Política de investimentos cruza a fronteira do risco



REVISTA FUNDOS DE PENSÃO RISKOFFICE
MATERIA DE CAPA - JUNHO DE 2007

Novas regras flexibilizam a política de investimentos das EFPCs permitindo aplicar mais em renda variável, a exemplo do que acontece no resto do mundo

Com a redução da rentabilidade real oferecida pelos títulos públicos federais de longo prazo - que, em 2007, finalmente quebrou a barreira dos 6% ao ano chegando a recuar até o patamar de 5,8% -, e sem motivos que sugiram o retorno a taxas mais elevadas, os responsáveis pela estratégia de alocação de recursos dos fundos de pensão vivem um momento crítico para a revisão das políticas de investimentos de 2008 em diante. A redução do patamar de juro pago pelos papéis com vencimentos mais longos e um sinal vermelho que manda rever com urgência as estratégias não balanceadas e fortemente baseadas em títulos públicos, buscando amenizar o ris­co de reinvestimento.

Nesse cenário, os especialistas em gestão de recursos de investidores institucionais avisam que o principal ris­co é deixar de diversificar e, com isso, perder as oportunidades que o mercado oferece para redesenhar as carteiras de maneira adequada. Ou seja, assumir um pouco mais de risco para melhorar performance deixa de ser uma opção sofisticada demais e passa a ser, cada vez mais, uma questão vital.

Em sintonia com o novo ambiente da economia e com a necessidade de tornar menos conservadora a diretriz de investimentos das Entidades Fechadas de Previdência Complementar (EFPCs), o Conselho Monetário Nacional editou, em 1º de junho, a Resolução n° 3.456, que revogou a regulamentação ante­rior (Resolução 3.121). A reação inicial mostra que o órgão regulador atendeu a boa parte das reivindicações que vinham sendo discutidas nos últimos três anos pelas fundações junto a Secretaria da Previdência Complementar. O consultor Luiz Jurandir, da Mercer Investment Consulting, avalia a medida como um passo inevitável no processo histórico do sistema de previdência complementar.

A mudança na regulamentação, por si só, não é estímulo suficiente para quebrar a inércia de políticas de investimento excessivamente conservadoras para esse novo ambiente. "Esse é um tipo de decisão que depende em 40% das normas e limites legais e em 60% das próprias fundações. Até agora, mesmo sem chegar perto dos limites máximos para diversificar em renda variável ou ativos de credito privado, muitas fundações ainda não estão tomando essa iniciativa e a inércia já começa a custar caro porque o cenário mudou da água para o vinho", avisa o consultor Fernando Lovisotto, da RiskOffice*.

A transição para a faixa abaixo de 6% representa um outro mundo, em que é preciso compreender os novos produtos e garantir um avanço cultural dentro das fundações, afirma Lovisotto. A regulamentação recém aprovada, se ainda não é tudo o que o mercado esperava e mantém algumas amarras para os gestores, já é o primeiro passo para que as fundações possam caminhar na direção correta num cenário que já esta dado, afirma Sergio Cutolo dos Santos, diretor do banco UBS Pactual que participou, como representante para assuntos de Previdência da Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Financeiro) e da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento), do processo de discussão que resultou na revogação da 3.121. Ele lembra que "ao longo dos últimos quinze anos, não fazia sentido sair dos títulos públicos federais para outros investi­mentos porque eles asseguravam rentabilidade muito acima da meta atuarial com risco muito reduzido, mas isso acabou. Com os papéis federais de longo prazo rendendo abaixo de 6%, não há motivo para esperar mais antes de mudar a estratégia".

"A indústria de fundos de pensão ainda tem uma cara excessivamente conservadora em seus investimentos, datada de um longo período de juros muito altos", analisa Carlos Roberto Scretas, responsável pela Schroder Investment Manage­ment Brasil. Ele lembra que este é o primeiro ano, depois de muito tempo, em que estamos convivendo com juro real abaixo de dois dígitos num cenário de estabilidade inflacionária. "No passado já tivemos juro real baixo por motivo torpe, ou seja, por­que a inflação era muito elevada, mas agora o moti­vo é outro e a redução tem base sustentada para continuar". A perspectiva de que o Brasil atinja o "investment grade" (grau de investimento) conferido pelas agendas internacionais de classificação de risco deve acelerar o processo de declínio do juro real de curtíssimo prazo. Dentro de 12 a 24 meses a taxa básica de juros (Selic) pode convergir para 6% reais e, dada a condição macroeconômica do Brasil nesse horizonte, é possível que dentro de 24 meses o juro real esteja abaixo desse nível".

