Envelhecer é ruim?



Estava pensando em escrever sobre o ano novo, sobre como as coisas mudam ou acontecem do jeito que queremos quase sempre quando agimos para tanto, que pensamento positivo é bom, nos motiva e dá forças, mas sem ação não funciona... Porém, aproveitando a ideia de passagem do tempo que representa a mudança de ano, lembrei de uma conversa recente com uma pessoa amiga, sobre a velhice.

Ela falava como é difícil envelhecer, demonstrando estar consternada com a ideia de ficar velha, até mesmo revoltada com isso. Preciso dizer que quando ela falava em envelhecer referia-se principalmente à perda do "viço da juventude", da "beleza jovial", o que, numa sociedade como a nossa, que cada vez mais tenta retardar algo que deplora, ou seja, a velhice, é visto como algo muito doloroso. Tenta-se hoje em dia, por interesses econômicos e sabem-se lá mais quais, de inúmeras formas retardar o "tempo fisiológico", enganá-lo, manter-se jovem na aparência e também em atitudes o máximo possível. Secundariamente, em nosso papo, havia a preocupação com uma velhice que traz doenças, decadência da saúde.

Bem, creio que ninguém tem vontade de envelhecer antes do tempo, de perder cabelos, ou vê-los embranquecendo, ter rugas novas conforme os anos passam, ver o corpo mudar seu metabolismo e engordar, etc. Por isso que hoje em dia temos tantos recursos que podem minimizar esses efeitos. Atualmente, tem gente com 70 anos que aparenta ter 60, 55... A vaidade e a preocupação com a estética são saudáveis, desde que de maneira equilibrada, representam que a pessoa está com sua autoestima em bom nível e não considera que ter mais anos de vida significa relaxar e descuidar da aparência e da saúde, que não vale mais a pena se preocupar com isso. Vale sim, até o último dia de vida devemos cuidar do corpo, assim como cuidamos da mente e do espírito. O problema é quando a pessoa se sente insegura conforme envelhece, pois comprou a ideia de uma sociedade consumista e equivocada que prega uma juventude eterna a todo custo, e entra numa paranoia de TER de ser, ou parecer, sempre mais jovem, muito mais jovem, às vezes, do que é. Isso denota problemas de autoestima, e o melhor seria, antes de gastar com cirurgias plásticas, procedimentos estéticos e exercícios exagerados, trabalhar o interior, com a ajuda de um profissional habilitado, na maioria das vezes.

Tudo bem, cuidar equilibradamente do físico, da aparência, é legal e recomendado. Mas, de qualquer forma, se nada acontecer no meio do caminho (pois basta estar vivo para morrer, e isso não é uma desgraça, mas sim uma lição para vivermos bem o hoje), todos iremos envelhecer, e por mais que façamos, isso se refletirá em nossa aparência. Posso ter 70 e aparentar 55, mas não posso ter 70 e aparentar 25! É bom eu encarar isso como uma realidade. Ao invés de ficar maldizendo a vida e a velhice que vem, eu prefiro entender que cada idade tem sua beleza. Exatamente! Cada idade tem sua beleza! Uma pessoa pode ser exteriormente linda aos 20, 30, 60, 80. Depende de como ela se cuida, se porta, se veste, se aceita.

A mesma pessoa amiga deu um exemplo: se passar a meu lado uma menina de 20 e poucos e uma mulher de 65, para qual eu olharei? Depende. Se a menina de 20 e poucos for desleixada, ou tiver uma postura corporal e maneiras desagradáveis, e a mulher de 65 estiver vestida com elegância (o que não significa luxo), tiver maneiras agradáveis, exalar bem-estar e alegria de vida, com certeza eu olharei para ela e pensarei "Uau, que mulher linda, chique, agradável de se ver!". Isso, inclusive, já me aconteceu na vida real.

Claro que se eu me tratei mal a vida inteira, com desleixo, comendo mal, sem me cuidar fisicamente, o passar do tempo refletirá e ampliará minhas atitudes. Por outro lado, se eu me cuido, o passar do tempo não será esse algoz tão impiedoso.

