Ações com renda certa



Saiba quais são as empresas que anunciaram pagamento recorde de dividendos para 2006 e até que ponto vale a pena aplicar em companhias com esse perfil. Segundo analistas, renda mais se parece com um aluguel

Saiba quais são as empresas que anunciaram pagamento recorde de dividendos para 2006 e até que ponto vale a pena aplicar em companhias com esse perfil. Segundo analistas, renda mais se parece com um aluguel

Cada investidor tem uma estratégia na hora de mon­tar sua carteira de investimentos. Uma delas pode ser investir em empresas que pagam bons divi­dendos. Aplicar em companhias com esse perfil pode garantir ao investidor uma renda periódica, independentemente do desempenho da empresa em Bolsa. "Funciona como um aluguel", diz Carlos Antônio Rocca, professor de economia da USP e sócio-diretor da RiskOffice Consultoria*. "Se o investidor estiver buscando segurança, pode ser uma boa estratégia", completa. Na Bolsa, há uma série de empresas que, anualmente, vem se superando no pagamento de dividendos. Segundo a Economática, no começo deste ano, 28 empresas anunciaram pagamento de di­videndos superior ao pago nos exercícios anteriores. Entre as primeiras do ranking estão Petrobrás, Vale, Itaúsa, Bradesco e Itaú.

Ao escolher empresas com potencial de pagamento de di­videndos, o investidor deve ficar atento também ao quanto a empresa paga em relação ao seu preço em Bolsa, não apenas ao seu valor absoluto. "E natural que as empresas que dão lucro maior, paguem mais em valor absoluto", diz Welber Brito, gerente de investimentos da Unibanco Asset Manage­ment (UAM). Nos últimos 12 meses, as empresas que mais pagaram dividendos por ação foram Cemig, Brasil Telecom e Transmissão Paulista.

Para o investidor, segundo os especialistas, interessa saber, principalmente, qual é o dividend yield, ou seja, o quanto ele irá receber por ação. Para fazer essa conta, segundo Brito, basta dividir o valor absoluto pago em dividendos pelo valor de mercado da empresa. Ele dá um exemplo: a empresa X está cotada a R$ 4,00 em Bolsa e tem 250 milhões de ações no mercado, logo seu valor de mercado é de R$ 1 bilhão. Considerando que a empresa paga R$ 100 milhões de divi­dendos, o dividend yield será de 10%.

Se uma outra empresa pagar os mesmos R$ 100 milhões de dividendos, mas valer no mercado R$ 10 bilhões, pagará de dividendos por ação o valor de 1%. "Por isso, para quem investe, não é suficiente olhar apenas o volume que a empresa paga, é preciso comparar com a cotação em Bolsa e o valor de mercado", diz Brito. Segundo ele, quanto menor o preço da empresa em Bolsa, maior será o retorno dos dividendos.

Cláudio Monteiro, estrategista-chefe da Fator Corretora, diz que as empresas podem ser divididas em dois tipos. O pri­meiro caso é o daquelas que pagam bons dividendos e já es­tão num ciclo de maturação mais avançado. Porém, elas apre­sentam estabilidade de preço na Bolsa sem possibilidade de boas valorizações.

O segundo caso inclui empresas que estão em fase de cres­cimento de mercado e pagam poucos dividendos, pois costu­mam reinvesti-lo. Apesar disso, são empresas que podem apresentar uma súbita valorização em Bolsa.

Como exemplo, o executivo da Fator cita a empresa de cigarros e fumo Souza Cruz, cuja produção está cada vez mais restrita. "Como a empresa não tem como se expandir acaba pagando muito em di­videndos", diz. Isso, no entanto, não sig­nifica que a empresa vai apresentar boas valorizações em Bolsa. Por isso ele acon­selha o investidor a avaliar se prefere ter a segurança do recebimento dos dividen­dos ou se prefere apostar em empresas que prometem boa valorização em Bolsa, in­dependentemente se pagam ou não gor­dos dividendos.

É difícil, segundo ele, o investidor ga­rimpar ações de empresas que pagam bons dividendos e estão ainda em fase de cres­cimento. "Essa seria a empresa ideal para se investir, pois elas continuam com alta possibilidade de valorização em Bolsa, além de pagarem bons dividendos", diz Monteiro.

Nessa linha, ele cita como oportunidade de compra a Telemar, que apresentava bom preço em Bolsa, além de pagar altos divi­dendos. "A empresa esta em fase de ex­pansão e, mesmo assim, consegue distri­buir bons dividendos", diz. Uma alternati­va, segundo ele, é o investidor montar uma carteira diversificada, com apenas uma par­te focada em dividendos.

O professor Rocca a diz que ao receber os recursos dos dividendos, o investidor pode optar por comprar mais ações da mesma empresa, reinvestindo o dinheiro, ou diver­sificar em outras companhias. "Para isso o investidor tem de analisar qual é o seu objetivo de investi­mento e a necessidade ou não de fluxo de caixa", explica.

Ele aconselha os investidores a observarem também aque­las empresas que reinvestem pesadamente seus recursos. Se­gundo ele, é preciso questionar até que ponto pode ser um bom negócio. "O investidor precisa acompanhar em que a empresa está investindo e se esses projetos têm potencial de crescimento", ensina.

PAGAMENTO

Toda companhia aberta com ações é obrigada a pagar pelo menos 25% do lucro líquido anual em dividendos. Como a lei não estipula valor máximo, cada uma adota critérios particulares, Glaucia de Castro Quinto, gerente de pesquisa de renda variável do ABN Amro Asset Mana­gement, afirma que a periodicidade de pagamento dos di­videndos varia de empresa para empresa.

