Uma empresa chamada tráfico



O advento da cocaína como nova mercadoria lucrativa mudou rapidamente as oportunidades para o crime organizado, que nao dependem mais de ações arriscadas como assaltos à bancos ou à civis. O poder propiciado pelo ganho financeiro obtido com a cocaína conferiu ao narcotráfico uma importância nunca vista antes na vida econômica e também política da comunidade.
Para Quijano , poderíamos denominar o tráfico como a primeira empresa multinacional da América Latina, através das seguintes principais atividades: produção, processameto e distribuição. O Brasil na escala dessa “multinacional’especializa-se no último segmento, pois não possui as características naturais necessárias para a produçao. Assim, o volume das suas atividades depende da quantidade produzida pelos principais fornecedores como a Bolívia, Peru e Colômbia.
Como a maioria das atividades econômicas, o tráfico também se organiza como uma empresa organizando-se de forma vertical. Segundo Lees , “o tráfico no Rio está estruturado hierarquicamente, sendo que a cocaína distribuída a partir das favelas e conjuntos habitacionais estao no extremo inferior da cadeia de distribuição (...) Dentro das estruturas de classes do narcotráfico, esses distribuidores (os que se localizam na favela) constituem o segmento vilnerável e explorado.” Apesar da autora tratar como segmento vulnerável, os traficantes nas favelas são respeitados e mesmo reverenciados em seu meio.
Nesta análise, vamos nos ater apenas ao segmento de traficantes do morro, que em sua estrutura interna também estão divididos hierarquicamente. No topo da pirâmide encontra-se o chefe do tráfico ganhando entre 20 e 30 mil reais mensalmente , em seguida o chefe vem acompanhado geralmente de dois gerentes ( 1 para a maconha e o outro para cocaína) cujos salários variam de 5 à 10 mil reais. Estes gerentes são responsáveis pela organizaçao da venda, embalagem e segurança.
A distribuição da venda fica à cargo do “vapor” que atua no asfalto, este nao possui uma renda fixa, mas ganha através de comissao (10% da venda). É interessante notar que trata-se de um cargo de confiança, pois primeiro os vapores são encarregados da venda da maconha, e se eles se saem bem, passam para a cocaína. Esses agentes são acompanhados por outros intermediários, denominados “aviões” que auxilia logisticamente a entrega da droga fora da faleva.
A endolaçao é realizada, muitas vezes, por mulheres, pois trata-se de uma atividade não muito arriscada e ganha-se consideravelmente bem: de 500 à 1500 reais, o mesmo salário que os “olheiros”- jovens responsáveis pela segurança avisando os agentes do tráfico quando os policiais e inimigos se aproximam.
Ainda segundo Cabral (2002), algumas bocas de fumo chegam a contar com 100 pessoas envolvidas movimentando cerca de 50.000.000 de reais por mês. A favela por sua topografia e por sua forma de ocupaçao irregular, auxilia a conveniência para atividades irregulares, e desde a expansão internacional do tráfico, ela tem sido o palco mais propício a essa atividade clandestina.
O dominação dos traficantes deste espaço físico da favela é garantido pela cooperação da comunidade através da “lei do silêncio”, onde os moradores não devem de jeito algum forncer informações aos policiais. A fim de obter essa cumplicidade, os traficantes oferecem aos moradores alguns serviços que não foram garantidos pelo serviço público, como segurança, creche, transporte, lazer, remédios etc.
Aproveitando-se dessa lacuna deixada pelo governo, os traficantes observaram que para se fortalecer precisavam do apoio comunitário, ou seja, precisavam “fazer política” dentro da sua área. Assim, tentaram a aproximação, através da intimidação, com líderes comunitários, pois necessitavam legitimar o seu poder. Muitos desses jovens conseguiram conquistar a simpatia e compaixão de suas comunidades, mas antes de enxergá-los como Hobin Hoods modernos, é preciso lembrar que suas conquistas vêm sendo realizadas através do autoritarismo e de muito sangue derramado.

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Bibliografia:
- CABRAL, Arthur. Nos bastidores do Funk, contrabando de armas, tráfico de drogas. Registro n. 260242. Fundção Biblioteca Nacional. Ministério da Cultura. 2002.

- LEES, Elizabeth. Cocaína e poderes paralelos na periferia urbana brasileira: ameaças à democratização em nível local in Um século de favelas. 2 edição. Rio de Janeira: FGV, p. 240.

- QUIJANO, Anibal. Entrevista.Brasil Agora, 2(36):7, 1993.
Autor: Luiza Machado


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