A Fórmula do lucro
Eu&Invetimentos - 10 de agosto de 2005 - pág. Dl
Fundos quantitativos, que adotam ferramentas matemáticas e de estatística para tentar detectar tendências, ganham terreno entre investidores sofisticados.
Qual a relação de uma aplicação em fundos multimercado e as chuvas no rio Nilo? Pode ser grande se o fundo for uma carteira que adota modelos matemáticos e estatísticos de investimento, os chamados fundos quantitativos. Nesses fundos, fórmulas e gráficos dizem ao gestor quando ele deve comprar ou vender um ativo, como um piloto automático, usando como referência o comportamento passado das aplicações.
Os fundos quantitativos ainda são novidade no Brasil, que conta com cerca de uma dúzia de representantes da categoria. Mas já chamam a atenção dos investidores. Neste ano, eles captaram R$ 111 milhões, elevando o patrimônio total da categoria para R$ 297 milhões. Muito longe, porém, dos bilhões aplicados nos mercados internacionais, onde foram criados.
Uma característica desse tipo de fundo é que cada gestor cria sua própria "receita" de aplicação usando as ferramentas mais sofisticadas de matemática e estatística que encontra. O objetivo é detectar tendências que se repetem para saber o momento certo de investir. Com isso, o fundo cria limites de alta e baixa para os mercados onde atua.
Há duas grandes vertentes de fundos quantitativos. Uma é a dos fundos que seguem as tendências dos mercados (trend follow) e vão comprando mais quando o mercado está subindo e começam a vender quando a tendência se inverte. O sucesso está em ter um modelo que detecte antes que a alta ou a queda de dois dias ou mais é uma tendência. Outra vertente é a de preços absolutos, onde o modelo descobre quanto um preço de um ativo está desajustado em relação a outro olhando para o comportamento passado.
Se a coisa parece complicada, é bom se preparar pois, dentro dessas estratégias, há ainda os gestores que adotam cegamente os modelos, os chamados "black box" (caixa preta). No exterior, alguns fundos chegam a ter sistemas que não só definem os preços, como ainda fazem as operações de compra e venda automaticamente quando os preços atingem os limites estabelecidos de alta ou baixa. O segundo tipo, mais comum no Brasil, é chamado de "gray box" (caixa cinza), onde o gestor usa as informações do modelo, mas é ele quem dá a palavra final.
Segundo Fernando Lovisotto, da RiskOffice*, consultoria especializada em fundos, há muitas diferenças entre as estratégias dos gestores locais. Mas, na opinião dele, os modelos sempre acabam impondo alguma disciplina ao gestor, pois o profissional tem de seguir os limites de compra e venda. E isso acaba se traduzindo em melhores resultados.
Estudo feito pela RiskOffice mostra que, em geral, em um período de 126 dias úteis, a rentabilidade dos fundos quantitativos brasileiros tem sido boa, variando entre 120% e 115% do CDI, com algumas exceções.
A volatilidade desses fundos, porém, é alta, pois são carteiras mais agressivas, fator que deve ser observado pelo investidor. É preciso verificar também se o modelo adotado é seguido à risca pelo gestor, em que mercados ele opera e quanto tempo ele testa um novo modelo antes de colocá-lo em prática. "Isso é importante porque um modelo pode ser bom para um ativo, mas não funcionar em outro", diz Lovisotto. Além disso, quanto mais mercados operar, menor a volatilidade do fundo. "Vale lembrar que as estratégias quantitativas funcionam bem em mercados líquidos, como dólar, juros e índice", afirma. Com isso, essas carteiras teriam mais espaço para crescer do que os fundos de arbitragem (long/short), que dependem do aluguel de ações para fazer suas operações de compra e venda.
Em outro estudo, feito com o índice de fundos multimercados da RiskOffice, as carteiras quantitativas apresentam rentabilidade nominal de 19,95%, para 18,02% dos fundos em geral.