Como resultado, a migração para a renda variável é um movimento inequívoco para as carteiras de in­vestimento, afirma Scretas. "A busca por ativos que contenham um pouco mais de risco será inevitável até porque não há muito espaço para reduzir a meta atuarial das EFPCs, então a preocupação de atingir metas vai aumentar nos próximos 12 meses e a margem para superar essa referenda será muito pequena". De acordo com a avaliação de Scretas, praticamente todos os participantes do sistema estão cientes dessa necessidade, em maior ou menor grau. "Essa percepção é bastante heterogênea entre as entidades, o que resulta numa migração lenta e prudente para a renda variável e para fundos com risco mais elevado, renda fixa ativa e Private Equity, entre outros".

Com os papéis de longo abaixo de 6%, o momento é de ajuste e os estudos de ALM (Asset Liability Management) deixam de ser o caminho para um pretendido casamento perfeito entre ativos e passivos para ser apenas um indicativo de percentuais de alocação". diz Marcus Moraes, da Unibanco Asset Management (UAM). Quem tem títulos longos em carteira está diante de um momento importante de decisão, lembra o gestor: "pode vender agora com lucro, aproveitar para ajustar meta ou revisar tábuas de mortalidade e investir um pedaço em títulos com melhor perspectiva". "Esta é a hora certa para chamar o gestor e questionar se ele pode entregar 6% reais em 2008. Caso contrário, poderá ser necessário mudar o mandato".



Cenário é de "investment grade"

O comportamento do juro pago pelos títulos de longo prazo (NTN-B) já pode ser considerado pelos investidores como uma antecipação do cenário de "investment grade" (grau de investimento), nota que as agências internacionais de classificação de risco preparam para conferir ao Brasil provavelmente a partir de 2008. O que está acontecendo com esses papéis é um indicativo de "investment grade" e temos um ano de preparação para a nova realidade, diz Fernando Lovisotto.

Um dos grandes riscos para as EFPCs, entretanto, seria ir para o extremo oposto, ou seja, a partir da meta de 6%, considerar qualquer compra de títulos públicos a 5,8% como um mau negócio. "Deixar de comprar um título que paga 5,8% porque a meta atuarial é 6% é uma decisão preocupante; o essencial é olhar para frente e saber que amanhã ou depois a meta terá que ser ajustada para o patamar de 5% ou 5,5% e, portanto, um papel de 5,8% não pode ser descartado porque poderá trazer ganhos importantes no futuro". Lovisotto alerta que esse é um tema polêmico e precisa ser muito bem discutido para evitar discussões porque o Conselho Fiscal, por falta de conhecimento suficiente, pode estranhar e achar que esse título está gerando prejuízo.

"Será certamente um péssimo negócio se a fundação comprar 100% de sua carteira em papéis com essa remuneração, mas a verdade é que não existe mais a certeza de que o CDI ou um título pagarão acima da meta, então o portfólio inteiro tem que ser muito bem balanceado por meio da diversificação", reforça o consultor. Ele lembra que nos Estados Unidos, por exemplo, os fundos de pensão nunca deixaram de comprar papéis federais mesmo quando eles pagavam 2% frente a uma meta de 5%. "Compravam mesmo a 2% e a 4% porque mantinham uma boa diversificação na renda variável e ainda assim tinham que rezar mais do que nós precisamos atualmente".

A adequação dos conselheiros à nova realidade do mercado será fun­damental, lembra Sergio Cutolo. "Com o juro dos títulos públicos pagando 10% re­ais - em alguns momentos chegou a 20% reais - era fácil bater metas -, mas isso mudou". Muitas fundações que estão carregando títulos com taxas razoáveis de remuneração já devem começar a estudar medidas para flexibilizar e escolher as melhores datas para trocar posições e conseguir reinvestir seu dinheiro com taxas razoáveis, talvez aproveitando o novo modelo de fundos condominiais abertos. Afinal, diz Cutolo, "os investidores estrangeiros estão aí e o cenário hoje é global; com o esperado "investment grade", que poderá chegar dentro de sete a 25 meses, haverá uma enxurrada cada vez maior de fundos de pensão de outros países investindo no Brasil, inclusive em títulos públicos, o que torna essencial rever posições".