E até agora eu escrevi sobre corpo, aparência. E a cabeça? Se eu trato mal de minha mente, com pensamentos negativos, mágoas, ódios, amargura, a cada ano que passar eu me tornarei mais e mais cinzento por dentro, perdendo esperanças e vitalidade, energia, alegria de viver. Minha cabeça fica velha, parecendo ter milênios de pó acumulado. Se passo a vida sem saber quem realmente sou, sem me respeitar, sem me dar chances ou me permitir começar de novo sempre que necessário, ter esperanças, fazer algo útil, acreditar e vivenciar o amor, pode chegar um ponto em minha vida em que minha própria consciência entrará em desespero e decidirá pôr um fim nesse processo: há médicos que acreditam serem as demências senis provocadas em grande parte pela própria mente da pessoa. Sim, a pessoa que não criou um universo positivo dentro de si chega a um ponto de tal desespero interno que sua mente decide ir "se apagando", sair da realidade, iniciando um processo de degeneração cerebral que faz a pessoa regredir por vezes à idade infantil, internamente falando, sem reconhecer mais as pessoas, esquecendo quem ela própria é. É a escolha de fugir para parar de sofrer. Fugir de si mesmo e de sua vida, por não ter se dado oportunidades nem o amor necessário e não acreditar mais que isso seja possível (o que na realidade é, até o fim de nossas vidas). A demência seria, então, uma última atitude desesperada para amortecer a dor de uma vida triste que a própria pessoa escolheu (pois sempre podemos fazer escolhas, por mais que tudo pareça estar mal, mesmo assim posso escolher entre sofrer, me entregar e entristecer ou sentir a dor, mas acreditar ser possível melhorar e agir nesse sentido).

Não que um processo de involução cerebral seja 100% determinado pela forma como eu penso, me trato e ajo, há com certeza fatores físico, genéticos, mas em grande parte pode ser, sim. Por isso, cuidar do meu interior é muito importante, para que ele não envelheça e me lance num caminho de desespero, mas sim amadureça e saiba cada vez mais como viver melhor. Por mais que o corpo esteja envelhecido, a mente pode ser jovem. Que coisa bonita! A mente tem a chance de nunca envelhecer, mas sim de amadurecer!

Se vivemos numa sociedade que cobra a juventude eterna, seja na aparência ou mesmo em atitudes por vezes ridículas, cabe a cada um decidir se vai dar ouvidos a ela ou não. Se mesmo com todos os cuidados e atitudes positivas o tempo passa e traz suas consequências, se o corpo inegavelmente muda, mesmo com todas as plásticas e tratamentos de pele, o que fazemos? Desenvolver outros valores, sem abandonar o cuidado com a aparência e a saúde, de forma equilibrada, repito. Desenvolvemos valores como segurança, benevolência, capacidade de amar, de compreender, de raciocinar, ter calma, charme, muitas coisas que só o amadurecimento interno pode trazer, e este geralmente, se a pessoa se permitir, aumenta com a idade e as experiências e aprendizados vividos, racionalizados e incorporados, aumenta com o maior conhecimento que se tem de si. Se sou uma pessoa bem-resolvida, segura de mim, me conheço, amo e respeito, não me sinto mais tão dependente de não ter rugas para ser feliz. Se eu perceber que meus músculos estão mais flácidos, não vou pirar com isso e me "matar" na academia, vou praticar atividade física para manter minha saúde e vou seguir vivendo bem, curtindo meus dias.

E dizer que cada dia que se passa nos aproxima do fim... Absurdo! Não sabemos quando iremos morrer, só sabemos que iremos, mas isso pode acontecer quando tivermos 20, 40, 90 anos. Por isso, a importância de viver o hoje da melhor forma possível, trabalhar para isso, para preservar o que temos de bom e melhorar o que é deficiente. Escolher a alegria ao invés da dor, do ressentimento, da raiva, da vingança. Viver cada dia em crescimento, com uma cabeça jovem, sem afobações mas sem deixar tudo para amanhã ou para o ano que vem.

Portanto, que em 2010 todos nós trabalhemos para ter mentes mais jovens e maduras, pois já vimos que isso é possível, e que saibamos viver cada dia da melhor maneira possível, sempre abertos para aprender, melhorar o que desejamos e ter vidas mais felizes. Aliás, que tal começarmos, ou continuarmos, esse trabalho hoje mesmo, sem esperar o ano que vem?

Feliz Ano Novo, feliz mente jovem!
Autor: Marcus Facciollo


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