Faça o que eu falo… mas faça também o que faço?



É muito famoso o ditado popular “faça o que eu falo, mas não faça o que eu faço”. Representa algo que é verdade para muita gente, que tem um discurso maravilhoso, positivo, mas cujas ações são bastante diferentes do que pregam: agem com ódio, displicência, egoísmo, negativamente… Isso significa que tais pessoas são hipócritas, falam uma coisa e fazem outra? Nem sempre.

Ter o conhecimento necessariamente não significa conseguir colocá-lo em prática, vivenciá-lo. Espera-se que se alguém sabe algo útil, benéfico, deve usar isso a seu favor, sempre. Só que nós, seres humanos, não somos máquinas que reagem da mesma forma sempre que um comando é dado ou uma necessidade aparece. Muitos fatores podem fazer com que uma pessoa não consiga usar seu bom conhecimento. Medos ainda não superados, pensamentos distorcidos e/ou raivosos, falta de crédito no próprio conhecimento ou mesmo em si, achando que todas as coisas boas que sabe não podem ser aplicadas a ela, que não é uma pessoa digna de tanto, momentos de perturbação, e por aí vai. Até mesmo o fato de sermos humanos e não acertarmos sempre (nem termos a obrigação disso) nos faz agir muitas vezes em desacordo com nossos conhecimentos positivos.

Há pessoas, sim, que falam uma coisa e deliberadamente fazem outra. Há quem fale algo e algumas vezes aja de acordo com isso. E há pessoas bastante sábias, maduras, que conseguem na maioria das vezes agir de acordo com as boas palavras que dizem. O que é preciso termos em mente é que as más ações da pessoa, as ações contrárias a seus pensamentos e palavras inteligentes e positivos, não invalidam o que ela nos transmite de bom em seu discurso. Ela pode, sim, nos dizer algo muito útil e verdadeiramente construtivo, mas por diferentes razões, como já citado, não colocar em prática.

Quem é que nunca disse ou ouviu “Quem é você para me dizer isso? Você, que faz o oposto do que me fala!”. Ou “Você querendo me dar bons conselhos? Olhe primeiro para si, veja se aplica isso à sua vida!”. O que ouvimos dos outros primeiro precisa ser analisado antes de ser aceito ou recusado. Se concluirmos, numa análise centrada e isenta, que a pessoa nos passou algo bom, por que não incorporar a informação e usá-la em favor próprio ou para alguém que a necessite? Nessas horas, é absorver o que a pessoa nos transmite de útil, esquecendo um pouco suas más ações para com os demais ou para com ela mesma.

Eu mesmo já vivi situações assim. Quando adolescente, tive um professor de natação que estava acima do peso esperado para alguém que se dizia nadador e era professor de uma modalidade esportiva. Mas tudo o que ele me ensinou era verdadeiro, surtiu efeito. Eu aprendi a nadar melhor (já sabia um pouco), a ter mais resistência, ganhei velocidade, aprendi técnicas e modalidades diferentes. Como adolescente, nem pensei muito na discrepância obesidade-professor de natação, mas pensando nisso hoje, entendo que não teria nada a ver, mesmo. Ele era um bom professor e o que ensinava era verdadeiro. Outro exemplo foi quando minha mãe voltou de um médico endocrinologista especializado em dietas. “O médico é gordo!”, ela falou. “Que desanimador, será que o regime que ele me passou vai surtir efeito?” Meio descrente, ela seguiu as orientações médicas e chegou, suavemente, ao peso que queria. Ou seja, apesar de visualmente contradizer o que pregava sobre reeducação alimentar e controle do peso, o médico tinha o conhecimento correto e o transmitia.

O ideal seria que a pessoa fosse a personificação de todas as coisas boas que fala, mas não vivemos num mundo ideal nem devemos perseguir isso, pois é uma busca infrutífera que só levará a decepções. O importante é saber que boas lições e informações podem vir até das pessoas aparentemente menos indicadas para isso, pode vir de quem menos se espera e acredita. Portanto, a grande sacada é ficar de olhos, ouvidos, corações e mentes abertos para o que existe e podem nos passar de positivo. E, claro, procurar ao máximo viver de acordo com o que sabemos ser o melhor para nós, sem cobranças se vez ou outra não conseguirmos e fizermos o oposto, mas sempre tentando a maior parte do tempo agir da melhor maneira. Nunca desdenhando de ninguém e invalidando o que possivelmente é aproveitável do que nos falam, mesmo que venha da pessoa em que menos botamos fé.

Afinal, até mesmo nos charcos mais lodacentos e feios podem surgir flores.
Autor: Marcus Facciollo


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