PERSPECTIVAS DE APLICACAO DO VAR PARA O MERCADO AGRICOLA



AÇÕES E MERCADOS RISKOFFICE
RISCO-SETEMBRO/OUTUBRO DE 2006

Daniel Pacifico
gerente de risco de agribusiness da RiskOffice* Consultoria e doutor em Economia Aplicada pela Esalq/USP

Num cenário ditado pela competição, aumento de produtividade, tecnologia auto-sustentável e achatamento das margens, velhos paradigmas começam a desaparecer, especialmente aquele que definia o estado como o grande controlador do setor agropecuário nacional. Não obstante, e evidente que o equilíbrio do sistema, ou melhor, a sua competitividade de longo prazo, depende muito da estabilidade das políticas macroeconômicas do governo (inflação, impostos, juros, câmbio). É inequívoco, entretanto, que a força do mercado e o atual paradigma estabelecido e novos instrumentos de gestão estão surgindo, oferecendo outra perspectiva para o segmento.

O agronegócio pode ser caracterizado pelo fator produção que sofre influência de alguns elementos, cuja previsão e controle não são tarefas fáceis, como condições climáticas, ataques de pragas, queimadas, aplicação de novas tecnologias e sazonalidade da produção. Dessa for­ma, pode-se classificar dois tipos básicos de risco para a atividade: 1) de produção, que pode ser apontado como um dos principais responsáveis pelas variações e quebras de safras devido a dificuldade em prever, na época do plantio, o que ira ocorrer durante o processo até a colheita - o seguro apícola é um instrumento mais adequado para o gerenciamento desse risco; 2) de preço, também conhecido como risco de mercado, proveniente de alterações nos pregos e nas relações de preços entre o momento em que a decisão e tomada e o período em que a venda da produção será realizada.

Apesar dos modelos de gestão de risco de mercado ter sido inicialmente desenvolvidos para organizações financeiras, representam grandes possibilidades de aplicação nos mercados agrícolas. Isso se torna possível graças às transformações que a atividade agropecuária vem enfrentando. Os preços das commodities agrícolas têm alta volatilidade, devido a fatores como sazonalidade, oferta, demanda e possibilidade de quebra de , produção interna e externa. Como agravante, ainda há o fato de os participantes do agronegócio, geralmente, negociarem poucos ativos (commodities), ao contrario das instituições financeiras, que diversificam muito mais suas operações. Aumentam, assim, os riscos de mercado para as empresas do setor agrícola, dada a falta da diversificação do portfólio.

No intuito de quantificar e reportar o risco de mercado, as empresas financeiras têm realizado gran­des esforços de identificação e con­trole. A medida que foi largamente difundida pelo mercado como instrumento de quantificação do maximo que uma carteira/contrato pode perder em dado período de tempo, com certo grau de confiança, foi o "Value at Risk" (VaR).

Formalmente, o VaR pode ser entendido como um valor crítico, estabelecido em uma distribuição de retornos esperados para um portfólio de ativos financeiros, no qual não se espera ser igualado ou superado com determinada certeza em um horizonte de tempo. Isso quer dizer que a estimativa do VaR atenta para os eventos que ocorrem nas extremidades das caudas da distribuição de retorno das carteiras.

O VaR permite enorme monitoramento de risco para o mercado agrícola. As instituições fornecedoras de crédito para a agricultura estão diretamente expostas ao risco de crédito e, indiretamente, ao risco de mercado, em virtude das fortes oscilações nos preços dos ativos negociados por seus clientes. O uso do VaR pode servir de parâmetro às instituições de crédito, pois o fato de ser conhecido o valor do risco assumido pelos tomadores fornece grau de confiança maior quanto ao ressarcimento do crédito oferecido, sendo que taxas mais baixas podem ser estipuladas.

Certamente, uma das grandes vantagens do VaR, e também dos fatores que podem explicar sua popularização, e sua simplicidade. Esse instrumento consegue de maneira concisa e intuitiva resumir, em um único número, o risco de mercado de carteiras que, muitas vezes, são complexas e difíceis de serem interpretadas. Esse valor pode, portanto, auxiliar a divulgação de informações para traders, diretores, acionistas, dentre outros, auxiliando-os nas decisões de investimentos, bem como na comunicação entre eles, e avaliação de desempenho, geralmente comparando os resultados a algum benchmark.

Os maiores entraves para a implementação de modelos de gerenciamento e de comunicação do risco de preços nessas organizações sao: falta de informação, o fato de as medidas de risco de mercado existentes terem sido desenvolvidas inicialmente para o setor financeiro, fato este que já vem sendo contornado com novas pesquisas, e os custos de implementação, de treinamento e acompanhamento. Entretanto, esses custos, quando comparados ao valor do risco de perda, podem ser considerados ínfimos.

Sendo conhecidas as reais necessidades do setor do agronegócio com relação a utilização dos instrumentos derivativos a fim de hedgear posições tomadas no mercado físico e sabendo-se da importância desse segmento como fonte de renda para o país, torna-se essencial a divulgação de ferramentas que auxiliem a política de gerenciamento e de comunicação de risco financeiro dentro das empresas agrícolas.

A utilização da metodologia do VaR para instituições nao-financeiras como o agronegócio ainda passa por um processo incipiente. A maior dificuldade na adesão ao VaR relaciona-se a falta de conhecimento por parte dos gestores do setor sobre o assunto. Entretanto, algumas empresas já partiram na frente e começam a implantar políticas de gerenciamento de risco de mercado, utilizando como ferramental o "Value at Risk".

Entre outras empresas do segmento agrícola, podemos citar usinas do setor sucroalcooleiro, pro­cessadoras de suco de laranja, cooperativas de café e abatedouros de carne bovina.

*A RiskOffice tem como um de seus diretores o consultor em risco de crédito e de mercado, Marcelo Rabbat.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


Artigos Relacionados


Riskoffice Começa A Assessorar Agroindústrias

Controles Internos Agregam Valor

Assimetria De Informação Acentua Ciclos Do Agronegócio

Novos Mecanismos De Financiamento Do Agronegócio E Oportunidade De Investimento

Gerenciamento De Risco No Agribusiness Otimiza Resultados

Riscos Ocultos

Uma Complexa Tarefa Para Os Fundos: Gerenciar Riscos