“Mudanças só com ajustes de longo prazo”



GAZETA MERCANTIL
NACIONAL - 25 DE AGOSTO DE 2006

Nada menos de 63% da pou­pança financeira total do Brasil fica com o setor público, na for­ma de crédito bancários e de tí­tulos. Enquanto que, nos Estados Unidos, o indico fica em 21%, União Européia, 29% e Japão 56%. "Esse é o peso da dívida pública", diz o professor Carlos Antônio Rocca, consultor do Ibemec e do Comitê de Desenvolvi­mento do Mercado de Capitais, ao sinalizar que, mudanças só com ajuste fiscal de longo prazo, revertendo o comportamento das despesas correntes.

Para Rocca, o problema das despesas correntes é o grande de­safio para a retomada da econo­mia e continuidade de cresci­mento do mercado de capitais, na sua missão de financiar o se­tor privado. Ao absorver a maior parte dos recursos, o governo deixa de fazer investimentos pú­blicos e limi­ta o volume para a iniciativa privada. "Dívida acu­mulada acaba produzindo situação em que a taxa real de juros é muito alta e a despesa financeira com juros é outro problema. Estamos gastando 8% do PIB em juros", diz, ao considerar a despesa o elemento chave nesse cenário.

Para o especialista, sócio da RiskOffice*, embora possa existir um certo excesso de gordura na taxa, seria possível diminuir de forma significativa no médio e longo prazo. Rocca participou ontem do painel "Porque o Brasil investe menos que outros emer­gentes: como elevar o investi­mento e sustentar o crescimento econômico", na abertura do 19-Congresso Nacional da Associa­ção dos Profissionais e Investi­dores do Mercado de Capitais (Apimec), em Fortaleza.

No encontro, ele apresentou dados de ensaio da evolução dos ativos de mercado de capitais captados pelo setor não financeiro, que passou de 13,4% em 2003 para 17,3% neste ano. O crédito com recursos livres do sistema bancário, que era de 59,5%, caiu 52,1%, no total, es­te ano, enquanto o fluxo de desembolsos de novos recursos do BNDES para o setor privado saiu de 32% para 22,6%, de acordo com números prelimina­res. Na avaliação de fluxo, o vo­lume captado no mercado capi­tais cresceu de 8% para 25,4% no período. "Foi um evolução altamente significativa", diz, ao ponderar que o desempenho le­va em conta avanços no ambien­te regulatório.

Nos últimos quatro anos, con­forme apontou, houve uma ver­dadeira revolução no ambiente institucional, com a criação de vários instrumentos no Mercado de Capitais. "A CVM e o BC fo­ram extremamente eficiente e o Plano Diretor do Mercado de Capitais propôs um conjunto de medidas e a maior parte já foi adotada". Em resumo, houve um salto de qualidade que tem a ver com proteção do investidor, transparência, formação de pre­ços, proteção à concorrência.

Na avaliação de Rocca, foi importante a entrada dos inves­tidores estrangeiros, com melho­ria rápida das contas externas, re­dução do risco País. "Mais da metade das novas emissões pri­márias (70%) foram capturadas por estrangeiros."

Hoje a soma dos ativos de fundos de pensão, previdência aberta, companhias seguros e grupos de investimentos alcança saldo 54,6% do PIB, nos depósitos totais da rede bancária, quando em 2000 era 34%. En­quanto os bancos têm 26,5% de depósitos totais sobre o PIB. "O sistema de investidores institucionais hoje é duas vezes mais importante que os bancos na captação de recursos de poupan­ça financeira no Brasil", afirma.

Numa simulação para 2010, estudo que devera ser concluído em 15 dias mostra que a carteira que envolve os institucionais chega 60,6% do PIB. Na avalia­ção de Rocca, considerado um crescimento do PIB de 3,5% ao ano e levando em conta a redução da dívida, o volume de ativos privados, das mais variadas fon­tes, chegaria, no acumulado, a al­go em tomo de R$ 457 bilhões em aplicações novas.

O Congresso da Apimec ter­mina hoje com o painel "Desa­fios do Novo Governo: reformas estruturais e crescimento susten­tado". Na parte da tarde, o tema inclui Mercado de Capitais como instrumento de desenvolvimento econômico e Social. Para o pre­sidente da Apimec Nacional, Milton Luiz Milione, falta polí­tica pública. "Os debatedores fo­ram unânimes em afirmar que o custeio no Brasil é muito alto, o governo é muito grande. Só com vontade política esse quadro vai mudar". Ainda de acordo com o dirigente, a redução da taxa de juros vai permitir atrair novas in­dústrias, criando novos postos de trabalho, desenvolvendo a eco­nomia via mercado de capitais.

A RiskOffice Consultoria tem como um dos sócios o economista Marcelo Rabbat, consultor de investimentos especializado em riscos de crédito e de mercado, que dirige também a PR&A.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


Artigos Relacionados


Fundação Compra 2%das Ações Novas

Plano Diretor Do Mercado De Capitais

Muito Além Do Pregão

Investidores Institucionais: Diversificação é Inevitável

"não é Um Espetáculo, Mas Não é Ruim"

Riskoffice Aumenta Consultoria Para Os Cliente De Alta Renda

Baixo Volume De Crédito Emperra O Crescimento Da Indústria