TERRA DE NINGUÉM



TERRA DE NINGUÉM
Marco Antônio de Figueiredo – Advogado e Articulista - [email protected]

Tenho procurado evitar fazer comentários sobre os inúmeros problemas que assolam nossa cidade nos últimos anos, mas na quinta feira, dia 18 de fevereiro, uma nota inserida na Coluna Alternativa, afirmando que, por causa do mato e desleixo com as praças e terrenos públicos, Uberaba está parecendo “uma terra de ninguém”, mexeu com meus brios, e como cidadão que sou não posso fechar os olhos, quando circunstâncias atuais me levam a fazer justamente o contrário.
Confesso que tenho andado muito pouco pela cidade, mas o suficiente para revoltar com o descaso, ao ver a imundice, a falta de administração e o caos em que ela se encontra.
Lembrando que “só não vê quem não quer”, o uberabense está tendo a oportunidade de ver, enxergar e sentir como se tivesse comido o “pão que o diabo amassou” e tendo que engolir “goela abaixo”, o poder público federal, estadual e municipal dizer que está tudo às “mil maravilhas”, enquanto temos a oportunidade de vivenciar a maior e vergonhosa letargia administrativa das últimas décadas.
Se não bastasse a milionária indústria das multas administrativas e dos radares, Uberaba se torna também a “capital de imagens e campanhas eleitoreiras antecipadas”, onde em cada espaço vago das avenidas e ruas da cidade existe um outdoor, com fotos sorridentes e implantes de cabelos, mencionando trabalhos que seriam realizados.
A afirmativa “terra de ninguém”, trouxe a lembrança do também jornalista uberabense Orlando Ferreira (1886-1957), que com seu espírito inquieto expressou suas fortes opiniões sobre o que acontecia em Uberaba, em seu livro, “Terra Madrasta”, lançado em 1928, que alem de mostrar que a cidade já enfrentava os mesmos problemas políticos hoje existentes, o escritor resume sua revolta no inicio do livro afirmando: “A ti, Uberaba, terra infeliz, desgraçada, prostituída, ofereço este meu modesto trabalho”.
Mais a frente, Orlando Ferreira retrata como se fossem nos dias de hoje, a sordidez do campo político, ao dizer: “Agora, leitor, tenha paciência: muna-se de uma quantidade boa de ácido frênico ou, na falta desse poderoso desinfetante, leve o lenço ao nariz porque, com perdão da palavra, vou tratar da celebérrima política de Uberaba.”
Realmente a Uberaba de hoje deixa margens para ser intitulada como uma “terra de ninguém”, pois se olharmos em volta veremos a não aplicação eficiente do dinheiro do contribuinte que paga IR, IPVA, IPTU, ISSQN, ICMS, taxas de iluminação pública, lixo, esgoto, etc., e ainda assim podemos ver e enxergar, sem muito esforço, que nossa cidade está uma vergonha, exalando um odor fétido do lixo e mato pelas ruas, calçadas, terrenos e praças abandonadas, servindo de abrigo a drogados e “lixões”.
Como diz a letra da musica “Terra de Ninguém”, composta por Marcos e Paulo Sérgio Valle, interpretada por Elis Regina: “... Reza uma oração, prá voltar um dia e criar coragem prá poder lutar pelo que é seu. Mas... o dia vai chegar que o mundo vai saber que não se vive sem se dar, quem trabalha é que tem direito de viver, pois a terra é de ninguém”
Autor: Marco Antônio de Figueiredo


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