A Dança no Amazonas a partir de um contexto histórico: O século XX e o avanço dessa expressão artística cultural.



Professor Rodrigo B. Froés

Resumo – Analisar de Forma histórica o avanço da dança no estado do Amazonas apontando suas perspectivas, características e realidade no contexto do final do século XX.

Palavras - chave: Dança, Amazonas, História.

Introdução

Analisar a História da dança era um desejo antigo, de um profundo admirador dessa arte, mas que não tem a menor desenvoltura para praticar, no entanto, pesquisando essa raiz cultural do povo amazônico pretendo dar minha colaboração para a maior difusão de nossa realidade muito rica, com grupos que se dedicam para aperfeiçoar e aprimorar seus passos, uma arte cada vez mais profissional, com festivais importantes, um “mundo” cheio de curiosidades e peculiaridades que buscarei narrar, um “mundo” musical e corporal, com ritmo e leveza, com luxo e simplicidade, mas cheio de História. A Dança no Amazonas.

1.A dança no século XX

Analisando a raiz da dança no inicio do século XX notamos como afirma GARAUDY:
"Isto não implica um repúdio total da dança clássica: o aprendizado do balé em si não era equivocado, mas imcompleto, porque baseado unilateralmente no trabalho das pernas e, sobretudo, inadequado às exigências de nossa época." (Garaudy, 1980:97),
Portanto, a virado do século inaugura uma nova forma de dançar,
"fazer gestos naturais, andar, correr, saltar, mover seus braços naturalmente belos, reencontrar o ritmo dos movimentos inatos do homem, perdidos há anos, ‘escutar as pulsações da terra’, obedecer à ‘lei da gravitação’, feita de atrações e repulsas, de atrações e resistências, consequentemente encontrar uma ligação lógica, onde o movimento não pára, mas se transforma em outro, respirar naturalmente, eis o seu método." (Bourcier, 2001:248)
A dança ganha uma nova face, se remodela, e como um movimento corporal se recria um grande nome dessa fase da dança surge nas Américas, no início do século XX, época de revoluções, guerras e desigualdades, Isadora Duncan (1877-1927) com sua dança engajada, exaltada de criação e liberdade. Cansada da linguagem limitadora do balé clássico, Isadora, defensora ardente do espírito poético, sugere uma dança em total harmonia com as emoções e a natureza.
Isadora nos chama mais atenção, pois consegue visualizar a ligação da dança com a história do povo, sua herança, os temas de suas danças se inspiravam na contemplação da natureza e seus modelos estéticos eram os da Grécia Clássica. Suas vestimentas (e de seus alunos) eram túnicas leves e pés descalços, que foram uma nova mensagem para a Europa em sua estadia em Londres e Rússia e suas turnês pela Alemanha e Paris, além de sua peregrinação pela Grécia (sua grande influência), entre outros. Enfim, Isadora marcou com brilho o nascimento de uma nova dança frente às efervescências das correntes filosóficas que desde o final do século XIX questionavam o sentido da vida, da religião e da ciência com Schopenhauer e Nietzsche .
Assim, esta nova dança vem como expressão de uma interioridade, representação ou ilustração de um fato social: o corpo é capaz de mostrar absolutamente tudo o que pode sentir o homem, o corpo revela o que está ocultado e responde às pulsõs emocionais e físicas.
"A arte contemporânea não é uma arte cujas características possam ser apontadas com facilidade porque há uma imensa variedade de estilos, permeada por uma interdisciplinaridade evidente, inclusive emprestando elementos de áreas não artísticas. Podem interagir hoje na feitura de uma obra artística técnicas diversas e díspares, ou elementos de artes plásticas, teatro, cinema, matemática, literatura, engenharia, física, dança, enfim, conhecimentos das mais variadas esferas." (RODRIGUES, 2000:123)
A dança chegou, no final do séc. XX, a um local de pesquisa e ao mesmo tempo de libertação, de revolução estética e ao mesmo tempo ética.

2. A Dança no Brasil

No Brasil são comuns de serem encontradas as Danças religiosas e sagradas, dramáticas (encenadas ou representadas com algum enredo), guerreiras, fúnebres, medicinais, mágicas, de colheita (após uma boa colheita, forma-se um bailado), festivas e as puramente recreativas, segundo os viajantes que passaram pelos rios da Amazônia no final do século XIX era um costume notar os índios se preparando para as grandes batalhas com pinturas no corpo e danças, que separavam homens e mulheres, e também nos dias festivos que comemoravam ao sol ou a chuva os indígenas se decoravam de adereços para cantar e dançar.
O folclore brasileiro contém ricas e variadas danças encenadas ou representadas com algum enredo. Podemos destacar as de origem indígena: Caboclinhos ou cabocolinhos / Caiapós / Guerreiros / Cateretê e Cururu (em Minas Gerais, Goiás e São Paulo, onde a influência indígena foi marcante).
No entanto, a dança no Brasil também apresenta outras raízes, entre elas às de origem africana: Maracatu / Congo ou congada / Taieira / Quilombo.
E ainda de origem portuguesa: Bumba-meu-boi, principalmente no Maranhão e Piauí. Recebe diversos nomes, conforme a região Boi-bumbá, Boi-mamão, Boizinho, Boi de reis / Folias de Reis / Cordão de bichos / Cheganças e Pastoris (no Nordeste) / Chimarrita e Fandango (no Rio Grande do Sul).
Podemos destacar ainda as danças árabes advinda com os imigrantes que fugiam das grandes guerras, que traziam como legado para a nova terra sua culinária, suas vestimentas e sua cultura entre as quais a dança.
Fato esse que impulsionou a criação de muitos grupos de danças árabes no Brasil e encontrado representantes no Amazonas que mesmo não tendo familiares árabes, se dedicaram ao estudo da cultura e da dança desse povo criando coreografias que são verdadeiros espetáculos atualmente nos festivais pela cidade de Manaus, principalmente, o Festival Folclórico realizado na tradicional bola da Suframa, o também tradicional Festival Marqueziano e o encontro de danças do Beco do Macedo que reuni as melhores danças internacionais do Estado.

