ESPECIAL: VOLATILIDADE ATINGE NÍVEL DE 2004 E DEVE PROSSEGUIR ALTA



Agência Estado
14 de junho de 2006

A forte volatilidade observada em maio nos mercados brasileiros ampliou-se em junho e já atinge os níveis da turbulência verificada no ajuste de carteiras do primeiro trimestre de 2004, sem mostrar qualquer sinal de esmorecimento. Segundo dados da consultoria RiskOffice*, a trajetória da volatilidade nos últimos meses demonstra claramente a falta de tendência nos mercados. E a volatilidade ainda deve se manter nos níveis atuais - já muito altos - podendo até se ampliar nas próximas semanas, dada a dificuldade que os agentes de mercado têm tido para prever os movimentos da política monetária americana.

Os últimos dados da inflação americana, o PPI (0,2%), divulgado ontem, e o CPI (0,4%), ajudam a cristalizar a idéia de que a turbulência dos ativos financeiros deve se manter, ou crescer, até pelo menos o fim de junho, quando o Federal Reserve (Fed) se reúne para estipular a nova taxa de juros básica americana. As apostas para ambos indicadores foram equivocadas, pelo menos no tocante aos núcleos. No caso do CPI, a evolução do núcleo foi de 0,3%, contra estimativas de 0,2% e, no PPI, a alta também foi de 0,3%, ante uma mediana das expectativas de 0,2%. A situação se agrava um pouco quando se leva em consideração que são os núcleos os principais indicadores levados em consideração pelo Fed para avaliar a pressão inflacionária nos Estados Unidos.

"Quando a volatilidade chega aos níveis atuais, o normal é que ela não se sustente assim por mais de um mês, mas, nesse caso, pode até haver uma ampliação se ficar difícil verificar quais serão os juros americanos", diz Fernando Lovisotto, sócio da RiskOffice.

A avaliação de Lovisotto encontra eco nos contratos futuros dos Fed Funds americanos, que já embutem, hoje, uma chance de 100% para a elevação da taxa de 5% para 5,25%, no fim do mês. Além disso, pode também haver, nessa expectativa, a perspectiva de uma nova rodada de alta na reunião seguinte, o que já é comentado por alguns analistas. No início do ano, eram raríssimos os especialistas que previam uma taxa de juros americanos superando 5%.

No Brasil, segundo Lovisotto, a volatilidade tem sido puxada pelos estrangeiros e pelos hedge funds locais que, diante da impossibilidade de prever movimentos de médio e até curto prazo nos preços, têm tentado auferir algum ganho em operações com duração de até um dia – um fator determinante para as variações diárias de preços. "É dificílimo encontrar alguém que carregue posições por mais de um dia. Hoje, é possível dividir gestores e investidores em duas categorias: os que estão posicionados no curtíssimo prazo e os que operam no longuíssimo prazo. Os intermediários desapareceram", analisa o sócio da RiskOffice.

Para o vice-presidente da área de Mercado de Capitais da Associação dos Bancos de Investimento (Anbid), Luiz Fernando Rezende, é muito difícil vislumbrar uma redução da volatilidade caso o Fed volte a aumentar a taxa de juros no fim do mês. "Talvez um acerto das expectativas em relação aos núcleos do PPI e do CPI em julho possa atenuar um pouco a situação, mas está muito difícil fazer qualquer previsão com uma margem de segurança", afirmar.

Segundo Rezende, um outro fator, este impossível de mensurar, vai continuar pressionando os mercados: as falas do presidente do Fed, Ben Bernanke. "Ele parece ter uma certa incontinência verbal. Não é muito claro nas declarações formais, e ainda menos específico nas informais, o que dificulta bastante as avaliações", diz.

Talvez o reflexo mais claro da volatilidade esteja na variação das cotas dos hedge funds brasileiros - setor da indústria de fundos de investimento que mais vem perdendo por conta da turbulência alta dos mercados. De acordo com os dados levantados pela RiskOffice, que possui um Índice para medir a volatilidade das maiores carteiras, a variação das cotas dos fundos foi a maior desde a criação do indicador, em maio de 2003.

"A grande maioria dos gestores tem um cenário-base otimista, o que ainda não mudou. No médio prazo, as expectativas são as mesmas e também se ancoram nos fundamentos da economia brasileira", avalia o gestor de fundos de fundos da Mellon Serviços Financeiro, Gustavo Castello Branco.

De acordo com ele, somente no mês de maio, os 51 maiores fundos multimercados do Brasil perderam, em média, 1,97%, com um pico de perda de 12,3% em uma das carteiras. "Sem dúvida, é uma variação muito alta se levarmos em consideração que se trata de uma média.

Mas as apostas ainda não mudaram, portanto, ninguém ainda se arrisca a jogar contra (o Brasil)", afirma.

No caso da Mellon, segundo Castello Branco, a ordem é "reduzir o risco o mais rápido possível", comprando, inclusive, ativos de renda fixa para compor os fundos multigestor da casa. "Para nós e os gestores de hedge funds, o cenário de longo prazo continua sendo o mais importante, e este ainda não mudou. Agora, se os Fed Funds - em junho – saírem fora das expectativas, uma nova rodada de 'sell-off poderá acontecer", finaliza.


*Um dos diretores da RiskOffice é Marcelo Rabbat, consultor de investimentos especializado em risco de crédito e mercado.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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