Seminário discute retornos



Investidor Institucional – Setembro de 2009

Com mais de 150 pessoas presentes, seminário organizado por Investidor Institucional discutiu a rentabilidade das carteiras de fundos de pensão em meio a um cenário de juros baixos

Mais de 150 pessoas, entre representantes de fundos de pensão, gestoras de recursos e consultorias, participaram do seminário “Maximizando os retornos das carteiras em 2009”, promovido por Investidor Institucional em 20 de agosto, em São Paulo (SP). A maioria do público presente, que contou ainda com a participação de representante da Secretaria de Previdência Complementar (SPC), era de pessoas ligadas às fundações, que enviaram 73 membros ao encontro.

Os trabalhos foram iniciados com a discussão do tema “para onde vai a Renda Fixa?”. O painel contou com as palestras de Demóstenes Marques, diretor de investimentos da Funcef, Marcelo Rabbat, responsável pela área comercial da Risk Office, Bruno Amadei, diretor da Integral Investimentos e Régis Carvalho, diretor da Ber Capital.

Demóstenes Marques discorreu sobre o desafio de bater as metas atuariais diante de um novo patamar de taxa de juros no Brasil (atualmente em 8,75% ao ano, nível mais baixo já visto no país). “A queda da taxa Selic exigirá uma maior exposição ao risco e uma gestão mais ativa de investimentos”, disse o palestrante. Neste contexto, ele colocou como segmentos atrativos os títulos públicos de longo prazo, a crédito privado, o mercado acionário, as participações societárias de longo prazo e os imóveis.

Marques citou, ainda, algumas medidas adotadas pela Funcef entre 2003 e 2009 de forma a preparar a carteira de renda fixa da entidade para a nova realidade da taxa de juros brasileira. Entre as iniciativas, ele apontou, por exemplo, o alongamento do vencimento dos ativos e a mudança do perfil da carteira, que passou a ser mais indexada a inflação e menos atrelada a taxa de juros; e a elevação da representatividade da carteira própria da fundação no segmento de renda fixa. Mais especificamente no primeiro semestre deste ano, a Funcef formou uma carteira de Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) e uma da Depósitos a Prazo com Garantia Especial (DPGEs), aproveitando a abertura das taxas pagas pelos bancos nos CDBs e a segurança provida pelo Fundo Garantidor de Crédito (FGC) nos DPGEs.

Marcelo Rabbat, por sua vez, se mostrou preocupado com a utilização do Certificado de Depósito Interbancário (CDI). ”É preciso utilizar benchmarks que representam melhor o passivo atuarial das entidades”, alertou.

De acordo com Rabbat, um movimento que tem acontecido no sistema é o de redução das metias atuariais. Em 2006, 98% das metas estavam em 6% ao ano mais índice de inflação. Atualmente, esse percentual é de 44%. Segundo ele, apesar de os títulos públicos não baterem mais as metas atuariais, as fundações terão de manter pelo menos 60% do patrimônio na RF, e os outros 40% deverão ser investidos em créditos privado e renda variável. “O problema é que, atualmente, não há papéis privados ligados a IPCA longo e com boa estruturação. O que existe são papéis high yield e que já estão dando problema.” Segundo ele, no mundo todo, mesmo em países com taxas de juros baixas, os fundos de pensão têm a maior parte de seus papéis rendendo menos que a meta.

Durante sua palestra, Bruno Amadei, diretor da Integral Investimentos, traçou um panorama do mercado de crédito privado. De acordo com o especialista, mais fundações estão começando a adquirir ativos de dívida privada diretamente com o originador. Para isso, contratam alguma empresa especializada capaz de fazer o empacotamento dos papéis e estruturar a operação. “Isso já é feito tanto por fundos de pensão sozinhos como em grupo”, explicou. Régis Carvalho, diretor da Ber Capital também falou a respeito do mercado de créditoo privado, em especial das oportunidades que vêm surgindo em alguns segmentos importantes da economia brasileira – como o do agronegócio, por exemplo.

RENDA VARIÁVEL – O segundo painel do seminário tratou dos investimentos em renda variável e contou com palestras de Alexandre Póvoa, diretor da Modal }Asse Management, Everaldo França, diretor da PPS Portfólio Performance, e Bernardo Wheter de Araújo, analista sênior de renda variável da Opus Investimentos.

A base da apresentação de Póvoa foi a situação dos mercados globais e brasileiro. Segundo ele, existe hoje a impressão que a Bolsa subiu muito rápido e está cara, porque o investidor estrangeiro comprou muito. “E agora chegou o esperado momento dos juros baixos, mas quando olhamos os números, nada de depósitos nos multimercados. Pelo menos parou de sair dinheiro desses fundos”, comentou. O economista também questionou se faz sentido falar em diferencial de risco para investir no Brasil. “Estamos vendo um crescimento econômico maior aqui do que lá fora, o risco cambial foi resolvido e a inflação é declinante. A volatilidade relativa dos mercados de capitais também vem se reduzindo. Tudo leva a crer que o prêmio de risco para se investir no Brasil vai cair. Só não caiu ainda porque o trauma do ano passado foi grande para o investidor.”

Póvoa lembra que a alavancagem da economia americana está em 43%, enquanto da economia brasileira está em 20%. “A Bolsa brasileira está em um patamar justo. A dúvida hoje é se é melhor investir em ações de empresas de commodities ou ligadas à economia local”, disse. Para o economista, estamos longe de uma bolha especulativa, apesar de algumas ações já terem ultrapassado o patamar justo.