3 A Amazônia, a mulher e a dança

O alvorecer do século XIX encontra uma Amazônia um tanto diferente daquela pintada pelos primeiros expedicionários dos séculos XVI e XVII. Enquanto construção do Ocidente, a Amazônia tradicionalmente teve sua imagem associada a exotismo e exuberância; três séculos de colonização, entretanto, se não haviam sido suficientes para sua desmistificação, foram o bastante para que novos processos se desenvolvessem sobre o que restava do modo de viver de seus habitantes originais. No século XIX, várias das populações amazônicas já haviam sido destruídas social e fisicamente, e as que resistiram encontraram estratégias de convivência com o elemento 'branco', formando uma sociedade marcada pela diversidade de culturas e de cores de ritmos e danças.
As exóticas danças indígenas com suas simbologias sediam espaço para as danças do colonizador, com longos vestidos, suavidade e de ritmo delicado, diferentemente da batida forte dos tambores e instrumentos indígenas que resistiam floresta adentro com suas tradições, os que não conseguiam fugir era submetidos a cultura do colono como descreve a autora Elizabeth Mais adiante, na visita a Maués, no Amazonas, Elizabeth afirma que esta seria uma localidade de futuro, dado o "elevado nível moral de sua população" (id. ibid., p. 295). Uma das coisas que mais chama a atenção de Elizabeth durante seu encontro com os índios mundurucus, é o fato de estes encontrarem-se "decentemente vestidos" (id. ibid., p. 298).
Historicamente nos diz a autora Elizabeth percebeu o elemento feminino tomando a frente na direção das famílias e empreendimentos locais. A ausência dos homens em função da Guerra do Paraguai (1864-1870) obrigara as mulheres a ocupar posições de comando tradicionalmente próprias aos homens, como a administração dos negócios e das fazendas; de fato, as mulheres amazônicas reconhecidamente gozavam de uma liberdade impensada para as de outras regiões do país, fato já comprovado em trabalhos como o de Costa (2000), o que também influencia na maior liberdade cultural amazônica.
Em uma época em que o controle dos corpos e da intimidade era regra, na Amazônia as índias e mestiças aparecem no relato dos Agassiz como portadoras de um grau diferenciado de autonomia, trabalhando na roça sozinhas durante o dia, deslocando-se de canoa pelos igarapés, movimentando-se e trabalhando sem a supervisão dos homens, cantando alegremente movimentando seus corpos, o viajante com seu relato reforça a autonomia das mulheres amazônicas muito criticados por alguns autores que as colocavam em desvantagem nas relações comerciais pelo fato de serem mulheres, sendo que nesse período ainda tinha muito a presença no exotismo e erotismo acerca da mulher amazônica.
O encanto de Elizabeth pelas índias fica bem claro na descrição entusiasmada que faz da despedida da comitiva do presidente da província, quando as índias tomam os remos da embarcação onde estavam, no meio do rio, e se aproximam do barco da comitiva cantando; na mesma noite, quando as índias improvisam uma quadrilha na relva, Elizabeth atribui a vivacidade do modo como era executada a dança no local aos traços da cultura indígena, o que na sua opinião fazia com que a mesma perdesse o 'caráter artificial' que a caracterizava nas grandes cidades, podemos então constatar que a forma de dançar da mulher amazônica era enérgica diferentemente das danças frias sulistas de origem européia, afirmando que a origem da dança no Amazonas mesmo com toda a miscigenação era indígena sofrendo sim modificações e fusões com os imigrantes que chegavam.

Referenciais bibliográficos

Agassiz, Elizabeth Cary e Agassiz, Louis. Viagem ao Brasil: 1865-1866. Tradução e notas de Edgar Süssekind de Mendonça. Brasília, Senado Federal, Conselho Editorial. 2000
BOURCIER, Paul. História da Dança no Ocidente. Tradução: Marina Appenzeller. – 2ª edição – São Paulo: Martins Fontes, 2001.
DUNCAN, Isadora. Isadora – Fragmentos Autobiográficos. Porto Alegre: L&PM Editores, 1985. E GARAUDY, Roger. Dançar a Vida. Prefácio de Maurice Béjart; Tradução de Antonio Guimarães Filho e Glória Mariani. – Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980.
NIETZSCHE, Friedrich. Além do bem e do mal – Prelúdio de uma filosofia do futuro. Texto integral. Editora Escala – SP.
Temas em Contemporaneidade, imaginário e teatralidade / organizado por Armindo Bião, Antonia Pereira, Luiz Cláudio Cajaíba, Renata Pitombo. In RODRIGUES, Eliana. Dança e Pós-modernidade. São Paulo: Annablume: Salvador: JIPE – CIT, 2000.
Autor: Rodrigo Froes


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