Estudo feito pela RiskOffice mostra que a queda dos juros tem aumentado sensivelmente os ris­cos para os investidores de longo prazo e mesmo as entidades com metas atuariais de 5% poderão so­frer o impacto negativo de carregar papéis sem conseguir o reinvestimento adequado dos recursos. "O risco de reinvestimento está aumentando porque as taxas futuras estão abaixo do patamar de 6% ao ano e é preciso tomar cuidado especial com os mandatos em CDI", explica Lovisotto. Atualmente, e provavelmente até o final deste ano, os mandatos em CDI (passivos e ativos até 105% do CDI) serão capazes de gerar retornos superiores a 6% ao ano, mas, antecipando a continuidade do corte de juros em 2008, os retornos poderão ser insuficientes a partir do próximo ano". No cenário atual, conclui o estudo, as aplicações em CDI ou em papéis como as NTN-B ou NTN-C, indexadas a inflação, deixam de ser suficientes como ativos livres de risco para as EFPCs atingirem suas metas.

Outro risco é subestimar os investimentos em imóveis. "O carimbo dado pelos fundos de pensão a esse tipo de investimento é negativo porque algumas coisas foram mal feitas no passado, mas é preciso saber que essas aplicações podem ser feitas profissionalmente e aproveitar as boas oportunidades do mercado", afirma Lovisotto. Ele defende uma revisão, que ainda não entrou na nova regulamentação, da redução programada dos limites de investi­mento em imóveis prevista até 2009.

"Levando em conta o limite máximo legal de 50% na renda variável, qual é o motivo para as fundações ainda aplicarem apenas 17% de seus recursos, na média do sistema, nesse segmento? Porque não montaram fundos ativos até agora? Porque não alongaram os prazos de seus investimentos, como fizeram algumas das grandes fundações?" As respostas a essas perguntas, diz Lovisotto, vão mostrar que as decisões passam longe dos limites impostos pela regulamentação pura e simples. "O fato é que todos ficaram olhando apenas para a fotografia do mercado sem enxergar o filme completo e a foto mostrava bons ganhos, a maioria ainda vai bater as me­tas fácil em 2007".



Maior flexibilidade

As novas regras flexibilizam a política de inves­timentos das EFPCs porque permitem aplicar mais em renda variável, a exemplo do que acontece no resto do mundo, e também migrar para outros inves­timentos, com um percentual maior em renda fixa através de instrumentos como os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Fundos de Investi­mento em Direitos Creditórios (FIDCs), analisa Ser­gio Cutolo. "Não é ainda o que o mercado esperava e sobraram muitas amarras do ponto de vista do gestor, não só em relação à exposição a riscos". A questão da alavancagem é uma dessas amarras. "Uma operação alavancada muitas vezes funciona também como hedge, para reduzir volatilidade e dar maior flexibilidade, então quando você não permite fazer essa alavancagem pode, na prática, estar obrigando as fundações a correrem mais risco", diz Cutolo. "A medida permite investir em cotas de fundos multimercado, dentro da carteira de renda variável, com estratégia de alocação mais ou menos livre, porém apenas até o limite máximo de 3% dos recursos garantidores, enquanto o restante continua engessado". De todo modo, Cutolo destaca como muito importante a autorização para aplicar nos fundos que sejam constituídos como condominiais abertos. "Isso reduz o risco uma vez que ele é dividido entre outros investidores, é pulverizado". Os fundos con­dominiais abertos podem incluir estratégias com alavancagem, day-trade e operações com aluguel de títulos e valores mobiliários, além de investimen­tos no exterior nos termos da regulamentação baixada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Para Luiz Jurandir, cada fundaçao precisa definir qual é o perfil exato que busca ao aplicar em fundos multimercado, e ter claros os limites de risco que serão assumidos. "Se o fundo estiver altamente alavancado, pode comprometer até mais do que 3% do patrimônio líquido e isso precisa ficar bem estabelecido". A decisão de definir em 20% o limite máximo para aplicar em FIDC é razoável, assim como a manutenção do teto de 50% em renda variável, porque o nível de volatilidade ainda é alto. "Em derivativos, a regulamentação trouxe um pouco mais de clareza e maior ganho na arbitragem entre curvas pré e pós fixadas, mas isso de certo modo já vinha acontecendo no mercado". Marcus Moraes resume as princi­pais vantagens dos multimercado: "diversificam os ativos, atuam de forma mais oportunista e abrem a possibilidade de aplicar no exterior".

