Afinal, o que e o tal de risco Brasil?



Agência Estado
20 de abril de 2007

Por Carolina Dias de Freitas

Quem ouviu o noticiário nas ultimas semanas ficou com duas palavrinhas ecoando no ouvido: risco Brasil. A queda do indicador é uma boa noticia, pois o risco país mede o grau de "perigo" que uma nação representa para um investidor estrangeiro que compre títulos da dívida pública brasileira. Isso significa que esta mais seguro investir no País, porque o mercado sente que o Brasil tem condições de honrar as dívidas e garantir rentabilidade aos papéis.

O indicador - chamado Emerging Market Bond Index Plus (EMBI + ) - é calculado para países em desenvolvimento, sendo que na America Latina os índices mais significativos são os do Brasil, México e Argentina. Quando o banco internacional JP Morgan calcula o risco Brasil, os analistas comparam dados do País e de outras nações emergentes.

O principal parâmetro para o calculo é, no entanto, a rentabilidade garantida pelo bônus do Tesouro dos Estados Unidos, país considerado como "risk free" - livre de riscos de crédito. Na prática, mesmo que o risco não seja zero, é nos papéis americanos que o aplicador encontra o menor risco de não receber o dinheiro investido mais a remuneração prometida.

Quando se investe em títulos de dívida pública, a remuneração corresponde a taxa de juros dos papéis. Países com maior percepção de risco por parte dos investidores precisam pagar remunerações mais altas, para atrair investidores com o prêmio de risco, que nada mais é do que a diferença - ou sobretaxa - entre os juros pagos pelo país e os juros pagos pelo Tesouro americano. "O prêmio de risco é o próprio risco País", resume o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de Sao Paulo Carlos Antonio Rocca, socio-diretor da consultoria RiskOffice*.

A diferença, calculada diariamente pelo JP Morgan, é medida em pontos básicos, sendo que 100 pontos equivalem a sobretaxa de 1 ponto percentual. Esta sexta-feira, o risco Brasil bateu mínima histórica, de 143 pontos.

RISCO BRASIL REFLETE MOMENTO POLÍTICO E ECONÔMICO DO PAÍS

Além da taxa de juros, os analistas consideram aspectos políticos e econômicos do País para medir a capacidade que a nação tem de pagar os rendimentos que promete ao investidor, ou seja, o rendimento dos títulos de dívida.

Estabilidade política, crescimento da economia, reservas de dólar e política fiscal responsável são fatores que diminuem o risco Brasil. Ajudam também uma balança comercial positiva e a proporcionalidade entre arrecadação e dívida. Com o País vivendo um bom momento nestes aspectos, o resultado é um risco baixo.

Rocca alerta, no entanto, para a volatilidade do mercado, suscetível a turbulências por influência externa. Há negociações dos papéis de dívida o tempo todo, e o indicador é calculado diariamente. "Quando o risco cai de 250 pontos para 150 pontos, será que o País melhorou tanto assim?", questiona. O especialista explica que o índice depende da liquidez do título no mercado, ou seja, da facilidade de se vender e comprar o papel. "Temos que lembrar que o mercado é um conjunto de pessoas que formulam expectativas em cima de informações."

Ao mesmo tempo, um risco Brasil baixo pode ajudar a economia do País a crescer. Os investidores externos são estimulados a investir mais, e a nação vai receber mais recursos em moeda estrangeira, valorizando o real. Se nossa moeda vale mais, fica mais barato captar dinheiro lá fora e os juros baixam.

Com a movimentação de capital, os investidores sentem confiança nas empresas do País e aumentam o volume de aplicação na bolsa de valores. O resultado foi percebido nas últimas semanas: o índice Bovespa bateu recordes históricos. O Ibovespa mede, a partir de uma carteira hipotética de ações, o volume negociado dos papéis mais líquido no mercado. As ações que formam o Ibovespa respondem por mais de 80% do numero de negócios e do volume financeiro verificados no mercado a vista da Bovespa.

*A RiskOffice é também dirigida por Marcelo Rabbat, consultor de investimentos especializado em riscos de crédito e de mercado. Rabbat também é sócio da PR&A Consultoria.

BOX

INVESTMENT GRADE COLOCA BRASIL NA MIRA DE GRANDES INVESTIDORES

Carolina Dias de Freitas e Nalu Fernandes

Sao Paulo

Para garantir uma análise em longo prazo do risco Brasil e das condições conjunturais do País, agendas de avaliação de risco classificam os países em níveis de investimento - que vão desde "investment grade", para aplicações de baixo risco, até inadimplente, para empresas ou nações que não pagam dívidas no prazo estipulado. A classificação, ou rating, é uma opinião independente sobre a capacidade do emitente de pagar as dívidas e os juros do título.

Analistas prevêem que em até três anos o Brasil deve atingir o investment grade, ou seja, o mais alto grau de classificação, para empresas ou países avaliados como capazes de honrar seus compromissos. Com a nota, aplicar no Brasil vai se tornar um investimento saudável e de baixo risco. Hoje o País é classificado como "BB" pela agenda de rating Standard & Poor's. O próximo nível é "BB+", um antes do investment grade, identificado como "BBB-".

O governo brasileiro tem se esforçado para antecipar o prazo previsto pelos analistas. O objetivo é elevar o rating para BB+ ainda neste primeiro semestre e subir para BBB- no próximo ano. Na ultima semana, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, visitou em Nova York as agendas Moody's e Standard & Poor's para pedir que os analistas passem a considerar novos aspectos do desenvolvimento brasileiro.

"As agendas de classificação de risco tem metodologia limitada e deveriam olhar o potencial produtivo do País para determinar o rating", argumentou Mantega depois da reunião com a Moody's. "O Brasil tem a relação dívida/PIB maior que diversos países, mas, em compensação, tem estrutura produtiva mais complexa e mais eficiente, que vai nos possibilitar crescimento mais sustentável”.

Para o professor da FEA-USP Carlos Antonio Rocca, a avaliação das agendas de rating tem mostrado mudanças efetivas na economia do Brasil. "O Brasil conseguiu virar o jogo com uma nova política cambial e boas exportações", diz o acadêmico. "Agora temos condições mínimas de caminhar para o investment grade. E é o que estamos fazendo."
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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