Everaldo França aproveitou a brecha para fazer uma provocação: “ia perguntar para o Póvoa se a Bolsa está cara ou barata, se é hora de comprar ou vender”. A palestra do diretor da PPS teve como tema principal o market timing dos gestores de renda variável. “Se existe um gestor que conseguiu prever os movimentos da Bolsa a ponto de comprar no patamar mais baixo e vender no mais alto, com certeza ele ficou milionário e está passando férias eternas em algum lugar pradisíaco”, brincou.

França chamou atenção, ainda, para o fato de os gestores se comportarem de forma bastante parecida, em bloco. E completou: “o que não pode é o investidor pagar por alfa e o gestor só entregar beta.”

Já Bernardo Werther de Araújo, da Opus Investimentos, tratou das vantagens e desvantagens da gestão ativa e da seleção passiva de ativos. Para ele, não existe “verdade absoluta” no que se refere à gestão de recursos e que cada fundação decide a filosofia de investimentos mais adequada a seu perfil. Segundo ele, o market timing é um elemento importante no trabalho de gestão de recursos. “O tempo é limitado, portanto deve ser empregado naquilo que tem maior potencial de resultado”, disse o palestrante.

OIUTRAS CLASSES DE ATIVOS – Investimentos alternativos e controle de riscos foram assuntos tratados no terceiro painel do evento, do qual participaram Walter Mendes, presidente da Associação de Investidores no Mercado de Capitais (Amec), Carlos Hollander, diretor da Latam Investments, Cristiano Carioba, da Atlântica, e Luiz Jurandir, consultor e professor da Fipecafi. Já Marcelo Allain, diretor do iShares Brasil, Fernando Lifsic, diretor da Itajubá Investimentos, Alcinei Rodrigues, gerente executivo de participações da Petros, e Patrícia Monteiro, coordenadora-geral da SPC, palestraram no quarto e último painel do evento, cujo tema era “Busca de retornos de longo prazo”.

Walter Mendes, da Amec, falou sobre a adoção das normas internacionais de contabilidade International Financial Reporting Standards (IFRS) no Brasil e sobre o direito dos minoritários. Já Hollander, da Latam Investiments, tratou das razões para se diversificar investimentos com aplicações no exterior. O executivo explicou que os retornos nas categorias de ativos variam a cada ano, e nenhuma classe de ativo permanece líder ao longo dos anos. Segundo ele, por meio da diversificação é possível atenuar as oscilações de um portfólio, combinando ativos. “Existem oportunidades de investimento no exterior para os investidores nacionais”, disse, concluindo que as aplicações em dólar auxiliam as carteiras domésticas a aumentar riscos e reduzir volatilidades.

Já Carioba, da Atlântica, tratou das aplicações em Fundos de Investimento em Participações (FIP) do setor de saúde. Segundo ele, há muito espaço para a saúde privada no País, já que a saúde pública não dá conta de atender toda a população. Ele lembra que o setor de saúde sofreu uma verticalização, oui seja, as operadoras de saúde passaram a ter participação em hospitais e laboratórios. “FIP é ferramente para essas entidades”, comentou. José Jurandir, da Fipecafi, abordou o tema da crise dos mercados mundiais. “Há excesso de liquidez no mundo e alguns perdedores não sofreram o que deveriam ter sofrido, portanto, voltaram a operar e a induzir movimentos de mercado”, disse.

Marcelo Allain, do iShares Brasil, explicou de que forma os Exchange-Traded Funds (ETFs), ou fundo de índices, operados pela empresa no País podem se enquadrar na estratégia de investimento das fundações. Segundo ele, os ETFs, ou iShares, podem ser utilizados na chamada estratégia núcleo-satélite. Nessa estratégia, a fundação investe em um ETF – que replica em apenas um papel negociado em Bolsa todas as ações de um índice – e compra mais ações daquelas empresas que acredita ter mais chances de rentabilidade no futuro. Dessa forma, a fundação não precisa se dar ao trabalho de adquirir todas as ações do Ibovespa, por exemplo, porque o ETF já faz isso para ela.

Lifsic, diretor da Itajubá Investimentos, falou sobre asset alocation e produtos alternativos de investimento em meio a um cenário de juros baixos da inflação controlada. Durante sua exposição, Alcinei Rodrigues, gerente executivo de participações da Petros, tratou dos FIPs, investidos pela fundação. Segundo ele, a Petros investe em 22 FIPs, sendo que nove são do setor de infra-estrutura.

Um assunto que atraiu bastante o interesse dos participantes do evento foi a nova regulação dos investimentos dos recursos das entidades fechadas de previdência complementar. Patrícia Monteiro, coordenadora-geral da SPC, falou a respeito de algumas modificações que devem constar na “nova 3.456”. Ela abordou ainda outro tema bastante atual e relevante para o sistema: a nova regulação das despesas administrativas das fundações. No dia de realização do seminário, o Conselho Gestor de Previdência Complementar (CGPC) ainda não tinha se reunido para a nova regulamentação. O seminário “Maximizando os Retornos das Carteiras em 2009” contou com o patrocínio de Atlântica, Bram (Bradesco Asset Management), iShares, Latam, Modal Asset BER Capital e Opus.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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