Além disso, as EFPCs também passam a ter liberdade para aplicar nos fundos condominiais aber­tos denominados de fundos de investimento previdenciário, com limites específicos de alocação para os segmentos de renda fixa e de renda variável. A idéia, com os fundos previdenciários, e permitir mai­or flexibilização para o gestor, como o mecanismo de "long-short" (arbitragem entre compra e venda de ações) nas operações de renda variável, o que da mais segurança para reduzir risco e é um instrumento importante de gestão", avalia Cutolo. No limite, diz ele, "quem aplicasse tudo nesses fundos não teria necessidade de fazer controle por ativos e sim por cotas de fundos".

Cutolo vê um cenário em que os investimentos dos fundos de pensão devem ganhar risco mais adequado, rentabilidade melhor e menor burocracia. "Isso não vai acontecer num primeiro momento, mas já é um passo importante". Do ponto de vista dos gestores há uma mudança qualitativa à vista, embora não estejam sendo usados os instru­mentos ideais para controlar riscos e avaliar a adequação das políticas de investimento, como nos países mais avançados. "Com certeza dentro de algum tempo vamos alcançar o que já é feito lá fora e operar de forma mais eficiente, ou seja, ter um controle de risco feito pelos melhores instrumen­tos do mercado e não pelo tipo de ativo". Ele cita países como a Inglaterra, Holanda, Dinamarca e EUA que estão indo nessa direção e lembra que "um eventual desenquadramento passivo, por exemplo, pode não querer dizer nada, pode não ser relevante e assegurar um retorno maior para as fundações; o ideal é chegar a ter um controle adequado sem tirar a liberdade dos gestores".

Enquanto essa transformação conceitual não vem, a nova regulamentação flexibilizou parcialmente as normas para o desenquadramento passivo (quando um determinado ativo se valoriza no mercado, superando os limites previstos) e ampliou de seis meses para um ano o prazo dado às EFPCs para efetuarem o reenquadramento. Além disso, as fundações foram dispensadas de ter que retornar ao limite caso sejam superavitárias no mesmo valor do desenquadramento, mas não foram atendidas em seu pedido para continuarem desenquadradas sempre que surgirem oportunidades de investimento por meio de ofertas primárias. De acordo com Luiz Jurandir, essa flexibilização é um item importante: "faz sentido o alongamento para 360 dias no prazo para reenquadramento, porque se uma fundaçao está superavitária ela pode assumir um pouco mais de ris­co, isso deixa a política mais eficiente".



Mix bem planejado

Assumir mais risco não significa que seja a hora de sair correndo para a renda variável, avisa Luiz Jurandir. O ideal é montar um "mix" de estratégias aproveitando a rentabilidade elevada dos últimos quatro anos como um colchão para os ajustes. “Tem gordura suficiente no sistema para garantir um ajuste e a convergência de planos de Beneficio Definido para Contribuição Definida também ajuda. A tendência é de que a meta seja, cada vez mais, apenas um referencial".

Ele sugere estratégias simultâneas para as EFPCs adotarem na definição de suas políticas de investimento para 2008. "Será preciso avaliar todas as alternativas e começar pela redução das metas atuariais por­que a maioria das fundações está entre 5,5% e 6%, o que é muito alto. Quem puder, deve revisar metas sem perda de tempo, baixando talvez para 4,5% ou 5%, recomenda Jurandir. "Quem não tiver condições de fazer isso, vai aumentar contribuição e assumir mais risco ou reduzir benefícios".



Testando estratégias

As EFPCs precisam agregar uma dose extra de sofisticação aos processos de aprovação de suas políticas de investimentos. "Em pouco tempo, ganhar dinheiro carregando uma carteira de LFT será coisa do passado, o jogo está mudando de cara e as fundações ainda apresentam uma morosidade enorme em seus movimentos para aplicar por exemplo em projetos de Private Equity e Venture Capital ", diz Paulo Veiga, da Mercatto Gestao de Recursos. "Os investimentos em renda variável não acompanharam a evolução registrada na Bovespa e estão muito abaixo dos limites que já eram permitidos pela legislação. À exceção da Previ, que está desenquadrada há dez anos e aplica acima dos limites nesse segmento, o grupo está sub investido; faltam cultura, horizonte e percepção de longo prazo".

