O mundo é o limite



REVISTA INVESTIDOR INSTITUCIONAL
Agosto de 2007

BNP Paribas reúne toda a área de gestão de recursos sob a recém-criada marca Investment Partners e ajuda a inserir o Brasil no novo cenário de investimento global

Presença global é uma expressão que já se consolidou dentro do universo corporativo. Pressões por redução de custo e necessidade de escala fizeram da internacionalização palavra de ordem entre as principais empresas brasileiras. No mundo dos investimentos, porém, esse é um conceito que só agora começa a ser explorado no país. O grupo francês BNP Paribas acaba de dar um passo importante rumo a essa nova ordem: reuniu toda a área de gestão de recursos no mundo debaixo da recém-criada marca BNP Paribas Investment Partners. No total, são 15 empresas sob um mesmo guarda-chuva, entre subsidiárias e assets com as quais o banco tem sociedade e acordos de parceria. "O BNP adquiriu participações em várias assets ao redor do mundo ao longo dos últimos anos, mas como não havia uma identidade única, isso passava despercebido pelo cliente", explica Marcelo Giufrida, presidente da BNP Paribas Asset Management Brasil.

Por traz da iniciativa, comandada pelo board mundial do BNP Paribas, está a crescente demanda dos investidores institucionais por diversificação de portfó1io - e, consequentemente, pela busca de uma melhor relação entre risco e retorno das aplicações. O Brasil ocupa, hoje, lugar de destaque nas carteiras internacionais. Em abril, por exemplo, a subsidiária do BNP Paribas na Coréia do Sul lançou, em parceria com a empresa local Shenyin & Wanguo (um dos atuais membros da BNP Paribas Investment Partners), o Bonjour Latam, fundo de ações para a America Latina com foco em Brasil (55% dos papéis são de empresas daqui). O fundo é administrado e custodiado lá na Coréia do Sul, mas a gestão dos recursos, isto é, as estratégias de compra e venda sao traçadas na BNP Asset Management Brasil. Em três meses, o fundo já contava com um patrimônio de US$ 1 bilhão e, até o dia 20 de julho, acumulava rentabilidade de 30,04% (em dó1ares).

No troca-troca de recursos ao redor do planeta, os mercados emergentes se apresentam não só como boas alternativas de investimento, mas também como fontes ativas que ajudam mover a engrenagem. "Se antes os investimentos estrangeiros que aportavam no Brasil vinham, primordialmente, dos países desenvolvidos, agora começamos a observar um fluxo grande entre emergentes", afirma Giu­frida. O Brasil, no entanto, ainda está engatinhando nesse sentido. "Houve um intenso processo de liberalização do capital mundial a partir da década de 1990, mas a nossa regulação não acompanhou esse avanço, fazendo com que os investimentos permanecessem concentrados aqui", avalia Carlos Antonio Rocca, sócio da consultoria financeira RiskOffice. "As aplicações estavam restritas, até pouco tempo atrás, a papéis da dívida brasileira denominados em moeda estrangeira."

Aos poucos, contudo, esse cenário começa a mudar. A isenção de Imposto de Renda para estrangeiros que compram títulos da dívida externa brasileira e de CPMF para as aplicações em bolsa sao medidas que vem atraindo a atenção do investidor estrangeiro. Por uma feliz coincidência, o anuncio da criação da Investment Partners chegou no mes mo momento em que a Comissão de Valores Mobiliários (CVM) autorizava, por meio da Instrução 450, a aplicação de até 10% dos ativos dos fundos multimercados locais no exterior. Na sequência, foi editada a resolução 3.456 do Conselho Monetário Nacional (CMN), que flexibilizou as regras de investimentos dos fundos de pensão.

Agora, eles podem destinar até 3% dos recursos em carteira para esses produtos mais agressivos. "O limite ainda é pequeno, pois 3% em cima dos 10% que podem ser remetidos para fora significa, no fim das contas, apenas 0,06% dos recursos das fundações", pondera Giufrida, da BNP Asset Management Brasil.

De fato, pelo menos no curto prazo os investimentos no exterior não serão uma estratégia central das entidades fechadas de previdência complementar, e sim uma consequência das aplicações em multimercados. "Mas se hoje o investimento global ainda é um conceito no Brasil, amanha será realidade", ressalta Giufrida. Rocca, da RiskOffice, compartilha da mesma opinião. Segundo o especialista, quanto maior a diversificação de um portfó1io de investi­mentos, maior será a eficiência das combinações. "Da mesma forma que os estrangeiros enxergam oportunidades no país, os investidores domésticos também vão ver vantagens em aplicar lá fora", afirma. "Esse processo não será uma via de mão única." Rocca faz questão de frisar que a queda continua da taxa de juro fará com que muitos fundos tenham dificuldade em alcançar até mesmo a meta atuarial dos planos. "Os fundos de pensão participaram pouco do avanço da bolsa nesses quatro últimos anos. Mas a procura por aplicações mais sofisticadas é um processo inexorável."

