Fundos emprestam R$ 7,6 bilhões ao campo
14 DE SETEMBRO DE 2007
Segmento voltou a aplicar recursos nos grãos, por meio dos títulos do agronegócio
Os fundos de investimentos voltaram a aplicar recursos para o custeio e comercialização da safra de grãos. Nos últimos dois anos, o financiamento foi maior para a cana-de-açúcar, pois os grãos estavam em crise. Agora, por meio dos títulos do agronegócio, os fundos retornam ao setor — alguns, inclusive, foram criados especificamente para emprestar crédito ao campo. A estimativa é que existam R$ 7,6 bilhões aplicados com os papéis que incluem as Letras de Crédito do Agronegócio (LCA) e o Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA), desde a criação desses, em 2005. Apenas nos oito primeiros meses de 2007 os títulos somaram mais que nos dois anos anteriores: aproximadamente RS 4.35 bilhões.
“Eles estão ocupando o vácuo dos bancos e das tradings", diz Luiz Fernando Abussamra, da Agrorisk. De acordo com o especialista, os fundos estão usando três formas de financiar o setor: na compra dos insumos, no carregamento da safra e até na renegociação dos créditos vencidos. Segundo Abussamra, a perspectiva de melhora dos preços de milho e soja é que trouxe de volta os investimentos dos fundos.
"Os títulos vão ser a primeira via de financiamento do agronegócio", diz Fernando Pimentel, da Agrosecurity. Isso porque, segundo ele, os papéis estão ganhando "corpo", pois quando foram lançados o setor estava em crise e, agora, vive um outro momento. No inicio do ano, por exemplo, as LCAs tinham R$ 19,2 milhões — ontem eram R$ 976,8 milhões — e os CDCAs somavam R$ 420,6 milhões — para R$ 855.7 milhões até ontem, de acordo com a Câmara de Custódia e Liquidação (Cetip).
A Union Capital Agro foi criado recentemente especialmente para atuar com os títulos agropecuários. Moacir Teixeira, sócio do Union, explica que 60% dos recursos do fundo — estimados em R$ 530 milhões — serão aplicados no setor sucroalcooleiro e o restante, dividido entre grãos, pecuária e florestas. "Ainda não é um dinheiro barato para o produtor, mas traz vantagens como aliar o financiamento da compra dos insumos e também dos estoques, para que a safra seja comercializada no melhor momento", afirma.
Abussamra explica que os fundos têm buscado, preferencialmente, aquelas cooperativas ou produtores que fazem gestão de risco (ver matéria abaixo), pois são vistos como "um investimento mais seguro". Para ele, a grande vantagem ao produtor é o diferencial de tempo de "pagamento" alongado, que não ocorre em outras formas de financiamento. Em média, o custo da operação fica entre 10% a 12% ao ano, de acordo com o IIG Capital. O grupo tem US$ 500 milhões para investir na América Latina, em segmentos voltados à exportação. "O produtor pode negociar melhor a safra e no caso do alongamento dos débitos, recuperar o crédito com as indústrias de insumos", avalia. Para os fundos, a vantagem, de acordo com Abussamra, é poder atuar em diferentes operações. De acordo com ele, a rentabilidade tem sido superior aos financiamentos normais. Segundo dados da Union, o ganho varia, conforme o tipo de cota, entre 115% a 140% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI).
O advogado Renato Buranello, sócio do Buranello & Passos Advogados, especializado em títulos agropecuários, diz que tem recebido pelo menos uma consulta semanal sobre o tema. "Os títulos estão vivendo um momento de crescimento orgânico, com investimentos institucionais. Trata-se de um volume maior de recursos ao setor e, ao mesmo tempo mais barato”, avalia Buranello.
Gestão de risco passa a ser requisito para crédito
Depois de baques seguidos por flutuações cambiais e de preços, os produtores rurais começaram a enxergar a gestão de risco como uma ferramenta do negócio. Segundo estimativas da RiskOffice*, este mercado tem crescido a uma taxa média de 30% por semestre. Na avaliação de Luiz Fernando Abussamra, a gestão tem sido fundamental na obtenção de crédito, principalmente o "novo dinheiro", vindo de fundos.
"Há dois anos esse mercado era praticamente nulo", afirma Abussamra. De acordo com ele, a preocupação do setor vai desde os riscos financeiros — de câmbio, de taxa de juros e de preços internacionais — até a liquidez do negócio e o risco do crédito. Pelos cálculos da empresa, atualmente o segmento do campo que mais usa a gestão é o sucroalcooleiro, seguido pelo café, grãos e pecuária.
Fernando Pimentel, da Agrosecurity, diz que o crescimento deste mercado pode ser sentido, por exemplo, pelo movimento dos contratos de soja e milho negociados na Bolsa de Mercadoria e Futuros (BM&F). No caso do risco à produção, Pimentel diz que a procura por seguro ainda é incipiente, por uma oferta limitada e por uma "falta de cultura do produtor". Para ele, quando ao "hedge" de moeda; varia conforme a região — no Sul quase não existe e no Centro-Oeste ocorre na compra dos insumos.
*Especializado em gestão de risco de crédito e de mercado, Marcelo Rabbat é um dos diretores da RiskOffice. Rabbat também é sócio da PR&A Consultoria.
Autor: Assessoria de Imprensa Web
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