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REVISTA INVESTIDOR INSTITUCIONAL
ABRIL DE 2008

Volatilidade nos mercados assusta os fundos de pensão que adiam, mais uma vez, as aplicações em fundos multimercados agressivos, apesar de estarem previstos na Resolução 3.456

Primeiro, um impasse em torno dos índices de refe­rência admitidos para a cobrança de taxa de perfor­mance emperrou a migração de recursos das entida­des de previdência fechada para os fundos multimer­cados agressivos - autorizada pela Resolução 3.456 do Conselho Monetário Nacional (CMN), em junho do ano passado. Resol­vida a pendenga em novembro, agora é a volatilidade dos mercados, detonada pela crise do subprime, que vem freando o movimento de diversificação do portfólio das fundações. "O momento pede uma postura mais conservadora", observa José Raphael Oliveira da Silva, diretor financeiro do Núcleos, fundo de pensão da Eletronuclear.

O Núcleos chegou a adiantar em dois meses a data da reunião de conselho para adaptar sua política de investimen­tos à 3.456. Era julho de 2007, e Silva estava bastante animado com a brecha aberta pela nova resolução. "Para bater a meta atuarial, será inevitável buscar mais risco", declarou ele, na ocasião. A possibilidade de alocação nesses multimer­cados "sangue-puro" era, de fato, uma antiga reivindicação do mercado. Mas o estouro da bolha imobiliária deixou os dirigentes dos fundos de pensão em estado de alerta. O sinal amarelo foi aceso ainda no terceiro trimestre. "Desde então, estamos apenas acompanhando a indústria" diz, hoje, um desconfiado Silva. "Não fizemos nenhum aporte."

Tamanho receio tem lá suas justificativas. A média ponderada de rentabilidade dos hedge funds não é das mais estimulantes. De acordo com o índice de fundos multimercados elaborado pela consultoria RiskOffice*, o retomo da categoria no segundo semestre do ano passado ficou em 3,25%, equivalente a 59% do CDI. "Não cobre o mínimo atuarial da fundação, que é de INPC mais 6%", assinala Silva O quadro era bem diferente no primeiro semestre de 2007, quando os multimercados apresen­taram uma valorização média de 7,77%, ante 6% do CDI. "Naquela ocasião, a perspectiva era de queda da Selic e as fundações estavam encorajadas a assumir um pouco mais de risco", recorda-se Silva. Atualmente, é a cautela que dá o tom na condução dos investimentos. "Se no próximo semestre o cenário ficar mais claro, talvez comecemos a fazer alguns aportes", revela o diretor. A política de investimentos do Núcleos permite direcionar até 2,5% do patrimônio para esses fundos.

A mudança de panorama "foi um balde de água fria que arrefeceu o ânimo não só das fundações como também das gestoras de recursos. "O mercado esperava uma nova onda de aportes em multimercados, mas o que veio, até agora, foi uma marola", avalia Alexandre Zákia diretor de investimentos insti­tucionais do Itaú. Na prática, aliás, o que Zákia tem observado é uma migração maior de recursos alocados em hedge funds para investimentos conservadores. "Há uma reversão de tendência", constata. Dentre as fundações que já contam com uma política de investimentos que permite a aplicação nesses multimercados arrojados, são raras, segundo ele, as que estão comprando cotas. E ainda existe um grupo de entidades de previdência fechada que sequer cogitou a possibilidade nas reuniões de conselho. "Esta­mos, ainda no início de um longo processo."

A relutância dos fundos de pensão em apimentar seus inves­timentos se deve também, em boa parte, à taxa básica de juro brasileira, que ainda se encontra num patamar bastante confor­tável. A expectativa de que o Copom possa vir a elevar a Selic na próxima reunião reforça essa acomodação. "Vamos escolher o melhor momento para entrar nos multimercados", avisa Mário Ribeiro, diretor executivo da Fundação Promon. Ribeiro até acredita que o limite de 3% do patrimônio dos fundos de pensão para a aplicação em multimercados seja conservador. "Ainda que o resultado do investimento fosse negativo, o impacto total no plano é pequeno", ressalva. Ele prefere, porém, esperar por uma trégua da volatilidade antes de diver­sificar o portfólio, até porque a fundação passa, no momento, por uma segmentação dos ativos de seus dois planos - um de contribuição definida e outro de benefício definido. "Se o mercado estivesse bem, poderíamos inclusive acelerar essa reestruturação. Mas como ocorre o con­trário, preferimos aguardar que a situação se acalme."