Com a criação da Invesiment Partners, o BNP Paribas já deixa o terreno pronto para explorar o potencial do mercado doméstico. Mas enquanto a demanda não chega, a nova estrutura para a área de gestão de recur­sos do banco francês facilitará o intercambio entre as demais assets do mundo com o Brasil. O segmento de institucionais estrangeiros é, aliás, o que mais cresce dentro da filial brasileira - 200% no primeiro semestre deste ano na comparação com o mesmo período de 2006. O montante de recursos internacionais sob gestão alcançou R$ 4, 730 bilhões em julho, de um patrimônio total de R$ 27 bilhões. Na virada de 2006 para 2007, por exemplo, foi criado o Parvest Brazil, fundo internacional dedicado somente a ações brasileiras e que já reúne cerca de US$ 394 milhões. Ele é parte do Parvest Latam, o fundo inter­nacional mais antigo do BNP Paribas, lançado em 1998 e com patrimônio atual de 80 bilhões de euros. Até o dia 24 de julho, o Parvest Brazil acumulava, no ano, rentabilidade de 38,25%.

A idéia central da Investment Partners é, portanto, reunir especialistas em determinados mercados, divididos por região. O objetivo é facilitar o acesso do investidor aos mais diversos tipos de ativos - com a garantia do grupo francês de qualidade na gestão, governança e de rigorosos controles de risco, claro. Fazem parte dessa rede, por exemplo, a empresa americana Fischer Francis Trees & Watts (FFTW), voltada para a gestão global de renda fixa para clientes institucionais, a inglesa Fauchier Partners, focada em hedge funds, e a Overlay Asset Management, com sede em Genebra, especializada no mercado de moedas. A lista inclui, ainda, gestoras do Marrocos, Índia, China, Turquia, entre outros países.

A integração das assets acabará por agilizar, também, o atendimento aos clientes do BNP Paribas. "Um fundo de pensão holandês que quiser ter uma recomendação sobre um investimento em Londres não precisará mais passar pela matriz, em Paris", exemplifica Giufrida. Não à toa, lembra o executivo, o logotipo escolhido para representar a Investment Partners é um circulo. "E quem está no centro é o cliente", acrescenta ele. A1ém disso, os gestores de uma região poderão procurar diretamente os profissionais de outras assets do grupo para trocar experiências e informações. O mundo, para o BNP Paribas, será realmente sem fronteiras.

BNP Paribas suspende resgate de três fundos e agrava crise do subprime

Para o bem ou para o mal, o mercado financeiro é global. Se por um lado a integração oferece maiores possibilidades de retorno, por outro, em tempos de crise, ajuda a intensificar o efeito domino. É justamente o que acontece, hoje, com a crise desencadeada pelo segmento de hipotecas de alto risco dos Estados Unidos e que se alastra para o resto do mundo. O nervosismo acabou batendo na porta do BNP Paribas. No dia 9 de agosto, o banco francês suspendeu os resgates de três fundos de investimento, com patrimônio total de 1,6 bilhão de euros. Estima-se que 30% dos ativos desses fundos estejam comprometidos com o mercado subprime. Segundo o comunicado emitido pela matriz, a iniciativa foi tomada em virtude da dificuldade de se avaliar de forma justa os ativos em carteira, e não por falta de dinheiro. Os fundos terão agora um prazo de 30 dias para verificar se poderão voltar a avaliar com segurança os papéis em subprime. Caso a liquidez volte antes, eles podem antecipar a liberação dos resgates. A maioria dos investido­res dos três fundos de recebíveis do BNP Paribas é de fora da Franca (63%), 35% são investidores institucionais estrangeiros e 2% institucionais franceses. Mas Marcelo Giufrida, presidente do BNP Paribas Asset Management, descarta qualquer possibilidade de contaminação no Brasil. "Não trabalhamos com esse tipo de ativo aqui", explica. "Esta tudo tranquilo."

*A RiskOffice é dirigida também por Marcelo Rabbat, consultor de investimentos especializado em risco de mercado e de crédito.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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