Fundação terá de diversificar aplicações
28 de setembro de 2005
Diminuição da oferta de títulos públicos vai forçar a busca de alternativas
A decisão do governo de reduzir a relação entre dívida pública e Produto Interno Bruto (PIB) dos atuais 51,7% para cerca de 40% nos próximos anos começa a interferir nas políticas de investimento que os fundos de pensão já elaboram para 2006. Hoje, segundo estudo realizado pela RiskOffice Consultoria, o percentual médio do patrimônio das fundações aplicado em títulos públicos chega a 67%. "Em cinco anos, a expectativa é que a parcela comprometida com esses papéis não supere os 42%", afirma o sócio diretor da empresa e responsável pelo levantamento, Fernando Lovisotto.
Dados do Banco Central mostram que a dívida pública atingiu, no final de agosto, R$ 973,6 bilhões. O volume correspondente em títulos, no entanto, não é adquirido exclusivamente por fundos de pensão, que detêm parcela de R$ 188 bilhões. O restante dos papéis que, reunidos, somam R$ 781,6 bilhões, têm, entre os compradores, as seguradoras, os bancos, fundos de investimento e pessoas físicas — estas que, recentemente, começaram a poder adquirir os papéis via Internet através do Tesouro Direto.
Com a queda do endividamento público, o mercado deve sentir um enxugamento do volume de títulos, que podem ser as Notas do Tesouro Nacional (NTNs), Letras Financeiras do Tesouro (LFTs) ou Letras do Tesouro Nacional (LTNs). "Com a redução do endividamento público, a necessidade do Tesouro emitir títulos vai ficando menor", explica Lovisotto.
Pressionados a encontrar logo uma solução que sintonize os ativos e o pagamento de aposentadorias e pensões, no entanto, os fundos de pensão não devem demorar a encontrar uma solução para a carteira de aplicações. E entre as opções que, de acordo com Lovisotto, devem substituir os conservadores títulos públicos e atrair a atenção de gestores de recursos nos próximos anos, estão as ações, fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), fundos private equity — que investem em empresas em expansão —, títulos agrícolas, títulos privados (debêntures) e certificados de recebíveis imobiliários (CRIs).
O diretor da RiskOffice aposta que, com a queda de juros mantendo-se constante até o próximo ano, haja um crescimento mais acentuado da taxa de investimento e faturamento das empresas nacionais que, para continuar captando no mercado doméstico, aumentariam a emisssão de papéis como debêntures. "Se a tendência é que o governo reduza sua emissão, o oposto deve acontecer em relação ao setor privado", diz Lovisotto.
A substituição gradual de títulos públicos por outros ativos, no entanto, não deve começar a ser feita somente a partir do momento que a demanda por papéis do governo começar a ser maior que sua oferta, alerta Lovisotto. "Essa preocupação já deve fazer parte do dia-a-dia dos fundos de pensão, porque quem esperar para decidir vai ficar com a pior parte", diz.
Nessa linha de ativos alternativos, surgem os fundos de investimento em exportações (Fiex), que aplicam no mínimo 80% de seus recursos em títulos da dívida externa brasileira. Podendo aplicar nesse tipo de fundo há pelo menos cinco anos, as fundações ainda evitam investir nos Fiex. "O principal temor de gestores de recursos de fundos é que a taxa de câmbio ou o risco-País disparem, levando a prejuízos", completa o diretor da consultoria responsável pelo estudo.
Segundo opinião do presidente da Associação dos Fundos de Pensão de Empresas Privadas (Apep) e dirigente do fundo Odeprev, patrocinado pela Odebrecht, Paulo Tolentino, o governo poderia começar a estudar formas de permitir aos fundos de pensão investir no exterior não através de fundos como o Fiex, mas de forma direta. "Fundos de pensão americanos como a CalPers, que é a fundação dos funcionários públicos da Califórnia, podem aplicar diretamente em mercados de diferentes países. Isso é diversificação", diz Tolentino.
A opinião do dirigente da Apep é compartilhada pelo diretor da Mercer Investment Consulting, Thyrso Ferrato. Para ele, investimentos no exterior permitiriam uma maior diversificação da carteira, mas ainda devem demorar a sair do plano das idéias. "Talvez quando a necessidade de financiamento interno diminuir, o governo possa olhar com mais carinho para essa possibilidade", registra.
A redução da taxa de juros e a baixa diversificação devem refletir no total de fundos de pensão que vão atingir suas metas atuariais. "Este ano, por conta dos juros que bateram 19,75%, poderia-se dizer que 80% das fundações vão atingir suas metas. No próximo ano não seria assim tão otimista", finaliza Lovisotto. As metas são compostas por um índice de inflação — em geral o IGP-M ou o INPC — mais um percentual definido atuarialmente.
*Marcelo Rabbat, diretor da RiskOffice, é consultor de investimentos especializado em risco de crédito e de mercado
Autor: Assessoria de Imprensa Web
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