80 Bilhões de Reais para as Empresas



É quanto os investidores institucionais vão destinar por ano à produção até 2009

Giuliana Napolitano

Os fundos de pensão e outros investidores institucionais, como as seguradoras, os planos de previdência privada e os fundos de investimento, devem injetar mais 400 bilhões de reais no mercado de capitais brasileiro nos próximos cinco anos a partir de agora — uma montanha de dinheiro, que vai financiar sobretudo investimentos produtivos, tanto na infra-estrutura quan¬to no setor de agronegócios. A previ¬são consta de um estudo recém-concluído pelo economista Carlos Antonio Rocca, professor da Universidade de São Paulo, obtido com exclusividade por EXAME.
Trata-se de uma ótima notícia para o mundo das empresas, ávido por capital — de preferência a baixo custo e de longo prazo, exatamente o perfil dos recursos que os investidores costumam colocar à disposição do setor produtivo. Se essa estimativa se confirmar, o total de recursos disponível para os negócios vai mais que dobrar. "Faz todo sentido imaginar que esse crescimento realmente vá ocorrer", afirma Robert John Van Dijk, presidente da empresa de gestão de recursos do Bradesco, que administra quase 90 bilhões de reais em fundos. "Para aumentar a rentabilidade e reduzir os riscos, esses investidores terão de diversificar suas aplicações."
Hoje, os investidores institucionais possuem uma carteira total de 776 bilhões de reais. Dois terços desse dinheiro vêm sendo aplicados em títulos públicos federais. O terço restante — 250 bilhões de reais — é o que sobra para investir nas empresas, por meio de mecanismos como ações, debêntures, fundos de recebíveis e de capital de risco e títulos de financiamento do agronegócio. Para Rocca, a fatia disponível para os negócios vai aumentar para cerca de 650 bilhões de reais até 2009. Isso representa um incremento de mais de 10 pontos percentuais do produto interno bruto (PIB). "O Brasil começa a seguir a tendência mundial de maior participação dos investidores institucionais no mercado financeiro", diz Rocca, que integrou a equipe do Conselho Monetário Nacional (CMN) entre 1991 e 1994, foi secretário da Fazenda paulista nos anos 70 e presidente da antiga loja de departamentos Mappin até o início da década passada.
A razão pela qual os investidores institucionais já começam a procurar novas alternativas de aplicação na iniciativa privada, especialmente no setor produtivo, está na lógica de qualquer capitalista que se preze — buscar um retorno maior com o menor risco possível. Isso, segundo os investidores, pressupõe reduzir gradativamente a participação de títulos públicos na carteira. "Se não diversificarmos nossas aplicações, em algum momento, essa estratégia vai dar errado, para nós ou para o Estado", diz Ricardo Malavazi Martins, diretor financeiro e de investimentos da Petros, fundo de pensão dos funcionários da Petrobras. A Petros é o segundo maior fundo de pensão do país, com 25 bilhões de reais em ativos. Segundo Martins, em algum momento o governo fará um ajuste fiscal que deve reduzir a oferta e a rentabilidade dos títulos públicos. De acordo com ele, a Argentina é um bom exemplo do que acontece quando o governo não se ajusta. "Nos últimos dez anos, o governo argentino não honrou seus compromissos com os investidores por duas vezes", diz Martins. "Os grandes prejudicados foram os fundos de pensão, que tinham muitos títulos públicos."
As contas de Rocca confirmam a previsão de outros especialistas de que a participação dos títulos públicos no mercado vai cair nos próximos cinco anos. Esses papéis devem responder por 43% da carteira dos investidores institucionais em 2009 — hoje, o percentual está em 68%. "Ou seja, todo ingresso de dinheiro novo vai para o setor privado", diz ele. Onde esses recursos extras serão aplicados? Boa parte dele deve ser drenada para fundos de participações, também conhecidos como private equity.
É isso que já estão fazendo a Petros e a Funcef, a fundação dos funcionários da Caixa Econômica Federal. O terceiro maior fundo de pensão do país, com 20 bilhões de reais em ativos. A Petros montou no ano passado o fundo Brasil Energia, que é administrado pelo banco de investimentos carioca Pactual e já tem capital de 750 milhões de reais. "Queremos investir em empresas de geração de energia eólica, solar e outras fontes alternativas", diz Martins. Os principais coristas, além da Petros, são outros fundos de pensão, como a Funcef e o Banesprev (do Santander Banespa). A Funcef também está montando um fundo de participações nos mesmos moldes, o Brasil Infra-Estrutura, que será administrado pelo Real ABN Amro e terá cerca de 1 bilhão de reais destinados à construção de estradas, portos e ferrovias.
Capital
Não é difícil notar uma grande semelhança entre os investimentos desses fundos e a agenda governamental de investimentos em infra-estrutura. Martins garante que é pura coincidência. "Não é o governo que determina nossa política de in¬vestimentos", diz ele. "Podemos conseguir bons retornos em energia e transportes no longo prazo, que é o perfil ideal para um fundo de pensão, pois nossas obrigações estão no longo prazo."
Um dos desafios dos investidores institucionais é escolher de maneira acertada os negócios nos quais colocar seus recursos. Até agora, o histórico de investimentos dos fundos de pensão tem sido ruim. As fundações, especialmente as de estatais, coleciona-ram prejuízos bilionários nos últimos anos. Não apenas investimentos mal escolhidos como também inúmeros casos de fraude comprometeram a rentabilidade dos fundos. Os exemplos são numerosos. A Funcef, por exemplo, despejou mais de 100 milhões de dólares num empreendimento da Encol pouco antes de a empresa ruir. Um dos casos mais folclóricos foi o do Brasilight, o fundo da Light, que comprou 2000 túmulos num cemitério no Rio de Janeiro no começo dos anos 90. Os exe¬cutivos do setor garantem que essa fase acabou. '"Agora temos de seguir regras rígidas e prestar contas", diz Guilherme Lacerda, presidente da Funcef. Prova da mudança é o fato de as fundações não investirem mais de forma direta em empresas. "Fazemos isso via fundos de participações”, diz Lacerda. '"Temos gestores independentes avaliando os projetos, o que dá muito mais transparência e governança às decisões." A conferir.

A PR&A é uma consultoria de investimentos especializada em risco de crédito, risco de mercado, análise de fundos de investimento, análise de FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios), construção de softwares para mensuração de diversas modalidades de risco financeiro e de consultoria para a criação e aprimoramento das Áreas de Risco em empresas e bancos. Tem como diretores Marcelo Rabbat, Sérgio Malacrida e Ricardo Pires.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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