Varejo tolo. Você já viu um frango com quatro pés?



Quando era menino, ali pelos 12 anos, umas das minhas atividades, era fazer carreto nas feiras livres em São Paulo. Levava as compras das clientes – a bordo de um carrinho feito de madeira e rodas de rolimãs – até suas residências e recebia uns bons trocados pelo serviço.

Chegava nas feiras cedo, praticamente junto com os feirantes, e até ajudava alguns deles – os que permitiam – a organizar as frutas e legumes nos expositores das barracas. Por essa ajuda, sempre ganhava alguma coisa pra levar pra casa na xepa da feira. Uma coisa era lugar comum, mas à época não me chamava a atenção: Na montagem das bacias de oferta, usavam-se três tipos de produto. Pequenos embaixo, médios no meio e grandes em cima.

Mais de trinta e cinco anos depois e a vício idiota do engana cliente continua sendo praticado todos os dias e infelizmente não apenas nas feiras livres.

É prática comum no varejo sem vergonha, sem compromisso e sem futuro, montar kits de produtos e colocar por cima, ou seja, na parte que chama a atenção do consumidor o naco bonito do produto e esconder sob esse a parte feia ou deteriorada. A lista é enorme e está a venda, inclusive, em lugares acima de qualquer suspeita. Cestas de morangos mofados, uvas com as amassadas escondidadas, kit feijoada com 50% de gordura, bacalhau com o dorso virado, carne moída feita de sobras e aparas, carne com o nervo escondido, etc.

Tenho um amigo que trabalha em um grande laticínio e já me contou histórias escabrosas sobre a venda de queijos, presuntos, e outros embutidos vencidos nos melhores supermercados da cidade. São as práticas bandejinhas de frios que normalmente compramos e na maioria das vezes, sequer observamos a marca ou a validade. Confiamos!

Perto da minha casa, o Grupo Pão de Açúcar abriu uma loja conceito, linda! Loja feita para homem gastar. Tremenda carta de vinhos, queijos finos, carnes nobres, sushis, frutas e verduras selecionadas, padaria, bulangerie, pizzaria e serviços assessórios. Tem locadora de filmes, livraria, lavanderia e produtos naturais. Virou nossa loja de conveniência. Todo dia, eu ou minha mulher compramos na loja.

Conhecemos as gerentes, os entregadores, os atendentes e o pessoal de frente de loja. Compramos a idéia da loja conceito e também o posicionamento do Pão de Açúcar. Queremos qualidade e excelência em serviço e sabemos que isso custa um pouco mais. Quem quiser serviço meia boca, basta atravessar a avenida e entrar no concorrente.

Ou seja, a expectativa que temos da loja e da marca está em nível elevadíssimo e, portanto, tolerância zero para atitudes que não estejam em conformidade com o serviço que eles prometem vender. Afinal, o que faz você feliz? Essa é a pergunta embutida no slogan da rede.

Pois é. Veja como uma imagem vai para o espaço. Rápido!
Ontem minha mulher passou pela loja e comprou uma bandeja com cortes selecionados de frango, que assado, seria o almoço da família. A Bandeja, montada pelo Pão de Açúcar, tinha também um preço selecionado: R$ 7,75 por um quilo de frango.

Por cima, lindos pedaços. Coxa, sobre-coxa, peito, coxinha da asa. Mas... Escondidos sob os pedaços nobres! Quatro pés! Nunca vi frango com quatro pés.

Decepção total.
Não que eu tivesse a ilusão de achar que o Pão de Açúcar é perfeito. Que ande sempre na linha ou que seus produtos sejam necessariamente os melhores que alguém possa comprar. Decepção pela constatação de que eles são iguais aos outros e se puderem levar uma vantagem sobre o cliente, por menor que seja, vão levar.

Decepção por ver milhões de dólares investidos em marketing, propaganda, posicionamento de marca, fidelização de cliente, layout de loja e tantas outras coisas, sendo jogados no ralo, na vã tentativa de me enganar. Botando quatro pés de frango escondidos numa bandeja de cortes finos.

Será que o cara que monta essas bandejas faz isso só pra “sacanear” o cliente? Será que ele faz isso porque quer? Será que a idéia de maximizar os pés de frango é uma atitude do “contra-colaborador” ou ele foi treinado para fazer isso? Será que ele não percebe que eu vou descobrir e ficar... piiii? Que eu posso parar de comprar na loja e ainda contar isso para várias pessoas?

Será que o cara que treina o pessoal do açougue também recebe esse tipo de treinamento? Será que o RH do Grupo Pão de Açúcar contrata treinadores e palestrantes craques na arte e na técnica de enganar o cliente?

Não tenho respostas, mas gostaria imensamente de acreditar que isso não é uma coisa orquestrada e que fui a vítima de um tremendo “acaso”, uma falha operacional (sic). Só sei que de agora pra frente o Pão de Açúcar está sob suspeição e vou ficar bem mais esperto na próxima vez que entrar na loja. Até porque, agora que descobri que o grande diferencial pode ser um blefe, talvez atravesse a avenida da próxima vez.

Nelson Gonçalves
Palestrante
www.nelsongoncalves.net
Autor: Nelson Gonçalves


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