A legislação ainda comete pecadilhos, como por exemplo o de monitorar uma carteira de participações como se fosse de ações, lembra Veiga, mas, além da legislação, falta as EFPCs investir em me­lhor qualificação de conselheiros, com conhecimento financeiro para compreender e avaliar portfólios mais sofisticados, recomenda o gestor. Por enquanto, as investidas mais firmes das entidades fora da renda fixa tradicional tem sido dirigidas aos Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) e Fundos de Investimento em Direitos Creditórios (FIDCs), diz Veiga, mas falta redirecionar as aplicações com maior empenho, olhando para o mercado de capitais como um todo e envolvendo maior número de ativos lastreados em dívida, debêntures, notas promissórias, títulos do agronegócio, entre outros.

Nesse sentido, o CMN amenizou as restrições para aplicação em FIDCs, aumentando o limite de 10% para 20% nas Carteiras classificadas como de baixo risco de crédito; e de 5% para 10% nas de alto risco. Já os investimentos em CCB (Cédulas de Cré­dito Bancário) foram incluídos de maneira específica e mais restritiva, com o mesmo limite dos FIDCs (a norma anterior enquadrava esses investimentos de modo genérico como parte das aplicações em títulos privados, com limite máximo de 80% da carteira). Os investimentos em Cédulas de Crédito Imobiliário (CCI) e os CRIs também ganharam limites próprios, de 10% e 20%, se classificados respectivamente como de alto ou baixo risco. Mas, considerando o atual volume emitido desses dois papéis, o mercado ainda está bem distante de preencher os limites. Com um total de aproximadamente R$ 4,5 bilhões emitidos, os CCIs e CRIs devem demorar para atingir os R$ 60 bilhões representados pelo limite de 20%.

Apesar do gradualismo, muitas carteiras dos fundos de pensão já começaram a mostrar maior apetite para criar novos espaços na renda variável. A diversificação dentro da renda variável e dos multimercado deverá ser o principal passo neste primeiro momento de transição, diz Flavio Pires, superintendente de Investidores Institucionais do Itaú. Mesmo dentro das regras anteriores, lembra Pires, “a busca por estratégias diferenciadas já estava acontecendo, as fundações vinham ampliando os limites de risco por meio de aplicações em fundos multimercado e a maioria dessas carteiras teve boa performance. Considerando que a Bovespa ultrapassou os 53 mil pontos, atingir resultados exigirá maior trabalho, assim como não será mais "tão simples" obter 110% do CDI nas aplicações de renda fixa”, avisa Pires. Para o gestor, "o grande diferencial aprovado pelo CMN foi exatamente a possibilidade de investir em fundos alavancados abertos, o que assegura uma boa blindagem neste momento; a partir de agora, a indústria ira testar as alternativas devagar e conseguir a aprovação gradual dos Conselhos".

A mudança de estratégias na renda variável deve trazer a substituição dos investimentos referenciados em IBX ativo para aqueles que seguem indicadores de governança, acoes setoriais e mes­mo de "small caps.", que envolvem ações de companhias com baixo valor de mercado. "O segmento de "small caps." é promissor, mas ainda falta tamanho de mercado que seja compatível com as necessidades das EFPCs porque não há tantas alternati­vas entre as empresas de pequeno porte e a longo prazo seu rendimento teria que compensar o aumento de risco", explica Flavio Pires.

A Bovespa e os fundos multimercado são o caminho mais natural para se contrapor a queda dos juros e diversas fundações já vinham incluindo es­ses segmentos em seus mandatos de gestão, mas agora isso deve ser acelerado, espera Marcus Moraes. Na renda variável, ele reforça a tendência de alocação em fundos especializados como os "small caps", "o que é uma excelente alternativa em cenário de crescimento econômico embora o risco tenha que ser cuidadosamente gerenciado".

As EFPCs devem olhar com maior atenção para os papéis privados de modo geral, diz Moraes. No caso das debêntures, o principal desafio é conse­guir dar liquidez ao mercado secundário. "O perfil de investimento das fundações ainda é conservador, o rating mínimo exigido é muito elevado e, como esse mercado ainda não oferece liquidez, fica difícil manter um percentual alto de debêntures nas car­teiras, então a evolução deve ser lenta". Nos Estados Unidos, ilustra Moraes, "há empresas com bom risco de crédito pagando até 130% do rendimento dos Fed Funds, enquanto aqui os papéis privados pagam 101 % a 104% do CDI. Com um prêmio maior, a demanda por aqui também devera crescer".