Em geral, a maior parte das empresas paga dividendos anualmente. "Bancos geralmente são mais assíduos", afirma. Itaú e Bradesco, por exemplo, pagam todos os meses.

Apesar disso, não é o fato de o pagamento ser feito em mais vezes que o valor total vai ser mais alto. "Existem empresas que pagam uma vez por ano, mas acabam pagan­do mais do que empresas que distribuem o lucro mensal­mente", explica.

Para o advogado José Roberto Baccelli, do escritório L.O. Baptista Advogados, nem sempre o pagamento de dividendos é um sinal saudável. "Para crescer e expandir as atividades, as empresas precisam, muitas vezes, reter esse ganho", diz Baccelli. "Quando pagam muito dividendos não conseguem fazer isso", completa. Assim como os acionistas, também as empresas têm suas estratégias.

Vale e Itaú: programa de reinvestimento

As empresas que encabeçam a lista dos maiores pagadores de dividendos são as de maior peso no Ibovespa, com grande liquidez, altos lucros e sólidos programas de relacionamento com investidores. Perdendo apenas para a Petrobras, a Vale do Rio Doce, por exemplo, é a segundo maior pagadora de dividendos sobre os resultados de 2005. "Todo ano, definimos o valor mínimo a ser pago já em janeiro", diz Roberto Castello Branco, diretor de relações com investidores da Vale. O pagamento é feito de maneiro diferente das outras empresas: em vez de esperar fechar o lucro do ano para definir o valor a pagar, a mineradora distribui os divi­dendos durante o ano, em duas parcelas - em abril e outubro -, de acordo com o fluxo de caixa. "Paro o acionista, funciona como uma receita garantida", afirma o executivo.

Um número significativo dos 70 mil acionistas da empresa é formado de pessoas físicas, que respondem por 10% do capital social da Vale. Investidores estrangeiros detêm 42% e o restante pertence aos investidores institucionais, incluindo os fundos de aplicações do FGTS, que têm por trás cerca de outros 600 mil investidores individuais. Em janeiro deste ano, foi anunciado o pagamento de US$1,3 bilhão em dividendos, dos quais US$ 650 milhões foram pagos no mês passado, a um valor de R$ 1,14 por ação.

Durante o ano, porém, se for detectado que o caixa da empresa comporta um pagamento superior, a próxima parcela, programada para 31 de outubro, poderá ser ainda maior, repetin­do o resultado de 2005. No ano passado, era esperado o pagamento de US$ 1 bilhão em dividendos, mas outros US$ 300 milhões foram pagos a mais aos acionistas.

Mas, segundo Castello Branco, o investidor não deve olhar paro o dividendo como um dinheiro para gastar. Pensando nisso, foi criado, em outubro do ano passado, o Vale Investir, programa de reinvestimento automáti­co de dividendos para pessoas físicas." E uma forma de o investidor poupar", diz.

O Itaú, segundo maior banco privado do País, também oferece aos seus acionistas um programa de reinvestimento de dividendos desde 2004. A iniciativa surgiu da demanda dos acionistas. "Muitos disseram que não queriam ficar acompanhando a ação mês a mês para comprar novas ações", explica Geraldo Soares, superintendente de re­lações com investidor do Itaú.

Em abril de 2006, o Itaú lançou uma nova versão do programa, agora mais flexibilizado. Além de poder es­colher em que tipo de papel reinvestir ou com qual periodicidade, o acionista pode definir qual a porcentagem dos dividendos que ele quer investir. O Itaú tem 52 mil acionistas, dos quais 48 mil são pessoas físicas. Sobre os resultados de 2005, o banco pagou R$ 1,853 bilhão em dividendos. Há dez anos, o valor pago foi de R$ 119 milhões. "Tivemos um crescimento de 32% ao ano no pagamento de dividendos", diz Soares. Os acionistas receberam R$ 1,68 por ação do Itaú.

Estudante de medicina aposta em renda extra

O estudante de medicina da Unifesp Fernan­do Cembranelli, 25, não investe tendo como foco principal os dividendos, mas mantem em sua carteira alguns papéis que o beneficiam com a distri­buição dos lucros. Usuário do home broker do Itaú desde 2005, ele se interessou pelo mercado de capitais em 2002 e, desde então, já aplicou em fundos e participou de clubes de investimentos, até adquirir experiência e conhecimento para pas­sar o decidir sozinho em quais papéis investir.

Hoje, ele tem quatro papéis em seu portfólio que pagam bons dividendos: Usiminas, Telesp, Telemar Norte Leste e Nosso Caixa. "Comprei a Nossa Caixa apostando no seu potencial, mas não tinha perspectiva de manter. Fiquei muito feliz quando já comecei a receber dividendos e agora pretendo ficar com ela", afirmo. Entre as ações que ele comprou sem foco nos dividen­dos, mas na valorização, estão Submarino, UOL e Embratel. "Acredito que as empresas têm bom potencial de crescimento", justifica.

Cembranelli procura reaplicar tudo o que ga­nha com dividendos, ainda que não necessariamente na mesma empresa. Mesmo assim, ele admite não seguir essa regra a risca e, às vezes, acaba gastando os dividendos que recebe. O es­tudante acredita que investir no mercado de capitais é uma forma importante de formar pa­trimônio, e procura pesquisar bem as empresas antes de aplicar seu dinheiro nelas. "É um pro­cesso de aprendizado. Mais do que receber bons rendimentos, é necessário buscar empresas sóli­das, que tenham uma perspectiva interessante e com um preço justo. Assim, além de ganhar com dividendos, você ganha com a valorização da ação", ensina.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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