Mãe, Irmã ou Heroina



A vontade de estar perto, de sorrir, de dar uma boa gargalhada já não é fato, é uma necessidade. Desde pequeno ele sentia sua presença muito forte em sua vida, Dona Terezinha sua mamãe, costumava lhe dizer que ela era sua segunda mãe, e de fato era!
Quando você era bebê, era ela que cuidava de você, até trocava suas fraldas! Ele achava estranho sua mãe falar assim.
Como ela pode ser minha mãe? Se mamãe fala que é minha mãe, e ao mesmo tempo fala que minha irmã é minha mãe! A cabeça do pequeno Luciano girava, rodava a procura de uma solução para o fato.
Mas foi assim que ele cresceu, admirando aquela figura que hora era mãe, hora irmã e até mesmo heroína, pois ela o salvou várias vezes contra as corretivas de sua mãe, como em um dia em que eles disputavam à nova integrante da casa, a boneca de pano Carmelita, ele queria pegá-la, pois nunca tinha visto tal coisa, e ela negará o pedido.
Foi ai que por um impulso deu um soco no vidro da janela, que por sorte ou milagre não teve nem um arranhão, mas ela que estava do outro lado da janela ficou toda cortada. Ele teve medo, pena e dó, ao cair da tarde sua mãe chegou, ao ver o estrago quis saber por qual motivo aquilo acontecera, revelado, logo a sinta de couro do patriarca apareceu na mão da mãe enfurecida, e ela, a irmã se jogou na frente do amedrontado menino o protegendo da surra que estava a caminho, os dois apanharam.
Em uma noite de São João, na casa da vizinha, uma festa acontecia com tudo que a data dava direito, ele como era pequeno não fora, pois dormia cedo e não acompanhava a energia das crianças maiores. Ele despertou e lá no fundo ouvia a música da vinheta do “super cine” o coração lhe dizia que algo tinha acontecido. Do quarto escuro foi para a sala, perguntou para o irmão mais velho que lia sue gibi deitado no sofá com a Tv ligada. “Cadê mamãe”? “Foi levar Geovana no hospital, ela caiu e machucou o braço”. Responde ele como se nada tivesse acontecido. Ao final do dia chega sua mãe, “Nika está no hospital”, é assim que elas a chamam! “Ela machucou o braço”, disse a mãe arrasada. Mesmo se explicassem o que realmente tinha acontecido ele não iria entender.
Depois de dias e dias, sua mãe o levou para revela. A visão nunca mais saiu de sua mente, ela sentada ha mesa de jantar com a mão erguida, Vermelho por causa do medicamento, inchado devido à gravidade do ferimento, na verdade naquela noite fatídica um foguete segurado de forma errada por causa de uma brincadeira de criança quase levou todo o seu braço, por milagre somente um dedo de sua mão foi retirado, então tudo começa a voltar ao normal.