Já nos fundos especializados em ações setori­ais, embora os diversos IPOs (oferta inicial de ações) tenham expandido o horizonte, ainda há poucas empresas para garantir massa crítica, detalhe que tende a ser resolvido quando o País atingir o in­vestment grade, aposta Flavio Pires. Ele lembra que as carteiras dos planos de Beneficio Definido se rão mais conservadoras em relação as posições em títulos com vencimento a longo prazo, enquanto as de Contribuição Definida tendem a mudar com maior agilidade. "Será preciso segregar planos e deixar que parte da acumulação de recursos comece a correr um pouco mais de risco".

A vertiginosa escalada dos últimos anos que levou a Bovespa a superar os 53 mil pontos, embora exija estratégias mais sofisticadas para assegurar a valorização dos ativos daqui para a frente, não deve ser compreendida como um fator inibidor, argumenta Marcus Moraes. "Apesar da valorização já ser elevada, ainda há espaço para ganhos importantes nos fundos multimercado, como aconteceu por exemplo no México e na Espanha, países em que a forte queda do juro aumentou substancialmente a demanda pela renda variável".

Outro mecanismo que deve crescer com a mudança na regulação será o do "fundo de fundos", o Fundo de Investimento em Cotas (FIC). "A volatilidade de um FIC multimercado é menor do que a de fundo multimercado normal e a rentabilidade é maior, mas será preciso avaliar com critério a diversificação de gestores para assegurar estilos diferentes". "A diversificação vem no momento certo porque os fundos terão acesso a novos mercados", completa Moraes.



Internacionalização

A possibilidade de investir no exterior, via fun­dos multimercado, é outro ponto que a nova regulamentação apenas começou a flexibilizar. Com a possibilidade de aplicar até 3% nos fundos multimercado que, por sua vez, podem dirigir até 20% de seu patrimônio ao exterior graças à Instrução 450 da CVM, as fundações ganham acesso à internacionalização de seus ativos. E podem testar seu apetite por mercados além do que já era permitido, ou seja, apenas por meios dos fundos Fiex, que aplicavam 80% de seu patrimônio em títulos da dívida externa brasileira.

"Temos que formar poupança em ritmo acelerado porque a população está envelhecendo rapidamente. Sentimos que faltam projetos com a necessária segurança institucional”.

Carlos Roberto Scretas acredita que a melhora da percepção de risco já abriu espaço para as EFPCs começarem a investir um pouco em outros mercados e lembra que está em discussão à possibilidade de elevar para 100% o limite para os fundos com investidores super qualificados. "O Brasil é um dos poucos países que ainda não permitiam isso, enquanto Argentina e Chile já fazem há tempos. O Chile, inclusive, está aumentando para 40% o limite de investimentos off shore de suas fundações. Esse é um limitador para os fundos de pensão brasileiros agregarem valor para os seus participantes", afirma Scretas. Para Sérgio Cutolo, o Brasil tem excelentes oportunidades de investimento no mercado interno mas o acesso a todo o mundo amplia o leque de possibilidades". Luiz Jurandir lembra que essa alternativa é importante na medida em que já começam a faltar projetos no Brasil. “Temos que formar poupança em ritmo acelerado porque a população esta envelhecendo rapidamente. No Japão e em outros países, a poupança de longo prazo não encontra espaço no mercado interno e aqui sentimos que faltam projetos com a necessária segurança institucional. Nesse sentido, o limite de 3% é baixo".

Para Flávio Pires, a indústria de fundos de pensão brasileira ainda não está suficientemente preparada para isso, tem metas atreladas a inflação brasileira e esse não será um mecanismo de diversificação de carteiras a curto prazo. "É preciso conhecer bem os mercados e suas culturas". Embora o retorno de investimentos no exterior não seja um fator muito atrativo em comparação ao Brasil, é im­portante ler essa liberdade para momentos em que se busca proteção (hedge) das carteiras, avalia Mar­cus Moraes. "Nosso mercado ainda tem muita dependência dos demais, então é importante garantir essa proteção".

*A RiskOffice é dirigida também por Marcelo Rabbat, consultor de investimentos especializado em gestão de risco de crédito e risco de mercado. Rabbat também é sócio da PR&A Consultoria.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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