A escola não é para todos



Alguns justificam que o baixo salário dos professores é devido ao nível do professorado brasileiro ser insuficiente. Mas talvez seja o justo contrário. Ensino aos meus alunos uma parcela muito pequena do conhecimento que obtive em uma vida inteira dedicada ao estudo. E certamente não sou a única. Vou explicar melhor. A escola é local de estudar. Por estudar entende-se aplicar a inteligência para aprender, analisar, examinar detidamente, segundo o dicionário Michaelis. Para estudar nem é necessário que se esteja na escola, pode-se ter essa experiência em qualquer lugar. Não quero dizer que sou a favor da extinção da escola. Não. É necessário que o aluno frequente esta instituição, uma vez que ela serve para que haja convivência e integração entre pessoas, o que auxilia na formação do indivíduo. Para uma pessoa (seja ela criança, adolescente ou adulto) efetivar a ação de estudar é necessário ter interesse e dedicação; silêncio e introspecção; pesquisa e aprimoramento. Sem essas ferramentas não é possível avançar. Existe, mas é difícil encontrar alguém que consiga se concentrar em meio ao caos. Apesar dessa lógica, o que se vê atualmente são alunos que vão à escola sim, pois o conselho tutelar não permite que eles fiquem em casa e o governo tem uma campanha para ter todas as crianças na escola. E os pais pressionados por isso mandam seus filhos à escola, mas não se interessam se eles estudando.

A escola não tem que ser pra todos, como eles propõem, deve ser para quem merece. Merecimento porque o aluno ou sua família deve querer estar ocupando aquele espaço e honrar essa postura. E escrevo isso porque acredito que haja alunos e pais que acreditam que o estudo seja algo importante e essencial na vida e é por essas pessoas que os professores lutam todos os dias. Sempre que houver um aluno que esteja querendo aprender, devemos orientá-lo. Sinto muita pena daqueles que se interessam pelos estudos. Eles estão em salas de aula onde a baderna é geral. Eles querem escutar e entender o que o professor está tentando dizer, mas não consegue. O professor gostaria muito de dar uma atenção especial àquele aluno que se dedica e gosta de sua matéria, mas ele não consegue, pois se ele se debruçar por mais de dois minutos e explicar em particular para alguém, os outros aproveitam para botar terror. Essa criança que veio para escola no intuito de ( pasmem) estudar, não tem coragem de se impor e gritar com os colegas, exigindo que eles calem a boca para a professora explicar porque ele está interessado. Imaginem! Se ele fizer isso é capaz de aparecer com o olho roxo na próxima aula. E não pensem que é exagero. Quando alguém se atreve a sugerir silêncio, é taxado de cdf (sigla impublicável), otário, nerd. É real. O trouxa é aquele que estuda e que tira notas altas. Isso não é mesmo bizarro? Pois é, as coisas no Planeta Escola mudaram e muito. O que eu faço, então, com o meu aluno estudioso? Ele fica chafurdando na lama da ignorância alheia. Isso é justiça e escola para todos? Tenho que prover espaço ao aluno que não tem comprometimento com sua própria educação com prejuízo ao bom aluno. E isso tudo com o aval do Estado, sendo este o responsável por essa dilaceração da escola com suas leis insanas que só sabem punir quem está disposto a estudar e a ensinar.

Como solução, o discurso entre os “professores de escritório” reza sobre a falta de competência dos professores. Estes grandes estudiosos que nunca estiveram em uma sala de aula aparecem em curso de Com umas lousas bacanas, data show e canetas especiais e dão uma aula interessante, onde o único aluno é o cameraman. Parece até que a mensagens que eles desejam passar é: a escola é um lugar ótimo, mas só quando não tem aluno. Isto seria uma arbitrariedade, já que a escola é para o aluno e só faz sentido com ele. Mas não para todos. Somente para os que desejam aprender e para aqueles que reconhecem o valor do conhecimento.
Autor: Silvana Spina


Artigos Relacionados


Periferias Urbanas ? O Que Podemos Dizer Sobre...

Resenha Do Texto: Quando Aprender é Perder Tempo... Compondo Relações Entre Linguagem, Aprendizagem E Sentido.

Professores E Pais Juntos Na Educação

A Memória Como Uma Lixeira

Estudar Não Mata.

Relação Professor-aluno Na Sala De Aula

Dislexia Na Escola