A Péssima imagem do Brasil no mundo



Autores: Marçal Rogério Rizzo* e Tadeu Topam Iwata**

Jamais se viu tamanha euforia em comemorações como às que assistimos ao anúncio do Rio de Janeiro ser eleito como sede dos Jogos Olímpicos de 2016. Dias depois, em um programa de TV, o ator americano Robin Williams disse que a disputa pela escolha da sede olímpica não foi justa: “o Brasil mandou 50 strippers e meio quilo de pó” e, só por isso, foi escolhido.

Tamanha piada de mau gosto vem sendo feita é justificada em termos, em razão da péssima imagem que o Rio de Janeiro passa para o mundo, aliás, que o próprio Brasil reluz fora das fronteiras. Brasileiro lá fora tem fama de vagabundo, de ladrão, de corrupto, de desonesto, de traficante entre outros atributos. Políticos, então, nem se fala! As mulheres são vistas como pessoas de vida fácil, se prostituindo por alguns trocados. Também, pudera! Só mostram mulatas sambando com roupas minúsculas. Boa parte do nosso cinema apresenta cenas de gente cheirando, fumando, roubando, traficando, recheadas de sexo fácil. Dessa forma, como iremos ser bem vistos?

Matérias jornalísticas apresentam a invasão do Morro dos Macacos por traficantes, incluindo a derrubada de um helicóptero da Polícia Militar e o caso dos dois policiais que, além de deixarem que os assassinos do coordenador da ONG AfroReggae ficassem soltos, ainda “confiscaram” para si os bens que haviam sido roubados. Isso ocorreu na “Cidade Maravilhosa”, cenário de boa parte das novelas da Rede Globo de Televisão, nos dias 17 e 18 de outubro de 2009.

Na verdade, é apenas uma pequena mostra do que realmente vem acontecendo no país. Acontecimentos como estes são noticiados diariamente em nossos telejornais por todo o Brasil, sem que as autoridades competentes tomem alguma atitude para resolver esta situação. Infelizmente, poucos políticos voltam as atenções para as raízes do problema, mas ficar remediando com o discurso de “mais presídio”, “mais polícia” e outros blá blá blás...

O mesmo Rio, que será uma das sedes da Copa do Mundo de Futebol em 2014 e a sede das Olimpíadas de 2016, é uma das áreas urbanas que sofrem mais com as ações dos traficantes e dos maus policiais do que de grupos terroristas em países do mundo. É uma constante “guerra civil” não declarada.

Os policiais desunidos, mal remunerados, com equipamentos obsoletos e inferiores aos usados pelos traficantes, são apenas parte do problema que envolve toda a segurança pública nacional. A corrupção e a bandidagem têm atingido as corporações de um modo geral. Aqui vale a pergunta: quem realmente são os mocinhos ou os bandidos? As atitudes de parte dessa polícia põe a credibilidade e a confiança que a população teria nos “homens da lei”.

O cenário é trágico. É gente da comunidade matando gente da comunidade, policial matando gente da comunidade e gente da comunidade matando policial, enfim, gente matando e morrendo a toda hora.

Com isso, ficaremos ainda mais malvistos diante dos olhos do mundo. A concepção de “Cidade Maravilhosa” está cada dia mais manchado.

Fala-se muito de uma reforma no Código Penal Brasileiro, de mudanças do comportamento em relação ao sistema prisional para os traficantes e de muitas outras medidas visando à melhora da conjuntura de violência que envolve o Brasil. Porém, apesar de necessárias, estas medidas não terão muito efeito, se não atingirem a raiz do problema.

A elite brasileira põe toda a culpa nos traficantes das favelas, mas não abre mão de suas festinhas regadas com “cigarrinhos” e “cheiradinhas”. O discurso é esdrúxulo, já que muitas dessas festinhas são frequentadas por jornalistas, artistas, políticos e os filhinhos da classe média e da elite desse país. Usuários de drogas alimentam a violência e sustentam o tráfico. A lei vigente para os usuários de drogas tornou-se mais branda e, às vezes, trata os mesmos como “doentes”, “coitadinhos” e “vítimas” do desmoronamento familiar. Se não houver o consumo, não haverá o traficante.

Recentemente, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso defendeu a tese de que não se pode tratar usuários de drogas como criminosos, mas, sim, como caso de saúde pública. Quando foi presidente, não aplicou os recursos da CPMF na saúde e, agora que está apagado, quer reaparecer na mídia e sugere ações que deveriam ter sido feitas por seu governo. Vale lembrar que o Estado de São Paulo, governado pelo seu amigo, o tucano Serra, investe míseros R$ 60 mil por ano na recuperação de usuários de drogas. Disse ainda que, "imaginar um mundo sem droga, é um objetivo difícil de ser alcançado, é como imaginar um mundo sem sexo".

É triste, mas o ex-presidente está fora de foco, porém ele não é exceção! Nesse processo de melhora da imagem do país e da qualidade de vida do cidadão, seria natural e desejável investir em educação, em segurança pública, em melhoria de salários e condições de trabalho para os policiais, em um sistema prisional adequado, entre tantas outras ações, aliadas às leis que inibissem o uso de drogas, sejam elas lúcidas ou ilícitas.

Não somos os donos da verdade, mas acreditamos que os problemas podem ser efetivamente resolvidos, basta ter o foco adequado e vontade política! Quem sabe se dermos conta de mostrar que o Brasil é um país civilizado, a nossa imagem diante do mundo melhore e o ator Robin Williams diga que, por justiça, o Brasil foi sede olímpica.

SOBRE OS AUTORES:

*Marçal Rogério Rizzo: Economista, Professor Assistente da UFMS, Campus de Três Lagoas (MS).
**Tadeu Topam Iwata: Acadêmico do último ano de Administração da UFMS, Campus de Três Lagoas (MS).


Artigo de opinão foi publicado no jornal Folha do Povo. Campo Grande - Capital do Mato Grosso do Sul - Ano XII - N. 3.583 - p. A2 - Edição de 23 de fevereiro de 2010.

Artigo publicado na homepage Campo Grande News -
Seção: TENDÊNCIAS/DEBATES - Segunda-feira, 22 de Fevereiro de 2010 as 10:45.
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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