Ajuste fiscal é essencial para atrair investimentos



JORNAL DO COMERCIO (RS)
ECONOMIA - 26 DE JUNHO DE 2006

Melhora da imagem é um dos fatores determinantes para novas captações

Com a volatilidade rondando a economia mundial nas últimas sema­nas, especialistas acreditam que um dos fatores determinantes para atra­ir de volta os investidores aos mer­cados emergentes é a melhora na imagem externa. No caso do Brasil, o desajuste nas contas governamen­tais é fator preponderante na elabo­ração do chamado risco-País. "Dívi­da interna grande, com vencimento curto e remunerada com a maior taxa de juros é uma combinação ex­plosiva, que só gera impactos nega­tivos", avalia Rafael Paschoarelli, professor de Finanças da Universi­dade de São Paulo (USP).

Para o investidor estrangeiro se interessar maciçamente por papéis brasileiros, o título nacional teria que render o valor do titulo norte-ameri­cano acrescido da taxa anual indica­da pelo risco-País. Na sexta-feira pas­sada, o risco-País fechou em 257 pon­tos, o que significa que os títulos naci­onais têm que ganhar 2,57% a mais que o norte-americano para atrair dinheiro de fora. "Os títulos públicos norte-americanos rendem 5% ao ano, e são considerados os de menor risco do planeta. Por isso que o risco dos emergentes influi e muito, não há como competir com os Estados Uni­dos", ressalta Paschoarelli.

Em termos de crescimento, o Bra­sil está em último lugar se compara­do aos outros países que compõem o bloco dos emergentes conhecido como Bric, que são Rússia, Índia e China. Nas Américas, a economia brasileira só aumentou mais que a do Haiti em 2005, segundo Paschoarelli. No ou­tro extremo, a China cresce a invejá­veis 9% ao ano. Em 2005, o Produto Interno Bruto (PIB) do gigante asiático atingiu US$ 6,5 trilhões.

Neste ritmo, este ano a China deve crescer o equivalente a toda riqueza produzida pelo Brasil no mesmo período. O excelente desem­penho da economia chinesa tem atra­ído investidores de todo o planeta. Segundo analistas, além da abundan­te e barata mão-de-obra, a China transformou-se no maior canteiro de obras do mundo, com maciços inves­timentos em infra-estrutura.

"Imaginando que o Brasil pudesse crescer também 9% ao ano, o tecido estrutural não suportaria a vazão, porque os investimentos em portos, aeroportos e ferrovias são escassos", ressalta o professor da USP. Embora com sucessivos recordes de arrecada­ção tributária, Paschoarelli diz que os gastos públicos são enormes e de pés­sima qualidade. "O aumento nos sa­lários do funcionalismo recentemente anunciado, por exemplo, é uma conta de R$ 7,7 bilhões que se trans­forma em despesa recorrente, e não investimento", alerta.

Para Carlos Antônio Rocca, sócio-diretor da consultoria RiskOffice*, embora tenha havido redução nos contas externas e melhoria nos de­mais parâmetros ligados à solvência do Brasil, o que acarretou redução na vulnerabilidade expressa pela queda no risco-País, ainda assim o maior desafio brasileiro hoje é do­méstico. "Na última década, as des­pesas correntes têm crescido mais que o PIB. Passaram de 13% da ri­queza há 10 anos para 23% atualmen­te, e os fatores que geraram isto con­tinuam atuando, como inchaço da Previdência Social e inflexibilidade relativa a um conjunto de outros gastos públicos, como reajustas sa­lariais", salienta Rocca.

*A RiskOffice tem como um dos diretores o consultor de investimentos Marcelo Rabbat, especialista em risco de crédito e mercado.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


Artigos Relacionados


Afinal, O Que E O Tal De Risco Brasil?

Crescimento Não é Tudo

Eua Baixam Juros De Novo

Eua: Reservas Dos Países Geraram Liquidez Excessiva

Riskoffice Começa A Assessorar Agroindústrias

Investidores Institucionais: Diversificação é Inevitável

Valorização Do Real Beneficia Estrangeiros Que Compram Ipos