Eles brincavam, brigavam, e o tempo passava, o pequeno Lu que era o caçula da família já não era tão pequeno, pois crescia rápido, sempre foi o maior dentre os primos, os colegas de escola, sua consciência também não se limitava mais a visão que tinha antes. Já sabia que sua segunda mãe era na verdade sua irmã.
A cumplicidade já não era a mesma, a vida mudara, as dificuldades chegaram, com isso amadureceram rápido para a idade, eles já sabiam distinguir os problemas, as vitórias, os obstáculos, Pessoas, lugares, TV, rádio, tudo ia mostrando fatos novos, vida além do circulo familiar. Tudo era novo, veio à adolescência a maioridade de sua irmã, o trabalho e a despedida, ela partiu, fora morar longe, com isso a falta, o vazio ganhou um lugar que por ele jamais teria se preenchido. Um dia ela falou que estaria indo passar uma temporada na França, e lá se foi, quando voltou, não era nem de longe a pessoa que se foi, magra, abatida, pois passara um bom tempo longe dos seus. A alegria voltou ao coração do garoto.
“Hummm tem goiaba”? Ela perguntou, “Tem sim, o chão está forrado”, ele respondeu! “Um suco bem gelado e doce cairia muito bem agora”! Então lá se foi ele em plena madrugada, subir na goiabeira, a vizinha do alto do seu sobrado acendera a luz para observar o que acontecia. “É você Lú”? “Sim sou eu”! “Ta ficando doido é? Há essa hora arrancando goiaba”? (risos).
Seu relógio biológico ainda estava funcionando como o dos europeus, e ele a acompanhava, passava noites a fora conversando e assistindo TV, fazendo até bolo, o sono chegava por volta das cinco da manhã, então iam dormir, foram um ou duas semanas assim, pura diversão.
Ela começou a ficar doente, febril e ele preocupado, mas nunca poderia imaginar que fosse tão grave, até que foram ao médio, ele disse. “Santa casa agora”! Era uma endocardite, uma espécie de fungo que aloja na válvula mitral do coração, veio lá da França em seu órgão. Foram quase quarenta dias de internação, e ele estava lá, incansavelmente todos os dias na hora da visita, como todo brasileiro, achou um jeitinho de entrar no hospital a qualquer dia e hora, assim seu coração ficava mais tranqüilo.
O pior só não aconteceu por que não era à hora. Tratamento feito problema solucionado? Ainda não. Mas as coisas pareciam ter voltado ao normal.
Com o passar do tempo o já grande Lú, assim chamado por todos os seus familiares fora embora também, a distância cresceu ainda mais, os encontros cada vez mais raros, aconteciam uma vez ou outra nos finais de ano, onde todos procuram se reencontrar. Até que um dia o telefone toca, era ela avisando que estava indo para a cidade do interior minério, pois estava com um problema de saúde. E lá se foi ele da capital brasileira para ter com os seus nesse momento difícil. “Doutor o que pode ser”? Perguntou ele! “Parece-me uma trombose, mas vamos esperar os resultados dos exames”! Batata era mesmo a tal trombose. “Vamos tentar um procedimento, se não obtivermos sucesso nesse tentaremos outro, se esse não funcionar, teremos que amputar sua perna”! O chão sumiu e ficou somente o espaço vazio debaixo dos seus pés! Um filme veio e o fez voltar no tempo, mas a fé e coragem o refizeram.
Primeiro procedimento feito. Sucesso, saiu tudo perfeito. E lá foram eles continuar suas vidas, ela no nordeste e ele na centro oeste.
Tempos depois chega à notícia, ela não está bem de saúde, e a santa casa a recebe mais uma vez, todos ali já a conhecem, é muito bem quista por todos, e ele mais uma vez sai em disparada para dar a força de que ela precisa para suportar mais uma fase de sua vida. Dessa vez á troca da sua válvula doente seria feita, pois resistiu bravamente ao período a que foi lhe dado, agora não tem mais jeito, a cirurgia teria que acontecer.
Lá estava ela no seu leito, ele perguntou! “O que você quer comer”? Ela respondeu, e se foi ele providenciar o pedido, quando voltou, a cama vazia jogou a gravidade do problema em sua vista. Em disparada saiu a perguntar na enfermaria onde estava sua irmã. “Ela já subiu para a sala de cirurgia”! Respondeu a enfermeira. O coração palpitou, e o chão mais uma vez se desfez sob seus pés! Seis horas depois em frente à sala de cirurgia veio à notícia.
Está tudo bem! Ela foi valente, agora vá para casa, você só vai vê-la amanhã no horário de visitas, ele não queria ir, mas era preciso! Logo saiu do hospital, e mais um mês de cuidados incessantes para sua recuperação plena os deixaram mais unidos que nunca!
Hoje a distância ainda é muito grande e a saudade mais ainda. A troca de e-mails é constante, ás vezes eles se falam, mas o MSN não proporciona o olho no olho, o sorriso e a boa gargalhada, o poder de sentir a força um do outro. A vida segue o seu curso e estamos felizes. Essa história ainda não acabou, em dois mil e dez ela terá que passar por outra cirurgia.
Autor: Luciano Rodrigues Nunes


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