Assimetria de informação acentua ciclos do agronegócio



REVISTA AÇÕES & MERCADOS
RISCO - JANEIRO/FEVEREIRO DE 2007

Luiz Fernando Abussamra da RiskOffice*

A informação e assimétrica quando uma das partes de uma transação econômica possui menos informação do que as demais. Diversas transações no agronegócio se processam num ambiente com assimetria de informações acarretando três fenômenos: a seleção adversa, o risco moral e o comportamento de manada. O impacto dos mesmos no agronegócio encontra-se diretamente ligado aos ciclos de prosperidade e as crises, sempre acentuando-os.

A seleção adversa parte da hipótese de que tomadores possuem mais informações sobre a sua capacidade de pagamento do que seus credores. Neste cenário, a solução para os credores é exigir uma remuneração para o capital alocado que reflita em média a qualidade de todos os seus tomadores. Essa taxa é superior a que deveria ser paga pelos tomadores de maior qualidade e interior aquela que deveria ser paga pelos tomadores de menor qualidade.

O resultado é que os tomadores de qualidade não efetivam seus empréstimos enquanto os tomadores de menor qualidade são incentivados a tomar crédito. A assimetria de informação gera, nesse caso, uma seleção adversa de tomadores de credito, e tem como resultado uma alocação de recursos ineficiente, ficando assim os credores vulneráveis a cenários futuros adversos, tão comuns no agronegócio, alimentando crises de liquidez.

O agronegócio é uma atividade de risco elevado; o movimento dos preços das commodities não pode ser capturado. As cadeias dos vários segmentos do agronegócio são suscetíveis a fenômenos caóticos que não são previsíveis como, por exemplo, fenômenos meteorológicos. No mercado financeiro, quando a informação se distribui assimetricamente, os investidores frequentemente perdem a capacidade de avaliar apropriadamente o risco, já que novas oportunidades são abertas em um contexto de perspectivas de retornos acima da média, ou seja, um segmento em forte expansão impulsionado por uma alta de seus preços. Nesse contexto, cria-se o ambiente propício para o risco moral, mesmo que não intencional.

Por ultimo, o comportamento de manada pode ser caracterizado quando um grande investidor internacional demonstra interesse em alocar seu capital em una determinado segmento do agronegócio. Investidores de menor porte, que acreditam possuir menos informações, provavelmente seguirão a decisão de investir, resultando no comportamento de manada. O problema se dá quando o investidor internacional decide liquidar seus ativos ou aumentar as restrições para a concessão de novos créditos. O efeito manada se torna perverso. Atualmente vemos, no agronegócio grandes movimentos de fusões e aquisições, lançamento de IPO, investimentos em aumento de produção, como também renegociação de dívidas, insolvência e dificuldades financeiras.

No que tange as fusões e aquisições realizadas no agronegócio, vimos que as grandes transações estão concentradas nas mãos daqueles que já estão participando do setor, empresas tradicionais que possuem menor grau de assimetria de informação. No entanto, o setor vive hoje uma retomada dos investimentos aumentando o nível de endividamento vis-à-vis a capacidade de garantir os retornos esperados devido as características cíclicas das commodities. Fatores externos podem frustrar expectativas e levar o setor a uma nova retração, por exemplo, através da deterioração dos preços devido a um excesso de oferta ou mesmo pela relação cambial que pode afetar diretamente os créditos contraídos em moeda estrangeira.

A valorização do real afetou diretamente o segmento de grãos, que não obteve a contrapartida da elevação dos preços de que o setor sucroalcooleiro se beneficia. O alto endividamento adquirido no período de expansão, através do boom de crédito alimentado pelo bom desempenho dos preços da soja pré-crise e por empresas não-financeiras (fornecedores de insumos de produção) com experiência limitada para intermediar créditos, não foi acompanhado de uma melhoria da governança corporativa e da gestão de riscos de mercado nas empresas e toda a cadeia produtiva sentiu o impacto.

A melhoria na governança corporativa e na gestão de riscos de mercado poderá levar o agronegócio a um ciclo de desenvolvimento sustentado, atenuando as características cíclicas de expansão seguidas de retração, observado em todos os segmentos ao longo dos últimos anos. A mesma poderá levar a uma redução da assimetria da informação entre os agentes, reduzindo o custo de captação do agronegócio, expandindo de forma segura o crédito e aumentando o valor de seus ativos de forma permanente.

*A RiskOffice é dirigida também por Marcelo Rabbat, um dos maiores especialistas em gerenciamento de risco do Brasil
Autor: Assessoria de Imprensa Web


Artigos Relacionados


Perspectivas De Aplicacao Do Var Para O Mercado Agricola

Riscos Ocultos

Fundos Emprestam R$ 7,6 Bilhões Ao Campo

Bb Disponibiliza Uma Família De Cartões De Crédito Para As Empresas Rurais

A ImportÂncia Da QualificaÇÃo Dos Recursos Humanos No Setor PrimÁrio Produtivo Do AgronegÓcio

Riskoffice Começa A Assessorar Agroindústrias

Riscos De Mercado