O crescimento dos quantitativos é positiva para o mercado, diz Aline Sun, responsável pela área de fundos de fundos do Unibanco. "Faltam estratégias no Brasil e quando há uma diferente ela agrega valor ao investidor", diz. Segundo ela, é importante que o modelo do fundo quantitativo seja tropicalizado para as condições locais e adaptados às restrições do mercado brasileiro. "Lá fora, eles operam desde boi gordo a índice Standard & Poor's Futuro, 24 horas por dia", lembra.
Um dos fundos quantitativos locais mais "legítimos" é o Orbix Global CTA. Ele tenta seguir as tendências dos mercados, assim como seus similares americanos. A sigla CTA (commotidities trade advisor) se refere ao início dos fundos hedge, nos anos 60, quando as carteiras só tinham mercados derivativos de commodities para operar, lembra Alexandre Bourgeois, gestor do fundo. A Orbix Global Part-ners criou um sistema que permite aplicar em diversos mercados na Europa, Ásia, Austrália e Estados Unidos, nos segmentos de moedas, bolsas, taxas de juros e commodities, tanto em futuros quanto à vista. "O modelo foi desenvolvido há dez anos, e seus parâmetros são adaptados para cada ativo", diz.
Recém-chegado ao mercado de fundos quantitativos, o WestLB criou três carteiras neste ano, todas de tendências, sem interferência dos gestores, diz Mario Carvalho, vice-presidente de fundos. O de maior risco, o Absolut Return, investe 50% da carteira em dólar e 30% em índice futuro, com objetivo de render 150% do CDI. Já no Institucional e no Performance, mais moderados, as operações são só no mercado de dólar futuro.
Outros fundos não deixam as decisões apenas para os modelos. É o caso do Principia Hedge Plus, que usa as fórmulas para detectar oportunidades em mercados de opções de bolsa, câmbio e juros. Mas a palavra final é do gestor, diz Marcelo Paixão, responsável pelo fundo. "Usamos a análise de risco e fundamentalista como filtro, não seguimos o modelo cegamente, mas ele nos diz quando pode ser hora de entrar e sair", diz.
Nessa linha também segue a ForeSee, que usa a análise macroeconômica aliada aos modelos. "A visão macro é reforçada pelo modelo", diz João Luiz Mas-colo, sócio da gestor. O mesmo ocorre com o SLW Volatilidade e o Capitânea Hedge, a análise fundamentalista é usada para definir a saída antecipada.
Já entre os que seguem os modelos à risca estão também o Santander Banespa Dinâmico, o Boston Eagle, da BankBoston Asset, e o Mira Multimercado.
Em um mercado onde o segredo é a alma do negócio, alguns gestores de fundos quantitativos sequer abrem suas estratégias para os clientes, diz Alexandre Datum, gestor do Fidúcia Quant Multimercado. Não é o caso do Fidúcia, criado em junho de 2004. A carteira usa apenas as estratégias estatísticas e computacionais. São quatro modelos, sendo os principais um direcional, que tenta prever as tendências do mercado, e outro de valor relativo, que procura ativos baratos em relação à média ou a outros. "Cada modelo tem de ter uma idéia matemática forte", diz Datum. Depois de escolhido o modelo, é feita uma análise história para ver como ele se sairia nas diversas situações do passado.
Entre os vários modelos, Datum usa o coeficiente de Hurst, que tem por base um estudo feito por um engenheiro inglês no começo do século passado. Para calcular o tamanho de reservatórios de represas no Egito, ele fez um estudo das probabilidades de chuva e seca na região do Nilo. Esse fórmula é usada hoje pelos gestores quantitativos. "Tentamos ver a relação entre um preço e a tendência do mercado, para ver se vale a pena comprar ou vender", diz.
*Marcelo Rabbat, consultor de investimentos especializado em risco de crédito e de mercado, é um dos diretores da RiskOffice
Autor: Assessoria de Imprensa Web
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