A pressa na busca de uma solução.



Para que a pressa de dar uma opinião errada?

Por mais que os convidados estejam com fome, não se usa um maçarico para preparar o churrasco.

Se a solução é óbvia o problema não estaria sendo colocado para discussão.

PARTE 1

Nos meus relacionamentos sociais eu chamo todos os homens de “Caboclo” e as mulheres de “Dona Maria”, sem que isto represente qualquer discriminação. Eu nasci no campo, tudo bem que na Europa, mas é um campo. Então sou um caboclo nato. E passei a infância na periferia. Estudei em uma micro cidade de Minas, com a cultura cabocla. Até hoje continuo sendo um caboclo, agora brasileiro por adoção e identificação.

E chamar de "Dona" é sinal de reconhecimento e respeito pelo gênero feminino. Maria porque é o nome feminino mais singelo. E sei que no fundo todas gostariam ter este como o primeiro nome e depois o de batismo. Tanto assim, que se eu gritar “Maria” no meio da rua, todas as mulheres irão virar a cabeça para ver se o assunto é com elas. É o subconsciente atuando. Eu somente tenho a pretensão de ajudar a trazer este desejo para a percepção consciente. Quem leu algo sobre o funcionamento da mente, sabe do que estou falando. Se alguém não leu, está aí um estímulo.

Como prova deste meu reconhecimento e respeito, não tenho vergonha em confessar que no meu casamento de caboclo sempre prevaleceu o matriarcado. A minha mulher sempre mandou e desmandou. Quando me chamava para almoçar ou jantar, eu ia. Quando trazia o café da manhã na cama, eu tomava sem reclamar. Quando trazia o jornal, eu lia. Ela separava e passava a roupa que eu ia vestir no dia seguinte, e eu vestia sem questionar. Nunca ousei desobedece-la.

Quando ela teve que se ausentar, foi um drama.

Mas a vida continua com as mesmas necessidades básicas. Tive que aprender muita coisa. A primeira foi como regular a água fria e quente no chuveiro. Durante uma semana eu me pelei ou tremi de frio. Ao cabo dela aprendi que não se deve jogar a toalha molhada no chão. Ela fica lá e não seca.

A segunda foi descobrir onde era a cozinha lá de casa. Como sou um caboclo e não um burro, sempre soube que existia, só não sabia onde.

E quando a achei, fiquei maravilhado com a infra-estrutura. O que lá tem de equipamentos, máquinas sofisticadas e ferramentas – redondas, altas, baixas, cabo curto, cabo longo - é inimaginável. Isto sem falar dos insumos. Latas e mais latas, garrafas com produtos de todas as cores, geladeira cheia de produtos verdes, vermelhos e brancos que nem sei os nomes.

É um mundo fantástico.

E a minha patroa sabia operar todas aquelas máquinas e misturar nas proporções certas aqueles insumos para preparar aquelas coisas deliciosas que ela sempre me servia na sala de jantar nos dias úteis ou no sofá da sala de estar nos finais de semana. Além da cerveja no ponto.

Eu arrisco dizer que só a sensibilidade feminina é capaz de administrar este mundo. A minha esposa era um gênio. E olha que ela trabalhava fora o dia inteiro e conseguia orientar à distância a Dona Maria que a ajudava em casa.

Mas os meus amigos, caboclos como eu, me disseram que chamar de gênio é um pouco de exagero meu, pois todas as mulheres possuem o dom natural para esta atividade e que elas ficam verdadeiramente realizadas quando reconhecemos e valorizamos esta competência. Por isso, não temos o direito de privá-las deste sentimento e nem se intrometer neste seu mundo.

Vivendo e ensinando e algumas vezes aprendendo... com a caboclada.

PARTE 2

Agora me diga. Você achou que eu sou um tanto quanto “machista”, não foi?

Pois cometeu um engano.

Em momento algum foi dito que houve uma exigência ou imposição minha. O texto mostra somente uma pequena parte de um relacionamento que durou 34 anos de muita felicidade, até que Deus a chamou. O relacionamento de um casal envolve infinitos detalhes. Ela de fato gostava de cuidar bem deste caboclo e igualmente dos nossos 3 caboclinhos. Em “troca” recebia da minha parte o tratamento dispensado a uma rainha. Nunca ouviu um argumento meu dito em voz alta, nunca ouviu da minha boca uma expressão ofensiva, ou mesmo um palavrão, e nunca teve motivos para duvidar da minha integridade ou ficar magoada com alguma atitude intempestiva. Nunca lhe faltei com respeito. Sempre teve toda a minha atenção quando queria conversar ou desabafar e sempre recebia uma sugestão quando pedia e o apoio incondicional às suas decisões. O vice-versa também existia. Um verdadeiro companheirismo, no qual a satisfação de um era a felicidade do outro. Não vou entrar nos detalhes íntimos porque isto não é da conta de ninguém, mas se não fosse a medicina, certamente teríamos 33 descendentes.

Agora que você tem mais informações, continua com a mesma opinião a meu respeito?

Se eu não tivesse a oportunidade de contar o resto da minha história, certamente ganharia um parecer desfavorável, que não espelharia a minha forma de ser e agir. E isto seria uma pena.

No seu trabalho, quantas vezes você tomou posição tendo somente uma parte dos dados nas mãos? Quantas vezes você procurou ouvir todos os envolvidos em uma questão antes de tomar a decisão? Quantas “verdades diferentes” você procura ouvir antes de se situar no contexto? Somente a versão de um amigo basta?

No seu dia a dia você não precisa se precipitar em tirar conclusões baseado-se nos primeiros relatos ou relatórios que receber. Eles podem mostrar somente uma parte do problema, se é que de fato ele existe do tamanho à primeira vista imaginado. Provocar tempestade em copo de água não sensibiliza mais pessoas inteligentes, a não ser como curiosidade momentânea, um imenso borbulhar em 200 mililitros de líquido cristalino.

Raramente um problema requer um posicionamento imediato, excluindo-se daí as emergências técnicas de qualquer profissão. Mas para estes casos a ações já estão definidas e são baseadas em conhecimentos consolidados e procedimentos normatizados. Para as demais dá tempo para respirar fundo e pelo menos perguntar: “Será?”.

E se alguém responder “Veja bem...”, pode relaxar. Você terá tempo para refletir.

Você fez esta pergunta quando leu a primeira parte do artigo? Ou os teus paradigmas já lhe deram o veredicto?

As opiniões e as decisões sensatas sempre requerem um amadurecimento, que no fundo quer dizer “TEMPO PARA DESCOBRIR E ANALISAR O MÁXIMO DE VARIÁVEIS PRESENTES NA QUESTÃO”.

Não se deve correr o risco de ser mais um profissional que apresenta a solução antes do término da exposição do problema.

Para que a pressa de dar uma opinião errada?

Por mais que os convidados estejam com fome, não se usa um maçarico para preparar o churrasco.

Se a solução é óbvia o problema não estaria sendo colocado para discussão.

Será, companheiro(a)?
Autor: Vladimir Anatoliy Maleh


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