Num horizonte mais distante, no entan­to, é praticamente inevitável que as fundações tenham de recorrer à renda variável para fazer frente às obrigações atuariais. "Além disso, tudo indica que os gestores terão de conviver com o fator volatilidade em espaços de tempo mais curtos", acrescenta Carlos Massaru Takahashi, gerente de distribuição de produtos da BB DTVM. "As oscilações podem até assustar, num primeiro momento, mas trazem também boas oportunidades de ganho", ressalta ele. De olho nessa demanda potencial, a BB DTVM está ampliando sua área de análise fundamentalista, de 12 para 29 pessoas. Tam­bém lançou, recentemente, dois fundos multimercados.

Se a busca por risco é um caminho cheio de obstáculos, o percurso, porém, não tem volta. Muitos fundos de pensão não aderi­ram aos multimercados arrojados, mas estão em vias de. O primeiro passo, nesse sentido, é acompanhar a indústria - e isso já está sendo feito. Nesse processo de seleção natural, as fundações devem recorrer a gestores que tenham, no mínimo, um histórico consistente para apresentar. "As entidades já olham para outros ativos que não sejam títulos públicos e querem, antes de tudo, conhecer bem o gestor", diz Takahashi. E quando os fundos de pensão começa­rem o exercício de separar o joio do trigo, é nesse segundo grupo que a asset do Banco do Brasil quer figurar.

Funprev que contas no azul

A Fundação de Previdência dos Servidores Públicos Municipais Efetivos de Bauru (Funprev) anunciou, em março, que vai abrir processo de licitação para vender sua folha de pagamento de benefícios a uma instituição bancária. A fundação quer aproveitar a possibilidade que será extinta a partir de 2012, quando, por determinação da Resolução 3.424/2006 do Banco Central, os servidores poderão escolher em que banco vão querer receber seus benefícios. Segundo o presidente da Funprev, Gilson Gimenes Campos, os pagamentos são feitos, hoje, por quatro bancos (Banco do Brasil, Banespa, Caixa

Federal e Caixa Estadual). Todos, inclusive, já manifestaram informalmente o interesse de arrematar a folha de pagamento de R$ 2,5 milhões.

A previsão é que o edital seja publicado ainda este mês, para que aperto de mão entre instituto e banco seja dado até o meio do ano. A fundação calcula que vai arrecadar, no mínimo, R$ 3,5 milhões com a venda. O montante será dividido em 2 fatias: cerca de R$ 800 mil será destinado à construção de uma sede e a outra a outra parte vai para o patrimônio de R$ 127 milhões da Funprev. Isso ajudará a diminuir o desequilíbrio atuarial da fundação, de R$ 98 mil por mês, que, entre outros motivos, foi causado pela incorporação de 1.100 servidores do Poder Executivo, no ano passado, sem o aporte necessário de R$ 1,3 milhão da prefeitura.

“Estamos negociando com o prefeito para que esse aporte seja feito, pois sem isso não conseguiremos obter o Certificado de Regularidade Previdenciária (CRP)", lembra o presidente. O município está sem o documento que garante o direito às transferências voluntárias de recursos da União desde junho de 2004. Sem o CRP, a Funprev também não pode receber os R$ 4 milhões de compensação previdenciária já contabilizados pelo Mi­nistério da Previdência.

Criada em 2002, a fundação começou a constituir seu patrimônio em 2004, quando a arrecadação da Funprev era maior que a folha de benefícios (a entidade tinha

apenas 400 inativos). "A sobra de receita, de cerca de R$ 1 milhão por mês, permitia que a fundação fizesse aplicações", conta Campos. No ano passado, o patrimônio cresceu substancialmente, passando de R$ 98 milhões no início de 2007 para os atuais R$ 127 milhões. O impulso teve como fatores o aumento da alíquota pa­tronal, de 14% para 22%, e do servidor, de 8% para 11 % no ano passado; e o início do pagamento dos repasses não realizados pela prefeitura, entre 1993 e 2004, que somam R$ 80 milhões a serem pagos em 240 parcelas mensais de R$ 840 mil. Campos contabiliza, ainda, a rentabilida­de dos investimentos: os 90% em renda fixa renderam 11,5% no ano passado e os 10% em renda variável tiveram ganhos de 23% de maio a dezembro de 2007. A Funprev começou a investir em fundos de ações em maio último, de olho na boa performance da bolsa. Contudo, com a volatilidade que atingiu os mercados acio­nários a partir do segundo semestre de 2007, a postura passou a ser de cautela.

A fundação estuda, agora, a possibilidade de investir em Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios (Fides). "É uma boa saída diante da rentabilidade que vem apresentando a renda fixa", avalia o presidente da fundação, que pode aplicar até 15% nesses fundos de recebíveis, conforme prevê a política de investimentos
elaborada este ano.

*Um dos diretores da RiskOffice é Marcelo Rabbat, consultor de investimentos especializado em riscos de crédito e de mercado. Rabbat também é sócio da PR&A.
Autor: Assessoria de Imprensa Web


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