Sem contágio



Revista América Economia
Brasil 26 de julho de 2005

Escândalos políticos pouco afetam a economia e os mercados brasileiros


Certamente não era nisso que pensava o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, quando dizia que sua meta era tirar a economia das manchetes dos jornais, nos idos de 2003. Recentemente, enquanto, ao longe, a economia ainda conclui seu pouso suave, provocado pelos juros altos destinados a forçar a inflação para perto das metas oficiais, a política ocupa todas as manchetes, produzindo mais dramas diários que as novelas da TV.

Desde quando surgiu a denúncia de corrupção envolvendo o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), os mercados têm-se mantido praticamente indiferentes à crise política. De 14 de maio — quando a revista Veja publicou denúncias de corrupção nos Correios e acusou Jefferson de extorquir o então presidente do IRB, Lídio Duarte — a 30 de junho, a Bovespa acumulou alta de 2,8%, o risco Brasil caiu 11%, para 401 pontos, e o dólar caiu 5,1%, para R$ 2,35.

Apesar de a crise ser uma ameaça à reeleição do presidente, a verdade é que, por enquanto, a maior vítima direta dos escândalos foi um declarado adversário da política econômica, o ex-ministro da Casa Civil José Dirceu. E a percepção inicial do mercado é de que Palocci sai fortalecido.

“A crise tem se limitado ao âmbito político porque o ambiente ainda está muito favorável ao Brasil, a liquidez internacional continua alta, e a percepção por enquanto é de que o governo não fará nenhuma loucura ou populismo na área econômica para compensar o desgaste, como aumentar os gastos e reduzir o superávit primário, por exemplo”, diz o economista sênior do Banco WestLB, Adauto Lima.

Se essa tendência se confirmar, o custo da crise para a economia será limitado ao das reformas que deixam de ser feitas enquanto o Executivo e o Congresso se ocupam com as denúncias e, no ano que vem, com as eleições. Entre eles estão a reforma tributária, as regras para as agências reguladoras, o marco regulatório do saneamento, o novo sistema de defesa da concorrência, a continuação da reforma do Judiciário, a reforma trabalhista, um novo ajuste na Previdência, a modernização da legislação societária, a desburocratização do processo de abertura e fechamento de empresas, a autonomia do Banco Central e a flexibilização do Orçamento.

Na verdade, há quem considere o atraso nas reformas — desde que a base de apoio do governo começou a fraquejar, no ano passado — um dos principais motivos para a desaceleração da economia. “Os juros altos premiam a postergação do investimento”, diz Carlos Antônio Rocca, sócio-diretor da RiskOffice Consultoria*. “Mas a verdade é que não foram criadas até agora as condições de confiança para o investimento privado em infra-estrutura e o País já ultrapassou os limites da logística.”

Mas, para Rocca, nem tudo está perdido. “Vários partidos têm manifestado a intenção de evitar a paralisia do País por causa dessa crise”, diz o consultor. “As forças políticas deveriam fazer um acordo de governabilidade, mesmo para evitar que a crise abra caminho para a escolha de um populista nas próximas eleições”, espera o advogado Thomas Felsberg, um estudioso das reformas institucionais. “O momento agora é de moderação, não de acirramento.”

*Um dos sócios da RiskOffice é o consultor de investimentos Marcelo Rabbat, especializado em risco de mercado e risco de crédito, fundos de pensão e hedge. Rabbat é considerado um dos maiores economistas do Brasil em sua área de atuação.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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