Uma complexa tarefa para os fundos: gerenciar riscos



19/09/2005 – SÃO PAULO – GAZETA MERCANTIL

São Paulo, 19 de Setembro de 2005 - Gestores têm padrão global quanto a riscos de mercado; em outras áreas, há espaço para avanços. Os fundos de investimento precisam avançar na área de gestão de riscos de crédito e operacionais. A opinião é de Antonio Marcos Duarte Júnior, PhD em matemática aplicada pela Universidade de Princeton e professor do Ibmec Business School, do Rio de Janeiro. No entanto, segundo o especialista e também autor do livro recém-lançado "Gestão de Riscos para Fundos de Investimentos", em outro tipo de risco - o de mercado (análise das tendências de preços importantes, como juros e câmbio) - os gestores locais equiparam-se aos principais administradores internacionais.

Na área de gerenciamento de riscos de crédito, segundo destaca Duarte Júnior em seu livro, "a maioria dos administradores de recursos de terceiros ainda se limita a olhar os ativos de crédito tentando classificá-los como ‘bons’ ou ‘maus’". Só que, na visão do especialista, há procedimentos mais estruturados, como a classificação do risco de crédito por meio de ratings, para selecionar os títulos e calcular com mais eficiência perdas esperadas, capital econômico e também o preço compatível com o retorno.

Para o sócio-diretor da consultoria RiskOffice, Fernando Lovisotto, os gestores ligados a bancos que ofertam crédito têm mais condições de controlar esse risco. No caso dos independentes, segundo ele, a maioria não aplica em ativos de crédito, salvo em Certificados de Depósitos Bancários (CDBs). Segundo Lovisotto, os fundos têm apenas 20% do patrimônio investido em ativos de crédito.

O controle do risco de crédito é mais antigo do que a gestão de riscos operacionais. Mesmo em bancos, o gerenciamento do risco operacional só ganhou espaço recentemente no âmbito das discussões do Novo Acordo de Basiléia (ver abaixo). Diferentemente dos riscos de mercado e de crédito, que fazem parte do retorno do investimento, o risco operacional, (fraudes, erros humanos, de sistemas e processos) deve ser eliminado.

"Há um processo de aprendizagem em curso em bancos e seguradoras para o tratamento de forma estruturada dos riscos operacionais", afirma Duarte Júnior. Já nas gestoras de fundos, "essas práticas não existem de forma estruturada". Para o especialista, há duas maneiras de tratar o risco ope-racional. Qualitativamente, com a identificação e avaliação dos riscos e instituição de processos de controles, e quantitativamente. Nesse caso, com indicadores de performance e também a adoção de instrumentos para medir riscos como o Valor em Risco (VaR).

Para o coordenador do escritório de controles internos da RiskOffice, Francisco Fernandes, "há espaço para avanços na área de gestão do risco operacional". Segundo ele, o foco das gestoras deve estar nos controles internos. "Com o novo acordo de Basiléia, isso acontecerá em dois a três anos."

A SulAmérica Investimentos já conta com modelos de gestão de risco de mercado e crédito há pelo menos oito anos, informa Miguel Russo, superintendente de risco e operações. "Estamos em processo de implementação de um modelo para gestão de risco operacional, que deve ser concluído no final do ano", afirma. Para a gestão do risco de crédito, há um comitê que faz as análises das emissões, aprova ou não o investimento e determina limites de exposição, em função da qualidade da empresa, ou do setor em que atua.

Segundo o executivo, com a "joint venture" com o grupo holandês ING, a SulAmérica teve acesso à metodologia do grupo e definiu um modelo de abordagem qualitativa (conversas com analistas, visitas a empresas) e quantitativa dos riscos (análise de balanços).

A gestão de riscos operacionais e de crédito na Votorantim Asset Management (VAM) é antiga, informa o diretor Paulo Geraldo Oliveira Filho. "É um processo cultural no grupo Votorantim", diz. Segundo ele, a VAM foi beneficiada com a expertise do banco. Na área de gestão de riscos operacionais, a VAM vem fazendo esforços para ter controles internos bem elaborados, desde a resolução do Banco Central de 1998 sobre o tema, conta o gerente administrativo Antônio Cabrera. "Temos várias ferramentas para coibir perdas por falhas humanas, fraudes, erro de documentação", informa. "A estruturação do processo exigiu investimentos significativos em TI, que nos permitiu avançar principalmente na qualidade da informação".

Para o gerenciamento do risco de crédito, a VAM também conta com um comitê que impõe limites por empresa, por setor, por emissão e por portfólio. Para Fernandes, a gestão de risco, num primeiro momento, será um instrumento de competição; no futuro, de sobrevivência. "É uma tendência e isso já tem acontecido com as fundações, que estão cada vez mais exigentes ao selecionar os gestores."
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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