PIB de 5% à vista



Correio Braziliense
27 de maio de 2007

Dados preliminares apontam que a economia deve crescer a um ritmo forte neste ano, confirmando a expectativa do governo. Aumento da renda e a oferta de crédito são responsáveis pelo bom desempenho


Sem fazer alarde, a equipe econômica do governo já está preparando o discurso para tirar proveito de um dado acalentado há meses o resultado do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre deste ano. Ainda que os números não estejam fechados – a divulgação, pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), está marcada para o dia 13 de junho -, levantamentos preliminares que já estão sobre a mesa do ministério da Fazenda, Guido Mantega, indicam que o crescimento da economia nos últimos três meses do ano foi próximo de 1,5% ante os três últimos meses de 2006. Quando atualizada, essa taxa aponta que a atividade econômica avança em uma velocidade entre 5% e 6%. “O Brasil real vai muito bem”, resume o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, ao ser questionado sobre crescimento.

O que garante um ritmo tão forte à economia, diz Meirelles, são o aumento da renda e a fartura do crédito, fundamentais para sustentar o consumo das famílias. Responsável por 60% do cálculo do PIB, quando se olha apenas para o lado da demanda, o consumo médio dos lares brasileiros cresceu 5,5% no primeiro trimestre do ano, pelas contas de Flavio Serrano, economista chefe da Corretora Lopes Leon. Foi o 14º trimestre consecutivo de expansão nos gastos das famílias – o mais longo ciclo de crescimento desse indicador.

A massa salarial, resultado do número de empregos e dos rendimentos mensais dos trabalhadores, fechou março com expansão de 8,4%, um número que, segundo o presidente do BC, é difícil de se ver mesmo nas economias asiáticas, onde o PIB cresce a taxas entre 7% e 10% ao ano, mas os salários têm incremento menor. Para completar, os brasileiros demandaram R$13,3 bilhões em crédito entre janeiro e março deste ano, volume 18% superior ao registrado em igual período de 2006 (R$11,3 bilhões).

Com base nesses indicadores, Sandra Utsumi, economista chefe do Banco BES Investimento, afirma. “O crescimento da economia está sendo mais forte do que o esperado”. Não é a toa, acrescenta a economista chefe do Banco Real ABN Amro, Zelna Latif, que o mercado já admite rever as projeções para o PIB deste ano tão longo o IBGE divulga o resultado do primeiro trimestre – por enquanto, as estimativas variam entre 4% e 4,5%.

Industria forte

O aquecimento da economia não constatado apenas nas planilhas do governo e dos analistas do mercado financeiro. Gente de peso do setor produtivo reconhece que o crescimento é forte e consistente. “Pelos menos nos últimos 20 anos, nunca vi a construção civil demandar tanto aço”, afirma Jorge Gerdau Johannpeter, presidente do Conselho de Administração do Grupo Gerdau, um dos principais fornecedores da construção. O presidente da Usiminas, Rinaldo Campos Soares, endossa o entusiasmo. “As vendas de aços planos crescerão neste ano pelo menos 12% em relação a 2006. Será a primeira vez, em sete anos, que registraremos expansão de dois dígitos nesse setor”, afirma. Os aços planos serão consumidos, principalmente, pela indústria automobilística, cujas receitas bombaram 30% nos primeiros quatro meses do ano.

O desempenho da industrias está tão robusto, ressalta Zelna Latif, que a estimativa para a produção de abril é de um número melhor do que o verificado entre janeiro e março deste ano, quando a chamada média móvel ficou em 0,6%. “Pelos nossos cálculos, com o resultado de abril – a ser divulgado nos próximos dias pelo IBGE -, a média móvel saltará para 0,9%. Isso dará outra cara ao setor”, diz. O melhor de tudo, destaca o presidente do BC, é que os investimentos produtivos estão em alta. A Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), como gostam de falar os economistas, está se expandindo as taxas superiores ao PIB. Algo entre 6% e 8%, prevê os analistas.

Os dados sobre investimentos são extremamente importantes porque dão um alivio ao BC na condução da política monetária, destaca Sandra Utsumi. Quanto mais as empresas ampliarem o parque produtivo, maior será a oferta de mercadorias. Ou seja, há a garantia de que o país não enfrentará risco de desabastecimento, como se viu no passado, que sempre pressionava a inflação e minava o processo de crescimento. “o BC tem ainda a seu favor as importações, que têm suprido o consumo e ajudado a manter os preços sob controle”, diz a economista. Por isso, acredita Sandra, o BC não terá problemas para acelerar o corte da taxa básica de juros na próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), marcada para os dias 5 e 6 de junho. “Aposto em um corte de 0,5 ponto percentual, com a Selic caindo dos atuais 12,50% para 12%ao ano”, frisa.

Os riscos do otimismo

Na avaliação do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o crescimento mais forte da economia, que será ratificado pelo PIB do primeiro trimestre, veio para ficar e ainda será maior daqui para frente. “Com o risco-país em baixa, juros em queda, inflação sob controle, mais emprego e renda salarial em alta teremos um crescimento sustentável. Neste ano, a taxa já será mais do que o dobro da média anual registradas nos últimos 20 anos (de 2,2%)”, destaca. Meirelles reconhece, porém que não há como o governo ficar deitado em berço esplendido, admirando o bom momento vivido pela economia. “Estamos trabalhando para que o crescimento seja maior. E o governo está enfrentando seus desafios de forma vigorosa, aumentando os investimentos em infra-estrutura, por meio do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), melhorando a educação e a segurança institucional”, diz.

Para Sandra Utsumi, economista chefe do Banco BES Investimento, o que o governo está fazendo ainda é pouco para levar o Brasil a crescer ao ritmo médio dos países emergentes, de 7% ao ano. “O PAC, por exemplo, não passa de um resumo de projetos que estavam previsto em programas anteriores”, afirma. A seu ver, se realmente quiser dar um salto, o governo terá, no mínimo, que garantir um volume de recursos três vezes maior do que o previsto no PAC (R$ 503,9 bilhões) para infra-estrutura de transporte e para a geração e distribuição de energia. Terá, ainda, segundo ela, que aprimorar a legislação, de forma que o setor privado não tenha mais receio em ampliar os investimentos.

No entanto, os economistas alertam para o risco de excesso de otimismo encobrir os gargalos que ainda precisam ser superados para consolidar o forte crescimento do país. “Por enquanto, os números são muito bons. O futuro ainda não é tão promissor quanto parece à primeira vista. O Brasil precisa das reformas fiscail, trabalhista e previdenciária”, sentencia o professor Carlos Antônio Rocca, sócio da RiskOficce Consultoria.

*A RiskOffice tem como um de seus sócios o consultor econômico Marcelo Rabbat, especializado em risco de crédito e de mercado
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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