenômenos heterogêneos em uma dada porção da superfície da terra”. A Nova Geografia, por sua vez, tem um caráter quantitativista que busca uma concepção ideológica, pois era necessário justificar a novo conjuntura e assim dar esperança aos não beneficiados pelo processo que se dava nos anos de 1950, assim entendiam que o subdesenvolvimento era uma etapa a ser ultrapassada para que se pudesse chegar ao sucesso.

Todos os movimentos de superação epistemológicas visto até agora foram necessários para que se desse o grande salto da geografia. Com isso devemos respeitar as correntes passadas, pois será por elas que conseguiremos alcançar o êxito do pensar, devemos aprender com erros e assim não cometê-los futuramente.

O movimento de grande repercussão e que ainda está se desenvolvendo em nossos dias e que teve como fator de firmamento o grande encontro entre o marxismo e a geografia. Esse movimento desenvolveu-se no final do século XIX e foi uma corrente que teve grande repercussão em todo o mundo inclusive no Brasil, com seu auge no final da década de 1970. A Geografia Critica buscava atender as necessidades de explicação dos fenômenos que se desencadeavam e assim ter uma resposta para ao que acontecia contestando freneticamente o pensamento dominante. Era de se esperar que essa corrente não teve grande aceitação na ditadura militar, Visto que a mesma não podia mais ser usada para com os interesses do Estado, e grandes nomes como Milton Santos tiveram que se exilar em outros países.

Sabe-se que a geografia crítica pode ser considerada a “filha rebelde” das ciências, é que quando se esperava uma ferramenta em prol da dominação capitalista surge um movimento justamente para criticar e expor todos os males desse selvagerismo em torno do desenvolvimento. Porém era necessário estabelecer um padrão, e não apenas descrever o espaço e sim enxergar as relações nele existente.

Julgo ser de importância fundamental o conhecimento dessas correntes para que se possa vislumbrar como o capital é perverso e é capaz também de se apoderar de suas críticas. Como exemplos disso temos a grande moda de desenvolvimento sustentável, essa nada mais é do que uma forma encontrada para se ganhar mais dinheiro, mascarando assim os verdadeiros problemas que assolam a sociedade. Um grande empresário não pode pensar em preservar aquilo que lhe dá lucro, pois se não de onde ele irá tirar sua renda?

Assim, antes de aventurar-se pelo conhecimento, seja ele qual for, e fundamental conhecer a história dele para não cometer equívocos como dos “numerólogos alarmistas” que afirmam catástrofes mundiais apenas para sua própria promoção.
Autor: Eder Lira


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