O GIGANTE DESPERTA MAIS CEDO EM 2008



No artigo "O carnaval e a balança social" proponho aos diletos leitores uma reflexão sobre o carnaval e seus impactos sobre o equilíbrio social brasileiro. Desta vez, volto para assegurar que os prejuízos deste ano podem ser menores. Eu falei "podem ser" menores, não disse que serão. Por quê? Porque o país entrou mais cedo, logo voltou mais cedo da viagem pelo submundo do carnaval.

O carnaval é um ópio violento e virulento a ponto de impor em mesas de negócios e reuniões de trabalho: "no Brasil o ano começa depois do carnaval". É claro que homens de negócio, executivos e assessores não necessariamente concordam com esse sentenciamento. Entretanto, na gestão de suas equipes levam em conta os impactos dessa realidade inexorável e constituem provisões de recursos suficientes para o êxito de seus projetos.

O que quer dizer "no Brasil o ano começa depois do carnaval"? Quer dizer que o período que vai do natal ao carnaval (me perdoe a rima) é um período morno, reservado para as legítimas confraternizações e renovação espiritual, para a conciliação das férias de trabalho com as férias escolares, depois tem o reveillon com toda a expectativa e os bons augúrios para o ano vindouro. Bom, aí nem bem o ano-novo dá o ar da sua graça e o rufar dos tambores sob os auspícios globais soa no Rio e ecoa pelo Brasil (me perdoe novamente a rima). A partir de então, para boa parte da população o assunto é um só: carnaval. A outra parte, involuntariamente, sente os impactos: Contas a Receber que não recebe são Contas a Pagar que não paga. Contabilidade no vermelho mas não de sangue arterial e sim venoso.

O roteiro carnavalesco também inclui as festas do chamado "carnaval fora de época". Por exemplo: micaretas (micarecandanga de Brasília), carnafolias (pará-folia de Belém do Pará e recifolia de Recife), pré-carnavais (pré-caju, pré-carnaval, de Aracaju). E por aí vai a tentativa sistêmica da vadiagem para transformar o Brasil num grande carnaval.

Nem bem o carnaval havia terminado e a Rede Record noticiou que no Rio de Janeiro a sangria dos cofres públicos foi da ordem de R$ 20 milhões. Um valor considerável para um país que tem carência extrema de recursos em giro na economia, gerando, mantendo e aumentando emprego e renda. Além de ter necessidades estruturais não atendidas ou atendidas precariamente como é o caso da Educação, Saúde Pública e Infra-estrutura urbana onde se insere o saneamento básico dos grandes centros do Norte e Nordeste, sem falar nas médias e pequenas cidades.

O carnaval juntamente com o futebol e a "fé" católica são meios eficazes de desvio da atenção do público em geral. É por isso que existe uma verdadeira apologética em torno dos eventos carnavalescos, das festas de "padroeiros do Brasil afora" (resquício do padroado), das copas do mundo e campeonatos de futebol em geral. Assim, não se reflete, não se discute, não se articula e não se mobiliza em direção ao combate dos vícios da Administração Pública: a falta de respeito e ética na gestão, ausência da Accountability (prestação de contas) e falta de Disclousure (transparência) nas contas públicas. Alguém tem dúvida de que os gastos descabidos com os Cartões de Crédito Corporativos (do poder executivo) se enquadram aqui? Uma Ministra demissionária gastou quase R$ 200 mil. Um outro Ministro devolveu em torno de R$ 30 mil sob pressão da imprensa (quase um trocadilho), tentando manter-se de pé com a cabeça sobre o pescoço na "constelação dos Ministros de Lula". Seguranças da Presidência da República gastaram outros tantos. É dinheiro que parece cair do céu. O caso está a um passo de CPI e CPI anda um passo à frente do descrédito da opinião publica.

Por fim, nós gostamos muito de copiar o que não presta dos outros, fast foodpor exemplo, a pior comida do planeta. Então, vamos exportar o carnaval para os ianques, ingleses, canadenses, dinamarqueses, noruegueses, finlandeses, escoceses e para quantos mais for possível. Vamos parar a Europa e a América por sete dias com a nossa arte. Dessa forma, importaremos dólares na forma de royalties pela exportação da tecnologia carnavalesca brasileira, solução em entretenimento, lazer, diversão e descontração e cositas más.

Não será fácil convencê-los a parar sete dias, de uma só vez, para cair na vadiagem. Parece que de concreto mesmo é a volta ao mundo real, praticamente, com um mês de antecedência. A lida nacional agradece e dá tempo de fazer muita coisa até o próximo episódio.


Autor: FRANCISCO DE LIMA GOMES


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