Pelo penta e títulos melhores



Autores: Marçal Rogério Rizzo e Leo Huber(*)

Se a Seleção do Felipão trouxer o tão sonhado “caneco” isso será muito bom, mas a vida continuará a mesma. Nada mudará a vida de milhões de brasileiros que aqui vivem, trabalham e criam seus filhos. É inegável que por alguns dias a maioria de nós ficará muito feliz. Isso, porém, será passageiro. Mais difícil que ganhar o penta está nos “campeonatos” que as áreas sociais e econômicas nos reservam. Os números, índices e estudos evidenciam coisas que nos entristecem. Evidenciam que os nossos governantes estão entre as piores seleções do planeta. Isso é péssimo. Esses maus jogadores influenciam o dia-a-dia de milhões de brasileiros. Jogando mal assim, estamos levando vários “canecos” indesejados, em diferentes modalidades.

Vejamos: Qual país desejaria ganhar o título de mais desigual do mundo? Ou então o campeonato do país com mais desempregados no mundo?

Que tal campeão mundial dos juros altos? Ou ainda de ter a cidade proporcionalmente mais violenta do mundo? Se não fosse trágico seria cômico, mas o Brasil parece um carro desgovernado. Até o motorista já pulou para o banco de trás. Estamos realmente próximos de ganhar títulos de campeonatos perversos. O Brasil é o País com maior desigualdade social do mundo.

Somos, também, o país campeão mundial dos juros altos. O deputado federal Delfim Neto costuma brincar que o governo do Fernando Henrique conseguiu provar que não existem alienígenas ou ETs no mundo, pois se existissem, estariam aplicando seu dinheiro aqui. Essa política de juros altos é uma rajada de tiros nos pés. Só serviu para aumentar a dívida do próprio governo e quebrar o empresariado. Quem ganha mesmo é somente o capital financeiro nacional e internacional. Na questão da violência, a mídia já se referiu a Campinas como próxima de ganhar mais um título. No momento, é a segunda cidade do mundo em número de homicídios proporcionais ao número de habitantes. Campinas é apenas o ponto mais grave da violência que se generalizou por todo o País. Outra prova de fogo que o Brasil não passou foi no Pisa 2000. Em pesquisa realizada no decorrer do ano 2000, que avaliou a compreensão dos estudantes e sua habilidade de aplicar os conhecimentos em leitura, matemática e ciências, o Brasil infelizmente ficou em último lugar. Participaram da pesquisa 265 mil estudantes dos 28 países-membros da Organização para a Cooperação e o Desenvolvimento Econômico, que inclui somente países desenvolvidos.

O México foi o outro país latino-americano incluído, com desempenho acima do Brasil. Parece mentira, mas são poucos os brasileiros que conseguem ler e entender um livro. Transformamo-nos numa nação de jovens analfabetos funcionais. Na época do império da tecnologia e da informática isto é grave. Esta situação nos reserva, para um futuro próximo, outros títulos indesejáveis. Na área do desemprego, os números também nos dão mais um triste título. Nos últimos dias, a grande mídia divulgou um levantamento realizado pela Secretaria de Desenvolvimento, Trabalho e Solidariedade do município de São Paulo, que cruzou e analisou os dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), da Organização Internacional do Trabalho (OIT), da Comissão Econômica para a América Latina (Cepal) e do Banco Mundial (Bird). E comprovou que, em 20 anos, o Brasil, pulou da nona para a segunda posição entre os países com maior quantidade de desempregados no mundo, ficando atrás apenas da Índia. Mais um vice-campeonato para nós! Os trágicos números revelam que em 1980 havia no Brasil 964,2 mil pessoas sem emprego e em 2000, esse número saltou para 11,454 milhões, num aumento de mais de 11 vezes.

Ainda no campo do desemprego, por mais esportistas que sejamos, o Brasil (responsável por menos de 3% da população mundial) possui 7% do desemprego do mundo. O Brasil perde participação na soma do Produto Interno Bruto (PIB) dos países e dispara no ranking do desemprego mundial. E tem mais no campo do desemprego. A pesquisa mostrou que, no Brasil, a taxa de desemprego subiu de 2,2% em 1980 para 15% em 2000.

Outro dado que a pesquisa revelou é que enquanto a produção nacional foi multiplicada por 1,6 e a população por 1,4, o volume de desempregados no País subiu 11,9 vezes. Vamos lembrar que neste ano, além de poder ser pentacampeões de futebol, será preciso usar corretamente o poder do voto e apostar firme numa mudança, numa transformação. Esses jogadores que estão em campo, no comando do Brasil, se mostraram incompetentes e os títulos que conquistaram só nos envergonham.

No jogo da vida real, em que estes títulos significam a exclusão social da maioria, o importante não é só competir. Temos de ter jogadores que honrem a camisa da nação brasileira, que ganhem o jogo. Precisam entrar em campo, garantir o pão em todas as mesas de brasileiros, emprego para milhões de jovens e milhões de desempregados e segurança para toda a nação. Em time que está perdendo se mexe, e quando perde muito feio, troca-se o time. A bola está com você. Que venha o penta, mas se não vier agora, nós o conquistaremos em um futuro próximo. O que não pode deixar de vir agora é um País que garanta a cidadania de todos os brasileiros. Dias melhores para todos. A bola, ou melhor, o voto que muda está com você.

Artigo elaborado em parceria com Leo Huber: Historiador, Professor Universitário, Especialista em História do Brasil e Mestre em História Social pelo Departamento de História da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP).

Observação: artigo publucado no Jornal Diário da Região, São José do Rio Preto (SP), p.3 do primeiro caderno, edição de 26 de Junho de 2002
Autor: Marçal Rogério Rizzo


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